O
presidente da República pediu ao ministro da Economia a demissão do presidente
do Banco do Brasil, embora o titular da pasta tenta reverter a ordem presidencial.
O
pedido de demissão foi motivado pelo anúncio de fechamento de cerca de 200
agências e do plano de reestruturação que prevê programa de demissão voluntária
com o objetivo de cortar 5 mil vagas, que não foram do agrado do mandatário do
país.
O
presidente do país pressiona no sentido de que o plano seja suspenso, ou pelo
menos que ele seja adiado, a fim de evitar influência nas eleições dos novos
presidentes da Câmara dos Deputados e Senado Federal, porque ele apoia candidatos
nas duas a Casas.
Os
parlamentares estão reclamando pelo fechamento de agências em suas bases
eleitorais e isso prejudica as suas candidaturas nas referidas casas legislativas.
O
Banco do Brasil anunciou o fechamento de 361 unidades, sendo 112 agências, 7
escritórios e 242 postos de atendimento, ainda no primeiro semestre deste ano e
a abertura de dois programas de demissão voluntária, com previsão de adesão de
cerca de 5 mil funcionários.
O
Banco do Brasil anunciou que a reorganização da rede de atendimento, incluindo
o fechamento de unidades, deve trazer economia líquida anual estimada com
despesas administrativas de R$ 353 milhões em 2021 e R$ 2,7 bilhões até 2025.
O
objetivo do fechamento das unidades, segundo o banco, é trazer mais eficiência
à rede de atendimento, propiciar recursos para abertura das unidades de
atendimento especializado e melhorar a experiência do cliente.
É
evidente que o Banco do Brasil tem as características de empresa que integra o
mercado financeiro e precisa aperfeiçoar seus mecanismos institucionais, como
forma de buscar maior eficiência, até mesmo visando à igualdade de competição no
ramo financeiro, embora não se pode deixar de se reconhecer que ele faz parte
das estratégias sociais do governo, no caso da sua atuação no interior do país.
Não
obstante, como banco que tem a participação do capital oficial, ele precisa
entender que uma das suas funções capitais é apoiar ações sociais do governo,
em especial, como citado acima, na interiorização do Brasil, onde dificilmente
há a presença de bancos particulares, exatamente porque o lucro é minguado e
não há interesse dos grandes bancos em arriscarem seus lucros, ante a incerteza
de retorno financeiro, justamente onde o dinheiro circula em menor quantidade.
É
preciso o reconhecimento de que o governo não tem poder de ingerência no funcionamento
e nos negócios do Banco do Brasil, mas ele pode nomear seus presidente e
diretores, por força da sua participação majoritária no capital da instituição.
No
caso da possível interferência do presidente do país, se confirmada, por
motivos meramente políticos, para que as medidas anunciadas não prejudiquem o
desempenho das candidaturas de seus candidatos às presidências da Câmara e do
Senado, isso é mais do que horroroso e inadmissível, porque não há o menor cabimento
que a tentativa de otimização estrutural e funcional da instituição deixe de
ser implementada porque prejudicaria interesses pessoais e políticos do mandatário
do país.
Ao
que se percebe, as medidas cogitadas pelo presidente do banco são estritamente
de natureza técnica, em forma de melhoramento do desempenho operacional dos
sistemas bancário e financeiro em prática na instituição, em perfeita harmonia
com a suja destinação comercial.
A
propósito, convém que sejam relembradas sábias palavras proferidas pelo
candidato à Presidência da República, que nos idos de 2018, chegou a pronunciar
importante pensamento e da maior lucidez sobre o sentido do que seja responsabilidade
pela administração pública, exatamente nestes termos: “Nenhum presidente é
maior do que o seu ministério. O segredo para bem administrar o Brasil é você botar
as pessoas certas nos ministérios certos. O que vem sendo feito ao longo dos últimos
anos? O presidente indica seus ministros de acordo com seus interesses
políticos partidários. Tem tudo para não dar certo. Qual é a nossa proposta: é
indicar as pessoas certas para os ministérios certos. Por isso, não integramos
o Centrão. Tampouco estamos na esquerda de sempre. Vamos escalar as pessoas
certas, porque assim você poderá, de verdade, ter saúde, educação e segurança.”.
É
evidente que banco não é ministério, mas ele tem a mesma importância, em termos
estratégicos e administrativos, sendo que o seu presidente já demonstrou ser pessoa
com capacidade gerencial reconhecida e vem fazendo excelente trabalho à frente
do Banco do Brasil, o que vale dizer que ele é a pessoa certa no lugar certo,
não importando que ele possa adotar medidas contrárias aos interesses do
presidente da nação, porque estes podem não se coadunar com os objetivos institucionais
do banco.
Até
sejam possíveis que as medidas de mudança no banco possam não ser compatíveis
com a atual filosofia do presidente do país, diante da possibilidade de seus efeitos
atingirem negativamente as políticas sociais do governo ou, em especial, os
acordos políticos do presidente do país com o Congresso Nacional, os quais não estavam
nos planos dele, na sua campanha eleitoral, mas, ao que tudo indica, as
conveniências pessoas e políticas do momento são muito mais importantes do que
o pensamento gerencial do passado.
O
presidente do país precisa se conscientizar de que as questões políticas são bem distintas dos assuntos próprios
e técnicos aplicáveis ao funcionamento do banco e que estes não podem ficar à
mercê senão do sistema bancário, não cabendo a ele a imposição de nada, salvo a
faculdade da demissão do presidente do banco, no caso de não concordar ou estar
insatisfeito com a gestão dele à frente da instituição ou se as medidas que o
bancário considerar necessárias para o aperfeiçoamento
dos trabalhos da instituição e que visam, como fim, à sua eficiência.
No
momento de enorme dificuldade na economia, em razão das implicações advindas da
pandemia, espera-se que presidente brasileiro pondere quanto à possibilidade de
conversas e negociações acerca das mudanças pretendidas pela direção do Banco do
Brasil, convindo que elas possam ser adiadas para melhor ocasião, em que pese
elas serem necessárias, mas o momento clama pelas continuidade e integridade da
equipe de governo, na esperança da superação das dificuldades causadas pelas
turbulências do coronavírus.
Brasília,
em 15 de janeiro de 2021
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