sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

À busca do entendimento?

 

O presidente da República pediu ao ministro da Economia a demissão do presidente do Banco do Brasil, embora o titular da pasta tenta reverter a ordem presidencial.

O pedido de demissão foi motivado pelo anúncio de fechamento de cerca de 200 agências e do plano de reestruturação que prevê programa de demissão voluntária com o objetivo de cortar 5 mil vagas, que não foram do agrado do mandatário do país.

O presidente do país pressiona no sentido de que o plano seja suspenso, ou pelo menos que ele seja adiado, a fim de evitar influência nas eleições dos novos presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal, porque ele apoia candidatos nas duas a Casas.

Os parlamentares estão reclamando pelo fechamento de agências em suas bases eleitorais e isso prejudica as suas candidaturas nas referidas casas legislativas.

O Banco do Brasil anunciou o fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências, 7 escritórios e 242 postos de atendimento, ainda no primeiro semestre deste ano e a abertura de dois programas de demissão voluntária, com previsão de adesão de cerca de 5 mil funcionários.

O Banco do Brasil anunciou que a reorganização da rede de atendimento, incluindo o fechamento de unidades, deve trazer economia líquida anual estimada com despesas administrativas de R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025.

O objetivo do fechamento das unidades, segundo o banco, é trazer mais eficiência à rede de atendimento, propiciar recursos para abertura das unidades de atendimento especializado e melhorar a experiência do cliente.

É evidente que o Banco do Brasil tem as características de empresa que integra o mercado financeiro e precisa aperfeiçoar seus mecanismos institucionais, como forma de buscar maior eficiência, até mesmo visando à igualdade de competição no ramo financeiro, embora não se pode deixar de se reconhecer que ele faz parte das estratégias sociais do governo, no caso da sua atuação no interior do país.

Não obstante, como banco que tem a participação do capital oficial, ele precisa entender que uma das suas funções capitais é apoiar ações sociais do governo, em especial, como citado acima, na interiorização do Brasil, onde dificilmente há a presença de bancos particulares, exatamente porque o lucro é minguado e não há interesse dos grandes bancos em arriscarem seus lucros, ante a incerteza de retorno financeiro, justamente onde o dinheiro circula em menor quantidade.

É preciso o reconhecimento de que o governo não tem poder de ingerência no funcionamento e nos negócios do Banco do Brasil, mas ele pode nomear seus presidente e diretores, por força da sua participação majoritária no capital da instituição.

No caso da possível interferência do presidente do país, se confirmada, por motivos meramente políticos, para que as medidas anunciadas não prejudiquem o desempenho das candidaturas de seus candidatos às presidências da Câmara e do Senado, isso é mais do que horroroso e inadmissível, porque não há o menor cabimento que a tentativa de otimização estrutural e funcional da instituição deixe de ser implementada porque prejudicaria interesses pessoais e políticos do mandatário do país.

Ao que se percebe, as medidas cogitadas pelo presidente do banco são estritamente de natureza técnica, em forma de melhoramento do desempenho operacional dos sistemas bancário e financeiro em prática na instituição, em perfeita harmonia com a suja destinação comercial.

A propósito, convém que sejam relembradas sábias palavras proferidas pelo candidato à Presidência da República, que nos idos de 2018, chegou a pronunciar importante pensamento e da maior lucidez sobre o sentido do que seja responsabilidade pela administração pública, exatamente nestes termos: “Nenhum presidente é maior do que o seu ministério. O segredo para bem administrar o Brasil é você botar as pessoas certas nos ministérios certos. O que vem sendo feito ao longo dos últimos anos? O presidente indica seus ministros de acordo com seus interesses políticos partidários. Tem tudo para não dar certo. Qual é a nossa proposta: é indicar as pessoas certas para os ministérios certos. Por isso, não integramos o Centrão. Tampouco estamos na esquerda de sempre. Vamos escalar as pessoas certas, porque assim você poderá, de verdade, ter saúde, educação e segurança.”.

É evidente que banco não é ministério, mas ele tem a mesma importância, em termos estratégicos e administrativos, sendo que o seu presidente já demonstrou ser pessoa com capacidade gerencial reconhecida e vem fazendo excelente trabalho à frente do Banco do Brasil, o que vale dizer que ele é a pessoa certa no lugar certo, não importando que ele possa adotar medidas contrárias aos interesses do presidente da nação, porque estes podem não se coadunar com os objetivos institucionais do banco.          

Até sejam possíveis que as medidas de mudança no banco possam não ser compatíveis com a atual filosofia do presidente do país, diante da possibilidade de seus efeitos atingirem negativamente as políticas sociais do governo ou, em especial, os acordos políticos do presidente do país com o Congresso Nacional, os quais não estavam nos planos dele, na sua campanha eleitoral, mas, ao que tudo indica, as conveniências pessoas e políticas do momento são muito mais importantes do que o pensamento gerencial do passado.

O presidente do país precisa se conscientizar de que as questões  políticas são bem distintas dos assuntos próprios e técnicos aplicáveis ao funcionamento do banco e que estes não podem ficar à mercê senão do sistema bancário, não cabendo a ele a imposição de nada, salvo a faculdade da demissão do presidente do banco, no caso de não concordar ou estar insatisfeito com a gestão dele à frente da instituição ou se as medidas que o bancário considerar necessárias para o aperfeiçoamento dos trabalhos da instituição e que visam, como fim, à sua eficiência.

No momento de enorme dificuldade na economia, em razão das implicações advindas da pandemia, espera-se que presidente brasileiro pondere quanto à possibilidade de conversas e negociações acerca das mudanças pretendidas pela direção do Banco do Brasil, convindo que elas possam ser adiadas para melhor ocasião, em que pese elas serem necessárias, mas o momento clama pelas continuidade e integridade da equipe de governo, na esperança da superação das dificuldades causadas pelas turbulências do coronavírus.     

Brasília, em 15 de janeiro de 2021          

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