Segundo
pesquisa Datafolha, recentemente divulgada, a rejeição ao Congresso Nacional
atingiu o seu maior índice da história contemporânea, com 60% dos entrevistados
considerando ruim ou péssimo o desempenho dos atuais 513 deputados federais e
81 senadores, enquanto a sua aprovação decaiu para apenas 5%, que também é o
pior número já registrado.
O
levantamento foi realizado nos dois últimos dias de novembro, pouco depois de
um mês da votação da Câmara dos Deputados que disse não à tramitação da
segunda denúncia criminal contra o presidente do país.
As
pesquisas anteriores, realizadas em dezembro de 2016
e abril de 2017, também mostraram expressiva rejeição do Congresso
pelos brasileiros, em 58%, enquanto a aprovação foi de 7%.
O
momento que mais se aproximou ao atual ocorreu nos idos de 1993, último ano da
hiperinflação e época da revelação do escândalo dos “Anões do Orçamento”,
grupo de congressistas acusados de desviar recursos públicos para os próprios
bolsos.
A
pesquisa consultou 2.765 pessoas, que opinaram pela reprovação ao trabalho dos
parlamentares federais, verificando que há segmentos com maior rejeição, a
exemplo dos mais ricos, com 74%, dos com ensino superior, com 75%, dos
eleitores do presidenciável deputado ultradireitista, 68% e dos que reprovam a
gestão do presidente da República, com 69%.
Já
a avaliação pouco menos negativa do Congresso foi observada entre aqueles com
ensino fundamental, com 52%, os de religião evangélica pentecostal, com 51%, e
os que têm o PMDB como partido de preferência, com 42%, ou os que avaliam, de
forma positiva, o governo do peemedebista, com 37%.
Com
raríssima exceção, o Congresso brasileiro teve generosa avaliação por parte das
pessoas consultadas, ante o que os parlamentares têm demonstrado do que o
Parlamento representa não para a sociedade, mas para eles próprios, a exemplo
de decisões corporativistas, protetivas e de exclusivo interesse pessoal ou
partidário, com destaque para decisões de injustificável blindagem aos
corruptos, como a mais recente relativa ao senador corruto tucano, que deveria
ter sido sumariamente afastado das funções parlamentares, diante da constatação
da quebra do decoro, à vista da robusta materialização das provas sobre os
crimes por ele praticados.
Agora,
é evidente que quem garante a existência de parlamentares de má índole no
Congresso não é ninguém senão o próprio povo, que tem sido eternamente cúmplice
com os criminosos de colarinho branco, que estão sempre sendo eleitos e
reeleitos pelo voto do povo, que reclama sem razão dos abusos, mas ele tem sua
plena parcela de culpa, pelo integral apoio a homens públicos que são
verdadeiros exemplos de indignidade, como mostra a pesquisa.
A
bem da verdade, se o resultado da pesquisa indicasse rejeição de 100%, não
seria surpresa, porque a reprovação ainda seria pouco, diante dos péssimos
exemplos de gastança (o Parlamento mais caro do mundo), desperdício, inchaço de
pessoal, inutilidade, pouca produtividade, esbanjamento do poder e da
influência que se traduzem em atendimento de objetivos pessoais, de partidos,
de corporações e outros interesses diferentes do que deveriam realmente ser, ou
seja, da exclusiva satisfação do interesse público.
Há de se
convir que parcela expressiva dos congressistas se esforça para continuar no
Parlamento, com vistas a se beneficiar da excrescência do foro privilegiado,
que tem por apanágio a blindagem da impunidade, diante da certeza de que seus
processos jamais serão julgados pelo principal órgão do Poder Judiciário, à
vista da sua contumácia inércia de não julgar, porque, até agora, depois de
quase quatro anos do início da Operação Lava-Jato, ninguém de colarinho branco,
os protegidos pelo malsinado foro, foi condenado à prisão nem obrigado a
devolver algo recebido indevidamente, por força do exercício de cargo público eletivo.
O
índice de reprovação deveria estar, se possível fosse, além de 100%, para que
os congressistas tivessem a dignidade de se autoavaliar e o povo passasse a ter
vergonha na cara para se acordar em definitivo e se conscientizar sobre a
necessidade de colocar no Congresso somente homens públicos com o caráter e a
dignidade próprias das funções desejáveis de seus lídimos representantes, com a
finalidade de defender exclusivamente seus interesses.
