quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A indevida pressão

O ministro da Secretaria de Governo admitiu, sem corar a cara, que o Palácio do Planalto está pressionando os governadores e prefeitos a trabalharem a favor da aprovação da reforma da Previdência, em troca da liberação de recursos do governo federal e financiamentos de bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal.
O ministro disse que “Realmente o governo espera daqueles governadores que têm recursos a serem liberados, financiamentos a serem liberados, como de resto de todos os agentes públicos, reciprocidade no que tange à questão da (reforma da) Previdência”.
Ele afirmou que o governo está pedindo apenas “ajuda” em troca dos votos pela reforma, tendo justificado que “financiamentos da Caixa Econômica Federal são ações de governo. Senão, o governador poderia tomar esse financiamento no Bradesco, não sei onde. Obviamente, se são na Caixa Econômica Federal, no Banco do Brasil, no BNDES, são ações de governo, e nesse sentido entendemos que deve, sim, ser discutida com esses governantes alguma reciprocidade no sentido de que seja aprovada a reforma da Previdência, que é uma questão que entendemos hoje de vida ou morte para o Brasil”.
O ministro sublinhou que os parlamentares ligados aos governadores também terão aspectos eleitorais positivos com os financiamentos aos governos locais e justificou a sua assertiva, dizendo: “Olha, não entendo que seja uma chantagem o governo atuar no sentido de que um aspecto tão importante para o Brasil se torne realidade, que é a modernização da Previdência. Não é retaliação aos governadores, é pedido de apoio”.
Como já havia sido revelado pelo Estadão, o ministro da articulação do governo fez levantamento dos pedidos de empréstimos na Caixa por Estados, capitais e outras grandes cidades, tendo condicionado a assinatura dos contratos à entrega de votos pelos governadores e prefeitos que exercem influência sobre os deputados.
Já contando com o sucesso da sua estratégia política, o ministro disse ao presidente do país que estava otimista em relação à aprovação da reforma da Previdência, diante da confiança haurida de conversas com parlamentares, tendo ouvido menos deputados contrários à PEC pertinente.
O ministro sintetizou seu pensamento sobre a convicção que a reforma em causa vai ser aprovada, com a seguinte afirmação: “Cada vez é maior a consciência da sociedade brasileira em relação à necessidade da reforma. A tática de empurrar com a barriga tem cada vez menos apoio na sociedade, e os parlamentares, ao chegarem nas suas bases, começam a constatar isso. Isso que tem sido o grande fator propulsor desta confiança, dessa mudança de pensamento de vários deputados, e fator propulsor dessa vitória que teremos em fevereiro”.
Tempos passados, essa vergonhosa e inescrupulosa prática do toma lá, dá cá era realizada às escondidas e se sabia dessa imoralidade nas surdinas, mas agora a indignação é negociada às claras, com o governo assumindo o seu gesto seboso e imundo de convencimento por meio da negociata nada republicana, envolvendo recursos públicos, no sentido de se chantagear, por meio da garantia de que o crédito somente será liberado se houver apoio à reforma da Previdência, em clara demonstração da compra da consciência dos congressistas.
Não há a menor dúvida de que as atividades político-administrativas se apequenaram nesse governo do Brasil, que sequer tem a credibilidade de uma republiqueta, em termos de moralidade das suas ações, quando ele não consegue aprovar, no Congresso Nacional, absolutamente nada sem o oferecimento de barganha, por meio de negociata nitidamente espúria, que precisa ser coibida, com urgência, por ação dos órgãos de controle e fiscalização, como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público Federal ou até mesmo as entidades representativas de classes, a exemplo da OAB, que poderiam demandar junto aos tribunais competentes, com vistas à apuração das responsabilidades por atos administrativos visivelmente contrários aos princípios republicano e democrático. Acorda, Brasil!
         ANTONIO ADALMIR FERNANDES

        Brasília, em 28 de dezembro de 2017

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