terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Incivilidade?

 

O presidente dos Estados Unidos da América disse à principal autoridade eleitoral da Geórgia para "encontrar" votos suficientes para anular o resultado das eleições americanas, porque ele entende que ganhou, com vantagem, a eleição naquele estado.

Em gravação divulgada pelo jornal Washington Post, o candidato republicano derrotado disse àquela autoridade, ipsis litteris: "Eu só quero encontrar 11.780 votos".

Na ligação, é possível ouvir a autoridade eleitoral dizendo que os resultados da Geórgia estavam corretos, dando a entender que o presidente americano sugere a prática de fraude, para se beneficiar de resultado manipulado.

O resultado das eleições americanas mostra que o candidato democrata venceu tanto na Geórgia como em outros Estados com disputa acirrada, tendo contabilizado 306 votos do Colégio Eleitoral, contra os 232 do seu adversário.

Desde a votação do dia 3 de novembro último, o republicano vem alegando a existência de fraudes eleitorais generalizadas, sem apresentar qualquer prova, para tanto.

Os 50 Estados americanos certificaram o resultado da eleição, sendo que, em alguns, após recontagens e recursos legais, os quais, em número de 60, que foram rejeitados pelos  tribunais dos EUA, não tendo sido observada uma vitória sequer do candidato derrotado.

Isso revela a insuficiência de elementos de provas sobre as supostas fraudes alegadas por ele, fato este que depõe contra a dignidade dele, que não aceita o resultado democrático das urnas, que apenas refletem a vontade soberana dos americanos, que querem vê-lo o mais distante possível da Casa Branca e por bom tempo.

O candidato derrotado insistiu que havia vencido as eleições na Geórgia e disse àquela autoridade que "não havia nada de errado em dizer que você recalculou", enquanto ela responde dizendo: "O desafio que você tem, senhor presidente, é que os dados que você tem estão errados.".

Ao que tudo indica, o candidato republicano age com base em boatos, ao afirmar que “o boato era que as cédulas haviam sido destruídas e o mecanismo de votação removido do condado de Fulton”, no que o advogado da autoridade eleitoral respondeu que se trata de acusação infundada.

O presidente ameaçou o secretário com possíveis consequências legais, ao afirmar: "Você sabe o que eles fizeram e não está denunciando. Isso é um crime. Você não pode permitir que isso aconteça. É um grande risco para você e para Ryan, seu advogado".

Durante a ligação, a autoridade eleitoral rejeitou, com firmeza, as afirmações e insinuações de fraude colocadas pelo candidato derrotado, tendo explicado que “o presidente está contando com teorias conspiratórias desmascaradas e que a vitória do presidente eleito Joe Biden com 11.779 votos na Geórgia foi justa e precisa.”.

O conselheiro do presidente eleito dos Estados Unidos emitiu comunicado sobre o imbróglio em comento, onde ele diz o seguinte: "Agora temos provas irrefutáveis de um presidente pressionando e ameaçando um funcionário de seu próprio partido para que ele rescinda uma contagem de votos legal e certificada e fabrique outra em seu lugar. Isso demonstra a essência do vergonhoso ataque de Donald Trump à democracia americana".

Ao que parece, todos os recursos formulados pelo candidato derrotado, à vista de que ele não tenha logrado uma vitória sequer nos tribunais, tiveram por fundamento argumentativo “boato”, como ele mesmo terminou dizendo com a própria boca, conforme visto acima, sabendo-se que boato, em lugar algum, pode ser considerado como alegação junto à Justiça, que decide com base em provas materiais e substanciais válidas juridicamente.

Trata-se de simplesmente de show grotesco protagonizado por político populista derrotado nas urnas, que prefere se manter a todo custo no governo, contando inclusive com a manipulação fraudulenta da recontagem de votos, para não sair do poder.

A bem da verdade, é bem possível que nem as piores republiquetas comandadas por tiranias ditatoriais merecem pessoa com nível tão rasteiro e desprezível como a de quem mostra indignidade de representar esse triste papel de querer impor a sua autoridade presidencial para anular a legítima vontade do povo, que demonstrou o maior desprezo à pessoa dele, mesmo antes desse ato monstruoso contra a democracia.

Em princípio, não tem nada demais que o presidente americano tenha perdido as eleições no voto popular, mas nada pode ser mais vergonhoso e deplorável para o homem público querer reverter os resultados por meio de expediente ardiloso, cercado de ameaças e acusações que não prosperaram nos tribunais, em clara tentativa grosseira de fraudar, em seu benefício, os números considerados válidos e corretos pelas autoridades eleitorais.

À toda evidência, as alegações infundadas de fraude eleitoral e a tentativa de anulação dos resultados eleitorais demonstram o desespero do candidato inconformado com a sua fragorosa derrota, deixando antever claro abuso de autoridade e o extremo do atrevimento de querer interferir na decisão democrática do povo, o que bem caracteriza a índole de político indigno da prática de atividades públicas como representante do povo, que espera dos homens públicos o mínimo de decência e civilidade.

Brasília, em 5 de janeiro de 2021

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