segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A desaprovação do Congresso Nacional

Segundo pesquisa Datafolha, recentemente divulgada, a rejeição ao Congresso Nacional atingiu o seu maior índice da história contemporânea, com 60% dos entrevistados considerando ruim ou péssimo o desempenho dos atuais 513 deputados federais e 81 senadores, enquanto a sua aprovação decaiu para apenas 5%, que também é o pior número já registrado.
O levantamento foi realizado nos dois últimos dias de novembro, pouco depois de um mês da votação da Câmara dos Deputados que disse não à tramitação da segunda denúncia criminal contra o presidente do país.
As pesquisas anteriores, realizadas em dezembro de 2016 e abril de 2017, também mostraram expressiva rejeição do Congresso pelos brasileiros, em 58%, enquanto a aprovação foi de 7%.
O momento que mais se aproximou ao atual ocorreu nos idos de 1993, último ano da hiperinflação e época da revelação do escândalo dos “Anões do Orçamento”, grupo de congressistas acusados de desviar recursos públicos para os próprios bolsos.
A pesquisa consultou 2.765 pessoas, que opinaram pela reprovação ao trabalho dos parlamentares federais, verificando que há segmentos com maior rejeição, a exemplo dos mais ricos, com 74%, dos com ensino superior, com 75%, dos eleitores do presidenciável deputado ultradireitista, 68% e dos que reprovam a gestão do presidente da República, com 69%.
Já a avaliação pouco menos negativa do Congresso foi observada entre aqueles com ensino fundamental, com 52%, os de religião evangélica pentecostal, com 51%, e os que têm o PMDB como partido de preferência, com 42%, ou os que avaliam, de forma positiva, o governo do peemedebista, com 37%.
Com raríssima exceção, o Congresso brasileiro teve generosa avaliação por parte das pessoas consultadas, ante o que os parlamentares têm demonstrado do que o Parlamento representa não para a sociedade, mas para eles próprios, a exemplo de decisões corporativistas, protetivas e de exclusivo interesse pessoal ou partidário, com destaque para decisões de injustificável blindagem aos corruptos, como a mais recente relativa ao senador corruto tucano, que deveria ter sido sumariamente afastado das funções parlamentares, diante da constatação da quebra do decoro, à vista da robusta materialização das provas sobre os crimes por ele praticados.
Agora, é evidente que quem garante a existência de parlamentares de má índole no Congresso não é ninguém senão o próprio povo, que tem sido eternamente cúmplice com os criminosos de colarinho branco, que estão sempre sendo eleitos e reeleitos pelo voto do povo, que reclama sem razão dos abusos, mas ele tem sua plena parcela de culpa, pelo integral apoio a homens públicos que são verdadeiros exemplos de indignidade, como mostra a pesquisa.
A bem da verdade, se o resultado da pesquisa indicasse rejeição de 100%, não seria surpresa, porque a reprovação ainda seria pouco, diante dos péssimos exemplos de gastança (o Parlamento mais caro do mundo), desperdício, inchaço de pessoal, inutilidade, pouca produtividade, esbanjamento do poder e da influência que se traduzem em atendimento de objetivos pessoais, de partidos, de corporações e outros interesses diferentes do que deveriam realmente ser, ou seja, da exclusiva satisfação do interesse público.
Há de se convir que parcela expressiva dos congressistas se esforça para continuar no Parlamento, com vistas a se beneficiar da excrescência do foro privilegiado, que tem por apanágio a blindagem da impunidade, diante da certeza de que seus processos jamais serão julgados pelo principal órgão do Poder Judiciário, à vista da sua contumácia inércia de não julgar, porque, até agora, depois de quase quatro anos do início da Operação Lava-Jato, ninguém de colarinho branco, os protegidos pelo malsinado foro, foi condenado à prisão nem obrigado a devolver algo recebido indevidamente, por força do exercício  de cargo público eletivo.
O índice de reprovação deveria estar, se possível fosse, além de 100%, para que os congressistas tivessem a dignidade de se autoavaliar e o povo passasse a ter vergonha na cara para se acordar em definitivo e se conscientizar sobre a necessidade de colocar no Congresso somente homens públicos com o caráter e a dignidade próprias das funções desejáveis de seus lídimos representantes, com a finalidade de defender exclusivamente seus interesses.
