quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Cadê o hospital?

            Acredito que o povo de Uiraúna já estava preparado para aplaudir o anúncio da inauguração e do funcionamento do Hospital Municipal de Uiraúna, cujas obras mereceram os mais calorosos sentimentos de orgulho por parte do então prefeito, o seu mentor e principal executor.

Quando foi aventada a ideia da construção do hospital para a cidade, vi que a população se colocou em posição de apoio ao projeto, certamente na esperança de puder contar com uma unidade de saúde para o seu atendimento médico-hospitalar.

Eu, evidentemente por não morar na cidade, me coloquei como o único contrário à medida e escrevi várias crônicas, mostrando as inconveniências e as precipitações da medida, por perceber que se tratava de algo concebido sob o artifício da esperteza política.

Na oportunidade, eu disse que o poder público precisa resolver a gravíssima questão, com urgência e em nível de prioridade, porque já passou do tempo de Uiraúna ter hospital decente para o confortável e o cômodo atendimento de seus pacientes, principalmente tendo em conta que a cidade é berço de muitos, bons e dedicados médicos, que, certamente, gostariam muito de, em prova de amor à terra natal, prestar importantes serviços aos seus conterrâneos.

Isso funciona como contrassenso, que a terra dos médicos não disponha de hospital e que seu povo viva de favores de outros hospitais, já superlotados com os próprios pacientes, com limitações próprias do atendimento normal, devido à inevitável demanda da procura médico-hospitalar, o que cresce de importância o empenho por unidade hospitalar digna da população.

Eu antevia que o hospital pretendido não passava de mais uma daquelas obras que começaram com bastante fogo de palha, muito alarde e enganosa publicidade por parte de seu criador, mas, por força da fragilidade de seus componentes, em especial da insuficiência crônica de recursos, ele estava fadado ao insucesso.

Eu disse que a população de Uiraúna merece unidade de saúde digna da cidade, que possa atender plenamente senão todas as especialidades médicas, mas, pelo menos, a maioria e as principais, de modo a proporcionar a tão sonhada tranquilidade ao seu povo, que realmente bem merece ter atendimento médico-hospitalar de qualidade e satisfatoriedade, tendo adiantado que essa possibilidade poderia ser tolhida com a construção de hospital que não era aquele que a maioria da população deseja para a cidade.

O hospital cogitado não oferecia a mínima garantia de atendimento digno, porque ele, a princípio, não passa de arremedo de unidade de saúde acomodada ou, por assim dizer, era muito aquém das pretensões para a garantia de saúde ao povo de Uiraúna, além da incerteza de ser concluído de maneira satisfatória, ainda naquela gestão.

Eu disse que, em termos de seriedade, competência e responsabilidade públicas, conviria que o poder público de Uiraúna elaborasse projetos próprios de hospital digno à altura da população local, com capacidade razoável para o pronto atendimento das principais especialidades médicas, inclusive maternidade, composta por, no mínimo, 50 leitos e UTIs compatíveis às necessidades, e ainda com a integração dos equipamentos essenciais aos exames de radiografia, tomografia, laboratório e outros indispensáveis ao imediato e preciso diagnóstico, além de oferecer condições para pequenas cirurgias, permitindo que os clientes da cidade sejam atendidos confortavelmente em casa, o que talvez não seja o caso do projeto em questão, diante de suas limitações.

 Eu fui muito enfático, tendo dito que o povo precisa eleger alguém que tenha sensibilidade para compreender as questões sociais de verdade e que possa perceber que Uiraúna não pode se conformar senão com o hospital de verdade, construído sob os cuidados vinculados às estruturas com a capacidade ideal de unidade de saúde decente, adequada ao funcionamento de todas ou das principais especialidades médico-hospitalares, com equipamentos e tudo o mais que realmente seja compatível com a grandeza do povo de Uiraúna, que apenas se apequena com a aceitação de algo extremamente modesto, diante da real  importância do seu merecimento.

Nas circunstâncias, não há a menor dúvida de que a aceitação e o patrocínio dessa reforma meramente paliativa, com caráter visivelmente oportunista, por apenas servir para resolver situações emergenciais, o que até realmente possa já ser considerada muita coisa, diante de quem nada tem, mas isso pode ter o condão de se transformar em enorme prejuízo para a população, que poderia brigar e lutar por algo muito melhor, como hospital de verdade, com o funcionamento completo e definitivo, sem ficar a dever aos demais hospitais da região.

Na verdade, trata-se da evidência de insensibilidade para o trato de assunto da maior responsabilidade, pela forma descuidada e de improvisação, que não podem ser aceitas normalmente, quando há possibilidade de que a matéria  de que se trata pudesse ser implementada por meio de alternativa mais favorável à população, com a construção de hospital de verdade, bastando seguir os caminhos normais junto aos órgãos públicos federais que cuidam do assunto, os quais, possivelmente, nunca foram percorridos até então, deixando para se recorrer à reforma prediais, na base da improvisação, que, à toda evidência, não é certamente a melhor alternativa.

Ademais, trata-se de projeto que nem deveria ser apresentado em ano eleitoral, salvo se o proponente não fosse candidato, conquanto, em se tratando de medida importante para a população, ela poderia ter sido apresentada há bastante tempo e não na proximidade das eleições, porque isso pode caracterizar oportunismo do poder, em detrimento dos demais candidatos.    