O
Congresso Nacional precisa ser moralizado, com urgência, tendo como parâmetros
fundamentais a extinção de benefícios e vantagens absolutamente injustificáveis,
passando a haver somente a remuneração básica para o parlamentar, como vige
para os demais servidores do Estado; a obrigatoriedade de trabalhar 40 horas
semanais; o enxugamento de pessoal, para a cota mínima necessária dos gabinetes;
a extinção de carros e motoristas oficiais; o direito a única reeleição; a
extinção do foro privilegiado para todos os cargos da República; entre outras excrescências
que não condizem com o Congresso decoroso, competente, responsável e cônscio da
sua verdadeira finalidade institucional.
Enfim, é preciso se espelhar nos Parlamentos
sérios, eficientes, dignos que realmente representam o povo no verdadeiro
sentido democrático, com a eliminação das regalias e benesses injustificáveis e
dispensáveis, por serem incompatíveis com a singeleza e a funcionalidade
próprias das nações civilizadas e desenvolvidas, política, jurídica e
democraticamente.
É
preciso se reconhecer que as nações evoluídas democraticamente primam pela
existência de pouquíssimos partidos políticos, enquanto no país tupiniquim
existem mais de 30 agremiações, que funcionam com objetivos sabidamente
escusos, interesseiros e oportunistas, sem qualquer benefício para o sistema
político, a justificar a sua existência em beneficio político-social.
Há
muita dificuldade em se justificar a existência da Câmara dos Deputados com 513
parlamentares e do Senado Federal com 81 senadores, por serem impossíveis a
harmonização e a convergência de diferentes ideologias e pensamentos, além da
imensurável quantidade de servidores, que ultrapassa de vinte mil, nas duas
Casas Legislativas, quando a redução para a metade ou um terço de congressistas
certamente haveria contribuição para suscitar inúmeros vantagens, não somente
em termos de economia, mas principalmente pela notória eficiência e produtividade
em benefício dos brasileiros.
Nos
países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos e democráticos, os
parlamentares são escolhidos pelo povo, para representá-lo e defender seus
interesses, mas, ao contrário, no país tupiniquim, os congressistas são eleitos
segundo a importância do que realmente eles representam, com muita garra, as ferrenhas bancadas
dos latifundiários ou ruralistas, dos empresários, dos bancários, dos
evangélicos, da bala ou dos militares, dos sindicalistas etc., ficando de fora,
como óbvio, a bancada do povo, que até pode ter algum representante, mas é tão
insignificante que não figura no momento de tomar partido nas decisões.
Considerado
por ruim ou péssimo por 60% das pessoas consultadas, o Congresso pode se vangloriar
por ter sido avaliado muito além do que merecia, diante de muitos fatos que,
levados na devida conta, poderiam ter contribuído para o atingimento do grau
máximo de mediocridade, apenas lembrando a reiterada rejeição às denúncias
formuladas pela Procuradoria Geral da República contra o presidente do país,
sob suspeita da pratica dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e
obstrução à Justiça.
Nessa
mesma esteira, tem-se o gravíssimo escândalo liderado pelo senador tucano
mineiro, que foi perdoado pelo Senado Federal e pelo seu Conselho de Ética, em
que pese ele ter atentado contra o decoro parlamentar, que é imperdoável,
quando se busca a moralização da administração pública.
Trata-se
de fatos de extrema gravidade que jamais teriam sido perdoados em um país com
um pouco de seriedade, civilidade e evolução, em termos jurídicos, políticos e
democráticos, diante da patente desmoralização dos princípios que norteiam as
atividades públicas.
A
pesquisa em comento tem o condão de alertar os brasileiros sobre a imperiosa
necessidade de completa assepsia, limpeza ética, no Parlamento, de modo que os
atuais congressistas, tendo demonstrado a sua índole protetora, em especial de
corruptos políticos, os chamados criminosos de colarinho branco, são indignos
de representar a vontade do povo, que certamente foi traído pela atual classe
política, que teve participação de efetiva cumplicidade com políticos
delinquentes, à vista dos eloquentes fatos acima elencados, que são
incompatíveis com o exercício dos mandatos delegados nas urnas.
Os
brasileiros anseiam por que o resultado da pesquisa em apreço sirva de lição,
para que a próxima eleição consiga eleger homens públicos com o caráter e a grandeza
da formação moral capazes de respeitar a integridade da vontade popular, no
sentido de que os péssimos políticos sejam punidos e rechaçados, em definitivo,
da vida pública, para o bem da nação, por meio do fortalecimento da dignidade
que precisa imperar na administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de dezembro de 2017
Nenhum comentário:
Postar um comentário