Acredito que o povo de Uiraúna já estava preparado para aplaudir o anúncio da inauguração e do funcionamento do Hospital Municipal de Uiraúna, cujas obras mereceram os mais calorosos sentimentos de orgulho por parte do então prefeito, o seu mentor e principal executor.
Quando foi aventada a ideia da construção do hospital para a
cidade, vi que a população se colocou em posição de apoio ao projeto, certamente
na esperança de puder contar com uma unidade de saúde para o seu atendimento médico-hospitalar.
Eu,
evidentemente por não morar na cidade, me coloquei como o único contrário à
medida e escrevi várias crônicas, mostrando as inconveniências e as precipitações
da medida, por perceber que se tratava de algo concebido sob o artifício da
esperteza política.
Na oportunidade, eu disse que o
poder público precisa resolver a gravíssima questão, com urgência e em nível de
prioridade, porque já passou do tempo de Uiraúna ter hospital decente para o
confortável e o cômodo atendimento de seus pacientes, principalmente tendo em
conta que a cidade é berço de muitos, bons e dedicados médicos, que,
certamente, gostariam muito de, em prova de amor à terra natal, prestar
importantes serviços aos seus conterrâneos.
Isso funciona como contrassenso, que
a terra dos médicos não disponha de hospital e que seu povo viva de favores de
outros hospitais, já superlotados com os próprios pacientes, com limitações
próprias do atendimento normal, devido à inevitável demanda da procura médico-hospitalar,
o que cresce de importância o empenho por unidade hospitalar digna da população.
Eu antevia que o hospital
pretendido não passava de mais uma daquelas obras que começaram com bastante fogo
de palha, muito alarde e enganosa publicidade por parte de seu criador, mas,
por força da fragilidade de seus componentes, em especial da insuficiência
crônica de recursos, ele estava fadado ao insucesso.
Eu disse que a população de
Uiraúna merece unidade de saúde digna da cidade, que possa atender plenamente
senão todas as especialidades médicas, mas, pelo menos, a maioria e as
principais, de modo a proporcionar a tão sonhada tranquilidade ao seu povo, que
realmente bem merece ter atendimento médico-hospitalar de qualidade e satisfatoriedade,
tendo adiantado que essa possibilidade poderia ser tolhida com a construção de
hospital que não era aquele que a maioria da população deseja para a cidade.
O hospital cogitado não oferecia a
mínima garantia de atendimento digno, porque ele, a princípio, não passa de
arremedo de unidade de saúde acomodada ou, por assim dizer, era muito aquém das
pretensões para a garantia de saúde ao povo de Uiraúna, além da incerteza de ser
concluído de maneira satisfatória, ainda naquela gestão.
Eu disse que, em termos de
seriedade, competência e responsabilidade públicas, conviria que o poder
público de Uiraúna elaborasse projetos próprios de hospital digno à altura da
população local, com capacidade razoável para o pronto atendimento das
principais especialidades médicas, inclusive maternidade, composta por, no
mínimo, 50 leitos e UTIs compatíveis às necessidades, e ainda com a integração
dos equipamentos essenciais aos exames de radiografia, tomografia, laboratório
e outros indispensáveis ao imediato e preciso diagnóstico, além de oferecer
condições para pequenas cirurgias, permitindo que os clientes da cidade sejam
atendidos confortavelmente em casa, o que talvez não seja o caso do projeto em
questão, diante de suas limitações.
Eu fui muito
enfático, tendo dito que o povo precisa eleger alguém que tenha sensibilidade
para compreender as questões sociais de verdade e que possa perceber que Uiraúna
não pode se conformar senão com o hospital de verdade, construído sob os cuidados
vinculados às estruturas com a capacidade ideal de unidade de saúde decente, adequada
ao funcionamento de todas ou das principais especialidades médico-hospitalares,
com equipamentos e tudo o mais que realmente seja compatível com a grandeza do
povo de Uiraúna, que apenas se apequena com a aceitação de algo extremamente
modesto, diante da real importância do
seu merecimento.
Nas circunstâncias, não há a menor dúvida de que a aceitação
e o patrocínio dessa reforma meramente paliativa, com caráter visivelmente oportunista,
por apenas servir para resolver situações emergenciais, o que até realmente possa
já ser considerada muita coisa, diante de quem nada tem, mas isso pode ter o
condão de se transformar em enorme prejuízo para a população, que poderia
brigar e lutar por algo muito melhor, como hospital de verdade, com o
funcionamento completo e definitivo, sem ficar a dever aos demais hospitais da região.
Na verdade, trata-se da evidência de
insensibilidade para o trato de assunto da maior responsabilidade, pela forma
descuidada e de improvisação, que não podem ser aceitas normalmente, quando há possibilidade
de que a matéria de que se trata pudesse
ser implementada por meio de alternativa mais favorável à população, com a construção
de hospital de verdade, bastando seguir os caminhos normais junto aos órgãos públicos
federais que cuidam do assunto, os quais, possivelmente, nunca foram percorridos
até então, deixando para se recorrer à reforma prediais, na base da improvisação,
que, à toda evidência, não é certamente a melhor alternativa.
Ademais, trata-se de projeto que nem deveria ser
apresentado em ano eleitoral, salvo se o proponente não fosse candidato, conquanto,
em se tratando de medida importante para a população, ela poderia ter sido
apresentada há bastante tempo e não na proximidade das eleições, porque isso
pode caracterizar oportunismo do poder, em detrimento dos demais candidatos.