É preciso que se diga que a reforma em referência, chamada erroneamente de construção de hospital, que foi apresentada no apagar das luzes da gestão, representa menosprezo à inteligência do povo e desrespeito à paciência e à boa vontade dos uiraunenses, que merecem consideração e valorização à sua dignidade, com a colocação à sua disposição de hospital de verdade, construído segundo as melhores recomendações arquitetônicas e de engenharia, na forma de estruturações modernas, em condições normais de funcionamento de verdadeira unidade hospitalar, que possa honrar o bom nome de hospital e dignificar a população.

 A verdade é que o então prefeito de Uiraúna mostrou, na oportunidade, ser excelente estrategista político-administrativo, quando idealizou a construção do que seria, para ele, o hospital, tendo cuidado de elaborar projeto mequetrefe, com recursos de apenas, pasmem, quase R$ 540 mil, valor ínfimo ante a cogitação de obra da maior importância para a cidade, conforme assim denominada por ele, que não passava de algo surrealista, em termos de realidade.

Pois bem, com a certeza da aprovação de seu estranho projeto, a matéria foi enviada a colenda Câmara Municipal, basicamente com o discreto e velado alerta de que, quem discordasse dele, estaria fadado a nem se reeleger, exatamente por se opor à construção de obra da maior importância para população, que não se conformaria com medida senão da sua aprovação, nos exatos termos da proposta elaborada e enviada ao exame político dos ilustrados vereadores.

Concomitantemente, a máquina pública cuidou de dizer ao povo que a cidade ia contar com o importante hospital tão ansiado pela população, fato este estrategicamente disseminado para cooptar apoio maciço da opinião pública, o que seria o mesmo que dizer aos parlamentares que eles não tinham alternativa e assim houve a maior boa vontade, jamais vista antes, para a aprovação, em toque de caixa do projeto, que contou com o voto da unanimidade dos nobres vereadores presentes e o incentivo da oposição que também nunca tinha manifestado interesse de matéria do governo local, com ar de maior satisfação, tanto que ficou se glorificando pela aprovação da importante obra para os uiraunenses, quando, na verdade, a realidade dos fatos falava muito mais alta, no sentido de que a estratégia prefeitoral funcionou perfeitamente.

É pena que a estratégia política é uma coisa e a competência para tocar obra nem sempre compadecesse quando fosse preciso, como nesse caso do hospital, que tudo deu certo antes do início da obra, que foi considerada importante para a população por seu mentor, exatamente antes da campanha eleitoral, porque ela seria seu principal trunfo eleitoreiro para vencer o pleito.

Não obstante, a referida obra, ao que tudo indica, caíra em desgraça, sem a menor importância, depois da derrota confirmada nas urnas, tanto é que de obra de engenharia mesmo resta somente o esqueleto deixado para a atual administração, que tem o dever de tocá-la, porque ela mereceu, boa ou ruim para o povo, o seu aval, evidentemente por não apresentar alternativa plausível, ou seja, coragem para denunciar a farsa armada estrategicamente para o caso.

No frigir dos ovos, o então prefeito de Uiraúna, talvez involuntariamente, tenha contribuído com excelente exemplo para os administradores sérios, competentes e que realmente pretendem valorizar a grandeza do povo, por meio do seu trabalho voltado exclusivamente para a satisfação do interesse público, com embargo da defesa de interesses pessoais.

A riquíssima lição que fica desse imbróglio é que, se o administrador pretende realizar alguma obra em benefício do povo, que se empenhe em fazê-la bem antes do pleito eleitoral, com tempo suficiente para a sua inauguração antes do término do mandato; nunca começar obra sem a absoluta certeza da sua conclusão antes do término do mandato, porque isso implica em ônus para o seu sucessor, que poderia ter ideia diferente da dele e talvez melhor para a população; e, finalmente, ter o bom senso para não impor a aprovação de projeto do seu exclusivo interesse político, sob ameaça velada, como realmente pode ter acontecido com a aprovação desse fajuto projeto do hospital, porque os virtuais candidatos da oposição temeram represália por parte da população.

Como considero-me pessoa que tanto lutou pela construção de verdadeiro hospital em Uiraúna, ante a minha dedicação ao elaborar sobre o tema mais de vinte crônicas, sempre procurando mostrar a melhor maneira para a obtenção de importante unidade de saúde pública para essa cidade, como especial forma de respeito à dignidade da população, sinto-me frustrado em saber que a obra iniciada nesse sentido se encontra inconclusa e o seu mentor não teve a delicadeza de justificar os principais motivos perante os uiraunenses, dizendo o porquê de não tê-la concluída nem posta em funcionamento, em que pese ele tê-la considerado importante para os seus conterrâneos.

Para concluir, é muito importante que seja transcrito o pronunciamento do mentor do hospital em comento, a fim de mostrar o seu interesse nele, embora, as obras eram importantes para o prefeito, elas poderiam ter sido iniciadas em março ou abril, com previsão de conclusão bem antes da campanha eleitoral e sem implicação com ela, que acabou tendo, e o pior é que ela não foi entregue aos uiraunenses.

Eis a manifestação do prefeito sobre o hospital, verbisA aprovação do projeto ora encaminhado (à Câmara de Vereadores) é de fundamental importância tendo em vista que a construção de uma unidade hospitalar será de vital importância para que possamos oferecer um atendimento de qualidade aos uiraunenses, pois passarão a ser atendidos em sua própria cidade, não será preciso se deslocar para cidades vizinhas a procura de atendimentos, o Hospital Municipal será um marco para a saúde de Uiraúna, sem dúvida uma obra de extrema importância para quem utiliza e necessita do serviço público de saúde. (...). (sic)”.

        Brasília, em 7 de janeiro de 2021

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