quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Repugnáveis atos de insurreição

Uma multidão de apoiadores do candidato republicano derrotado na eleição presidencial dos Estados Unidos da América invadiu o Capitólio, sede do Congresso americano, ontem, durante a sessão destinada à contagem e certificação oficial dos votos do Colégio Eleitoral, para se confirmar a eleição do candidato democrata eleito presidente.

A invasão aconteceu enquanto senadores e deputados debatiam se iriam acatar uma objeção aos resultados no estado do Arizona.

A votação foi paralisada e todo Capitólio foi evacuado, mas a baderna foi intensa e violenta que policiais e civis ficaram bastantes feridos e quatro pessoas perderam a vida.

O vice-presidente dos Estados Unidos, que preside o Congresso, foi escoltado e retirado do edifício e os parlamentares foram levados para locais seguros dentro do prédio principal.

Os manifestantes foram retirados do local depois de violenta batalha e muita agressão.

O presidente eleito dos Estados Unidos fez discurso após a aludida invasão, tendo afirmando que “Nossa democracia está sendo atacada, um ataque aos representantes do povo (…) As cenas de caos não refletem a América verdadeira. O que vimos foi um pequeno número de extremistas. Isto é desordem, é o caos. Eu peço para que esta multidão se retire. As palavras de um presidente podem inspirar ou, na pior das hipóteses, incitar. Isto não é protesto, é insurreição. Eu estou chocado e triste que nossa nação, farol da democracia, tenha chegado em um momento tão triste”.

O presidente dos Estados Unidos pediu a retirada pacífica dos invasores, mas ele manteve o discurso de que houve fraude nas eleições, sem apresentar nenhuma prova, tendo afirmado que “Eu conheço a sua dor e sei que estão machucados, porque uma eleição foi roubada de nós”.

Na verdade, o que se passa na cabeça do candidato republicano derrotado se caracteriza como forte estado crônico de loucura de pessoa que não aceita ser afastada da Casa Branca, pela espontânea e soberana vontade dos americanos, sob a síndrome da existência de pseudofraudes no processo eleitoral, sem ter conseguido ganhar nenhum recurso dos mais de 60 impetrados nos tribunais contra os resultados das apurações.

Na verdade, esse estado de insanidade se acentua quando foi verificado que todas as autoridades eleitorais, que comandaram os processos pertinentes, atestaram a lisura e a regularidade das apurações, não tendo constatado senão a limpa vitória do candidato democrata.

O que se viu ontem foi a consumação da permanente incitação ao crime comandada pelo candidato derrotado, que não aceita a perda da eleição presidencial, conforme mostram as urnas, mas a sua debilidade insiste na fabricação de mentiras em cima de mentiras, que foram todas refutadas pelos tribunais por onde impetrou recursos, sem que nenhum tenha sido provido.

O certo é que a maior democracia do planeta se encontra envolta em terrível crise de valores éticos por obra e graça de ação incitada por desprestigiado presidente que se agarra ao poder, com unhas e dentes, na tentativa de permanecer na Casa Branca, por meio de força e violência, em clara demonstração de atropelamento aos princípios democráticos, que foram trucidados pela forma mais vil de incivilidade. 

A atitude do presidente norte-americano bem se compara ao estilo dos ditadores que chegam ao poder por meio da democracia, com o voto do povo,  mas não aceita que esse mesmo voto o tire do trono, preferindo inventar a existência de fraudes, sem nenhuma prova, para se perpetuar no poder, em evidente desrespeito aos ditames constitucional e legal, além do desprezo à vontade do povo, cujo procedimento evidencia verdadeiro retrocesso da democracia e da desmoralização da democracia, que é a maneira mais cristalina da representatividade da vontade do povo.

Não importa de onde vier o apoio, mas, para o bem e a oxigenação da democracia mundial, é preciso que as pessoas gritem em repúdio às bárbaras atitudes do candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, como maneira civilizada de se ensinar que é preciso a aceitação pacífica das regras eleitorais, onde o vencedor é aquele que tenha obtido a maioria dos votos, como foi o resultado das urnas americanas, ressalvadas as situações de patentes e comprováveis fraudes, em que realmente se enseja a anulação dos casos irregulares, se realmente existentes.

Assim, é importante que o candidato republicano derrotado dos Estados Unidos seja inserido no rol dos políticos com a pior índole antidemocrática, por resistir, sem qualquer respaldo jurídico, ao resultado legítimo das urnas do seu país, conforme atestado pelas autoridades eleitorais, ficando assente que a sua atitude é péssimo exemplo para o resto do mundo, que sempre tem o conceito de que a democracia norte-americana seria a mais saudável do planeta.

O império da democracia tem como pressuposto o respeito ao arcabouço jurídico da nação, à integridade das instituições públicas, à soberania da população, manifestada por meio do sufrágio universal, à ordem pública e tudo o mais que possa contribuir para o engrandecimento do povo, em termos de civilidade.

Com a liderança inconteste do presidente dos Estados Unidos, seguidores de sua causa eleitoral conseguiram varrer para debaixo do tapete todos os aludidos princípios de civilidade, em atos de muita violência e irracionalidade, tendo causado não somente a interrupção da sessão do Congresso norte-americano, como graves ferimentos de pessoas e a morte de quatro outras, foto este que caracteriza a prática de graves crimes contra a integridade da pátria e de seres humanos, cujos envolvidos precisam sim ser responsabilizados,  penal e criminalmente, com sanções duríssimas, como forma tanto de reparação pelos danos causados à honra do país como pela perda de vidas humanas.

É preciso que os envolvidos nesse lastimável episódio, inclusive o presidente norte-americano, principal incitador desse horroroso movimento antidemocrático, sejam exemplarmente punidos, de modo a mostrar, ao mundo civilizado, a repugnância pelas atitudes extremamente danosas deles à pátria e à sociedade e servir como importante lição pedagógica para se evitar que casos similares venham a incidir novamente.

Convém que as lideranças causadoras da baderna e da destruição dos princípios civilizatórios sejam também proibidas, em definitivo, do exercício de cargos públicos, por terem protagonizados atos de insurreição contra os sublimes princípios essenciais da pátria.   

          Brasília, em 7 de janeiro de 2021 

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