O Congresso Nacional precisa ser moralizado, com urgência, tendo como parâmetros fundamentais a extinção de benefícios e vantagens absolutamente injustificáveis, passando a haver somente a remuneração básica para o parlamentar, como vige para os demais servidores do Estado; a obrigatoriedade de trabalhar 40 horas semanais; o enxugamento de pessoal, para a cota mínima necessária dos gabinetes; a extinção de carros e motoristas oficiais; o direito a única reeleição; a extinção do foro privilegiado para todos os cargos da República; entre outras excrescências que não condizem com o Congresso decoroso, competente, responsável e cônscio da sua verdadeira finalidade institucional.
 Enfim, é preciso se espelhar nos Parlamentos sérios, eficientes, dignos que realmente representam o povo no verdadeiro sentido democrático, com a eliminação das regalias e benesses injustificáveis e dispensáveis, por serem incompatíveis com a singeleza e a funcionalidade próprias das nações civilizadas e desenvolvidas, política, jurídica e democraticamente.    
          É preciso se reconhecer que as nações evoluídas democraticamente primam pela existência de pouquíssimos partidos políticos, enquanto no país tupiniquim existem mais de 30 agremiações, que funcionam com objetivos sabidamente escusos, interesseiros e oportunistas, sem qualquer benefício para o sistema político, a justificar a sua existência em beneficio político-social.
Há muita dificuldade em se justificar a existência da Câmara dos Deputados com 513 parlamentares e do Senado Federal com 81 senadores, por serem impossíveis a harmonização e a convergência de diferentes ideologias e pensamentos, além da imensurável quantidade de servidores, que ultrapassa de vinte mil, nas duas Casas Legislativas, quando a redução para a metade ou um terço de congressistas certamente haveria contribuição para suscitar inúmeros vantagens, não somente em termos de economia, mas principalmente pela notória eficiência e produtividade em benefício dos brasileiros.
Nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos e democráticos, os parlamentares são escolhidos pelo povo, para representá-lo e defender seus interesses, mas, ao contrário, no país tupiniquim, os congressistas são eleitos segundo a importância do que realmente eles  representam, com muita garra, as ferrenhas bancadas dos latifundiários ou ruralistas, dos empresários, dos bancários, dos evangélicos, da bala ou dos militares, dos sindicalistas etc., ficando de fora, como óbvio, a bancada do povo, que até pode ter algum representante, mas é tão insignificante que não figura no momento de tomar partido nas decisões.
Considerado por ruim ou péssimo por 60% das pessoas consultadas, o Congresso pode se vangloriar por ter sido avaliado muito além do que merecia, diante de muitos fatos que, levados na devida conta, poderiam ter contribuído para o atingimento do grau máximo de mediocridade, apenas lembrando a reiterada rejeição às denúncias formuladas pela Procuradoria Geral da República contra o presidente do país, sob suspeita da pratica dos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e obstrução à Justiça.
Nessa mesma esteira, tem-se o gravíssimo escândalo liderado pelo senador tucano mineiro, que foi perdoado pelo Senado Federal e pelo seu Conselho de Ética, em que pese ele ter atentado contra o decoro parlamentar, que é imperdoável, quando se busca a moralização da administração pública.
Trata-se de fatos de extrema gravidade que jamais teriam sido perdoados em um país com um pouco de seriedade, civilidade e evolução, em termos jurídicos, políticos e democráticos, diante da patente desmoralização dos princípios que norteiam as atividades públicas.
A pesquisa em comento tem o condão de alertar os brasileiros sobre a imperiosa necessidade de completa assepsia, limpeza ética, no Parlamento, de modo que os atuais congressistas, tendo demonstrado a sua índole protetora, em especial de corruptos políticos, os chamados criminosos de colarinho branco, são indignos de representar a vontade do povo, que certamente foi traído pela atual classe política, que teve participação de efetiva cumplicidade com políticos delinquentes, à vista dos eloquentes fatos acima elencados, que são incompatíveis com o exercício dos mandatos delegados nas urnas.
Os brasileiros anseiam por que o resultado da pesquisa em apreço sirva de lição, para que a próxima eleição consiga eleger homens públicos com o caráter e a grandeza da formação moral capazes de respeitar a integridade da vontade popular, no sentido de que os péssimos políticos sejam punidos e rechaçados, em definitivo, da vida pública, para o bem da nação, por meio do fortalecimento da dignidade que precisa imperar na administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 11 de dezembro de 2017

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