terça-feira, 19 de dezembro de 2017

O império da insensatez

A cúpula do PT consultou especialista em legislação eleitoral sobre a viabilidade da candidatura do seu líder maior, ainda que ele seja condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Após sabatina ao advogado, a presidente do partido afirmou que o "jogo não acaba" no dia 24 de janeiro e que a candidatura dele será viabilizada segundo as normas vigentes, ainda que confirmada a condenação dele à prisão.
A presidente do PT afirmou que "O presidente Lula é candidato, vai ser inscrito candidato dentro das regras eleitorais vigentes no país. Não há como ser tirado o direito do presidente Lula ser candidato", dando a entender que a vontade petista tem supremacia sobre as regras eleitorais, principalmente as disposições da Lei da Ficha Limpa, que estabelece que condenado por colegiado se torna automaticamente inelegível.
Não obstante, a arrogância e a prepotência da presidente do partido deixam muito claro que a regra não se aplica ao todo-poderoso, porque ele é excepcional, tendo o poder da excepcionalidade, em se tratando da concorrência ao Palácio do Planalto.
Segundo a presidente do PT, a possibilidade de o petista concorrer, mesmo na prisão, não foi objeto de discussão na reunião do Diretório Nacional do partido, que ocorreu em São Paulo, mas lembrou "que uma prisão ocorreria após uma série de etapas legais", porque "Essa possibilidade (de se candidatar de dentro da prisão) tem que ser analisada com juristas. Na realidade, depois de uma sentença, se ela não for unânime em todos os aspectos, não pode ter prisão. A questão da prisão depende do jeito como será dada", por reconhecer que existe uma série de medidas cabíveis após a condenação.
O Advogado consultado afirmou, em atendimento a questionamentos do partido, que a inelegibilidade do petista somente será alvo de debate na Justiça após o registro da candidatura, no dia 15 de agosto de 2018, tendo listado casos em que os candidatos concorreram mesmo em caso de impugnação, a exemplo de 145 prefeitos, que ganharam liminares da Justiça.
O advogado apresentou cronograma que mostra que o processo pertinente poderá consumir aproximadamente 25 dias até que a candidatura fosse impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral e, enquanto isso, o ex-presidente poderia disputar tranquilamente o cargo presidencial.
Empolgado com a bela e estimuladora explanação, o petista fez breve discurso, tendo por lema a reafirmação e a disposição de manter a candidatura em plena atividade.
À primeira vista, se pode perceber que o espírito que imperava de honestidade do petista foi literalmente para o espaço sideral, com a cogitação de se disputar o cargo presidencial, por ele, mesmo que confirmada a sentença da primeira instância, dando a entender       que o homem mais puro da Terra sucumbiu à realidade, ao aceitar a impossibilidade de anulação do veredicto da Lava-Jato, pondo em dúvida a sua alegada inocência no caso, porque, do contrário, ele seria resistente à consulta a especialista em Direito Eleitoral, considerando dispensável a sua presença para discutir algo improvável.
Diante da visível falta de sensibilidade para tratar de questão tão importante para os interesses nacionais, pode-se imaginar que o desprezo ao ordenamento jurídico e ao Poder Judiciário se compatibiliza com a intensão de se causar transtorno e confusão em benefício de causa absolutamente impossível, por haver nesse entendimento sobre a candidatura de condenado à prisão, já definida na Lei da Ficha Limpa, a sensação de que alguém pode estar acima de tudo e de todos, inclusive das leis do país, que precisam se acostumar a se curvas à vontade de quem pode mais e não aceita ser contrariado nas suas pretensões políticas.   
O sacrifício para a sustentação de candidatura sem o devido respaldo legal deixa muito evidente de que se trata de esforço fenomenal de tentativa de salvação da própria pele, não importando os malefícios, em termos de moralidade que isso pode refletir no mundo político, porquanto se imagina, sobretudo, que a idolatria está acima dos princípios republicano e democrático, em cristalina demonstração de que o poder e a influência podem transformar criminoso condenado pela Justiça em pessoa honrada e digna, quando isso precisa ser provada e sacramentada antes da formalização da candidatura, em harmonia com a legislação que rege o sistema eleitoral do país, que precisa ser simplesmente respeitada e reverenciada por seus princípios intrínsecos de moralidade e legalidade, sob pena de prevalecer o império da esculhambação e da desmoralização.
          Não se pode esquecer que o povo tem o governo que merece e é bem provável que o povo brasileiro mereça eleger o governo com as qualidades de homem público preso, por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, conforme já estão aceitando as lideranças petistas, por anunciarem a possibilidade da candidatura do seu líder maior, mesmo estando preso.
Ocorre que os citados crimes são diametralmente incompatíveis com o exercício de cargos públicos eletivos, por exigirem de seus ocupantes a comprovação do preenchimento dos requisitos de idoneidade e conduta moral.
Por que tal desespero de causa, por objetivos que são visivelmente afrontosos à dignidade e à moralidade, quanto mais em gritante desrespeito aos sentimentos de honorabilidade dos brasileiros, na sua maior parcela, que certamente não imagina que situação tão estapafúrdia como essa cogitada por partido político possa a ser concretizada?
Diante da grandeza do Brasil, não seria possível que os homens públicos pudessem agir em nome do bom senso e da racionalidade, principalmente no que diz às atividades políticas, que são inexistentes sem a participação do povo, que vem se esforçando tanto para se alcançar estágio razoável de moralidade na administração pública?
Ao que parece, o poder tem a magia também de enlouquecer os homens, que podem perder facilmente o senso da sensatez e da responsabilidade, quando o ideal seria que eles pudessem contribuir para mostrar o caminho da sensibilidade, racionalidade, maturidade e do espírito público, como forma de possibilitar a construção do bem comum, que é a essência das atividades políticas e públicas.
Agora, não fica nada bom para o Brasil que homem público condenado à prisão, exatamente pela prática de atos de improbidade administrativa, possa pleitear ser presidente da República do país, sem que tivesse condições de contestar, na Justiça, as acusações sobre a suspeita de irregularidades na vida pública, em clara demonstração de afronta ao ordenamento jurídico pátrio, às autoridades constituídas, às instituições do país e principalmente à dignidade dos brasileiros honrados, que defendem, com ardor, a moralização da administração pública, que não pode ser representada por alguém com predicativos absolutamente incompatíveis com a idoneidade e a conduta ilibada exigidas para o exercício de tão relevante cargo da República. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 19 de dezembro de 2017

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