É preciso que se diga que a reforma em referência,
chamada erroneamente de construção de hospital, que foi apresentada no apagar das
luzes da gestão, representa menosprezo à inteligência do povo e desrespeito à
paciência e à boa vontade dos uiraunenses, que merecem consideração e valorização
à sua dignidade, com a colocação à sua disposição de hospital de verdade, construído
segundo as melhores recomendações arquitetônicas e de engenharia, na forma de
estruturações modernas, em condições normais de funcionamento de verdadeira unidade
hospitalar, que possa honrar o bom nome de hospital e dignificar a população.
A verdade é
que o então prefeito de Uiraúna mostrou, na oportunidade, ser excelente
estrategista político-administrativo, quando idealizou a construção do que
seria, para ele, o hospital, tendo cuidado de elaborar projeto mequetrefe, com
recursos de apenas, pasmem, quase R$ 540 mil, valor ínfimo ante a cogitação de
obra da maior importância para a cidade, conforme assim denominada por ele, que
não passava de algo surrealista, em termos de realidade.
Pois bem, com a certeza da aprovação de seu estranho
projeto, a matéria foi enviada a colenda Câmara Municipal, basicamente com o
discreto e velado alerta de que, quem discordasse dele, estaria fadado a nem se
reeleger, exatamente por se opor à construção de obra da maior importância para
população, que não se conformaria com medida senão da sua aprovação, nos exatos
termos da proposta elaborada e enviada ao exame político dos ilustrados vereadores.
Concomitantemente, a máquina pública cuidou de dizer
ao povo que a cidade ia contar com o importante hospital tão ansiado pela população,
fato este estrategicamente disseminado para cooptar apoio maciço da opinião
pública, o que seria o mesmo que dizer aos parlamentares que eles não tinham alternativa
e assim houve a maior boa vontade, jamais vista antes, para a aprovação, em
toque de caixa do projeto, que contou com o voto da unanimidade dos nobres
vereadores presentes e o incentivo da oposição que também nunca tinha
manifestado interesse de matéria do governo local, com ar de maior satisfação, tanto
que ficou se glorificando pela aprovação da importante obra para os uiraunenses,
quando, na verdade, a realidade dos fatos falava muito mais alta, no sentido de
que a estratégia prefeitoral funcionou perfeitamente.
É pena que a estratégia política é uma coisa e a
competência para tocar obra nem sempre compadecesse quando fosse preciso, como
nesse caso do hospital, que tudo deu certo antes do início da obra, que foi
considerada importante para a população por seu mentor, exatamente antes da
campanha eleitoral, porque ela seria seu principal trunfo eleitoreiro para
vencer o pleito.
Não obstante, a referida obra, ao que tudo indica, caíra
em desgraça, sem a menor importância, depois da derrota confirmada nas urnas,
tanto é que de obra de engenharia mesmo resta somente o esqueleto deixado para
a atual administração, que tem o dever de tocá-la, porque ela mereceu, boa ou
ruim para o povo, o seu aval, evidentemente por não apresentar alternativa
plausível, ou seja, coragem para denunciar a farsa armada estrategicamente para
o caso.
No frigir dos ovos, o então prefeito de Uiraúna,
talvez involuntariamente, tenha contribuído com excelente exemplo para os
administradores sérios, competentes e que realmente pretendem valorizar a
grandeza do povo, por meio do seu trabalho voltado exclusivamente para a satisfação
do interesse público, com embargo da defesa de interesses pessoais.
A riquíssima lição que fica desse imbróglio é que,
se o administrador pretende realizar alguma obra em benefício do povo, que se
empenhe em fazê-la bem antes do pleito eleitoral, com tempo suficiente para a
sua inauguração antes do término do mandato; nunca começar obra sem a absoluta
certeza da sua conclusão antes do término do mandato, porque isso implica em
ônus para o seu sucessor, que poderia ter ideia diferente da dele e talvez
melhor para a população; e, finalmente, ter o bom senso para não impor a aprovação
de projeto do seu exclusivo interesse político, sob ameaça velada, como
realmente pode ter acontecido com a aprovação desse fajuto projeto do hospital,
porque os virtuais candidatos da oposição temeram represália por parte da população.
Como considero-me pessoa que tanto lutou pela construção
de verdadeiro hospital em Uiraúna, ante a minha dedicação ao elaborar sobre o
tema mais de vinte crônicas, sempre procurando mostrar a melhor maneira para a obtenção
de importante unidade de saúde pública para essa cidade, como especial forma de
respeito à dignidade da população, sinto-me frustrado em saber que a obra iniciada
nesse sentido se encontra inconclusa e o seu mentor não teve a delicadeza de
justificar os principais motivos perante os uiraunenses, dizendo o porquê de não
tê-la concluída nem posta em funcionamento, em que pese ele tê-la considerado importante
para os seus conterrâneos.
Para concluir, é muito importante que seja
transcrito o pronunciamento do mentor do hospital em comento, a fim de mostrar o
seu interesse nele, embora, as obras eram importantes para o prefeito, elas poderiam
ter sido iniciadas em março ou abril, com previsão de conclusão bem antes da
campanha eleitoral e sem implicação com ela, que acabou tendo, e o pior é que
ela não foi entregue aos uiraunenses.
Eis a manifestação do prefeito sobre o hospital, verbis
“A aprovação do projeto ora encaminhado (à Câmara de Vereadores) é de
fundamental importância tendo em vista que a construção de uma unidade hospitalar
será de vital importância para que possamos oferecer um atendimento de
qualidade aos uiraunenses, pois passarão a ser atendidos em sua própria cidade,
não será preciso se deslocar para cidades vizinhas a procura de atendimentos, o
Hospital Municipal será um marco para a saúde de Uiraúna, sem dúvida uma obra
de extrema importância para quem utiliza e necessita do serviço público de saúde.
(...). (sic)”.
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