terça-feira, 26 de dezembro de 2017

O movediço discurso

Com o dobro das intenções de voto sobre o segundo colocado, o líder nas pesquisas vem fazendo discurso no exato tom de quem está conformado e perfeitamente adequado à situação de pessoa que será impedida pela Justiça de concorrer à disputa presidencial.
De maneira meticulosa, seus discursos estão sendo preparados e calculados em harmonia com o pensamento próprios para a transferência aos candidatos do partido a sólida plataforma antigoverno e antirreforma que tem muito a ver com o sentimento da população, que se mostra contrária às reformas de ajustes fiscal e econômico do governo.
O discurso preparado mais à esquerda também pode ser considerado como boa ideia para a manutenção do PT na disputa pela longeva liderança da esquerda brasileira. A opção pelo abraço destemido e efetivo à esquerda do ex-presidente tem tudo com a estratégia de se marcar posição política, principalmente se ele for impedido de concorrer.
Esse posicionamento definitivo e contrário às reformas e a favor da ideologia de esquerda poderá criar seus embaraços para o petista, se ele puder concorrer e se ganhar, porque ele terá dificuldades para a implementação de reformas, que não são aceitas pela esquerda.
O discurso antirreforma será problemático para se governar sob os lemas da esquerda de que "não há déficit na Previdência", quando é mais do que evidente que as contas públicas precisam de urgentes ajustes e a primeira reforma acena justamente para a Previdência, diante dos rombos existentes na sua gestão.
Sabe-se que a economia vem em lento processo de recuperação, que não pode ser posta em risco, mediante a ação de políticas contrárias a ele, conquanto o discurso político precisa ser ajustado às boas técnicas da ponderação e da harmonização com os fatos da realidade, sem essa de radicalização, mesmo que, como se sabe, seus mentores tenham por objetivo claro a conquista do poder, mas isso tem seu preço, principalmente no campo econômico, com a fragilidade advinda justamente do governo símbolo de incompetência e ineficiência na gestão de recursos públicos, à vista dos rombos nos orçamentos públicos deixados por ele.
O atual quadro político mostra que a esquerda brasileira passa por queda de credibilidade, após treze anos no governo, à vista de visível período de declínio no nível de seu desgastado discurso fincado na mesmice, em cristalina demonstração de resistência ideológica às reformas das estruturas do Estado, cujas consequências se refletiram na recessão econômica, no estrondoso desemprego, nos juros altos, na queda da arrecadação, na falta de recursos para investimentos em obras necessárias ao desenvolvimento socioeconômico, no rebaixamento do grau de investimento, nos rombos dos orçamentos, nos desperdícios de recursos por má gestão, entre outras mazelas próprias das mentalidades contrárias à modernização das políticas da administração pública.
À toda evidência, o atual discurso da esquerda não dá a nenhum candidato a mínima esperança da realização de bom governo, em especial porque o Brasil precisa de estadista que tenha compromisso com profundas reformas estruturais do Estado, entre as quais a previdenciária, política, econômica, tributária, administrativa, trabalhista, entre outras que são fundamentais para a modernização e o aperfeiçoamento do funcionamento da administração pública, que se encontra afundada no abismo do atraso e da ineficiência de gerenciamento.
Convém que a mentalidade política seja completamente arejada, de modo que as políticas públicas enxerguem os pobres não apenas como instrumento próprio de reserva eleitoral, mantendo-os sob perenes programas assistencialistas, quando o Estado tem condição de implementação de programas com finalidades econômicas, por meio da profissionalização dos beneficiários, que seriam colocados no mercado de trabalho por intermédio de recursos que apenas os manteriam na ociosidade, por meio de convênio com os empresários.
Há que necessidade de se avalizar os resultados dos governos brasileiros de esquerda, para se sopesarem os indicadores favoráveis dos crescimentos econômicos, em contrapartida com os terríveis fatos de predominância da desastrosa, arraigada e consolidada corrupção, em que reinaram o mensalão e o petrolão, que arrasaram os princípios da moralidade, legalidade, dignidade, entre outros que precisam ser rigorosamente observados na administração pública, em conjuminância com a incompetência de gestão que possibilitou o afloramento da decadência econômica, com o surgimento da recessão, do desemprego, das demais precariedades que levaram o país à ruína e ao descrédito.
Os brasileiros precisam se conscientizar de que há quem, sem o menor pudor, como candidato, defenda agora o discurso de esquerda contra as medidas de ajustes fiscal e econômico do atual governo, como forma de angariar a confiança do eleitorado simpatizante dessa famigerada ideologia, para, posteriormente, caso seja eleito, adotá-las tal e qual ou ainda mais abrangente, como justificativa de se evitar o desastre da economia.
O belíssimo discurso genuinamente de esquerda precisa ser visto, na prática, na Venezuela, para se sentir e acompanhar as agruras vivenciadas por seu povo, que foi submetido ao sofrimento e ao inferno do desabastecimento de alimentos, gêneros de primeira necessidade e remédios, além da ferrenha ditadura, onde foram suprimidos dos venezuelanos os direitos humanos e os princípios democráticos, com a implantação do combate violento àqueles que se opõem ao regime tirânico e totalitário.
Em que pese os venezuelanos estarem passando fome, literalmente, com altos índices de desnutrição da população, em especial infantil, e ainda faltando tudo nas prateleiras dos supermercados, há quem venere e idolatre o regime chavista, que é baseado na ideologia de esquerda mais radical, defendida pelo partido do político brasileiro que lidera as pesquisas de intenções de voto, que certamente não terá o menor pudor de implantar, no Brasil, famigerado semelhante regime, como forma de convencer os brasileiros que é maravilhoso viver em país que não precise de reforma alguma, muito menos da Previdência, que pode subsistir com os gigantescos rombos nas suas contas, porque os bestas dos contribuintes podem arcar com os déficits pertinentes.
É preciso que o discurso político tenha por base a moderação, principalmente no que diz respeito à economia, que ainda inspira cuidados e exigem delicadas estratégias, para que o processo de sua recuperação não sofra solução de continuidade, salvo se o pensamento político tenha por base tão somente a conquista do poder, sem a menor preocupação com o interesse público, que precisa ser preservado na sua integridade, sob pena de se perpetuar o crime de responsabilidade, nada desejável no país que não pode compactuar com aqueles que apenas pensam nos seus interesses políticos, ao empregar discursos que não se coadunam com a realidade brasileira, mas sim com a sua retrógrada e maléfica ideologia. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
          Brasília, em 26 de dezembro de 2017

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