quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O pau que nasce torto...

 

O Instituto Butantan disse que parou a produção de novas doses da vacina CoronaVac, contra a Covid-19, desde o último dia 17, em razão da falta de insumos que são importados da China.

O presidente daquele instituto disse que está prevista a chegada de 5.400 litros no fim do mês e mais 5.600 litros até o dia 10 de fevereiro. 

Segundo aquela autoridade, “Essa matéria-prima está pronta e aguardando trâmite burocrático”.

O presidente do Butantan disse que esta quantidade de insumos vai permitir a produção de até 11 milhões de novas doses da CoronaVac.

Até o momento foram distribuídas 6 milhões de doses da vacina e outras 4,8 milhões já estão prontas e aguardam autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A burocracia mencionada acima tem relação com as dificuldades diplomáticas criadas pelo Itamaraty, a começar de quando o Brasil endureceu com a China, de forma desnecessária, depois que um filho do presidente da República distribuiu nota desaforada contra aquele país, tendo recebido como resposta duras palavras do embaixador, dizendo que ele deveria se comportar com civilidade e respeito perante o governo chinês.

Diante disso, o ministro das Relações Exteriores brasileiro tomou as dores do filho do presidente, ao repreender severamente o embaixador chinês, quando, em respeito às relações comerciais e de amizade de alto nível, era preferível que essa autoridade tivesse procurado colocar panos quentes na questão, ao somente falar para o indevido falastrão e intrometido filho do presidente do país não se imiscuir em assuntos da maior relevância da competência exclusiva do Estado brasileiro, como ele efetivamente fez, que foi em atitude da maior irresponsabilidade, diante da consequência desastrosa e prejudicial aos interesses do Brasil.

Também causou perplexidade o fato de que o referido episódio tenha merecido apenas o silêncio do presidente brasileiro, que deveria ter sido o primeiro a puxar a orelha do filho, por tamanha leviandade, que agora é usada em represália para prejudicar diretamente os brasileiros, na questão relacionada com a imunização, que certamente vai atrasar, à medida que já está parado e atrasado o fabrico de novas vacinas, desde o último dia 17 e a sua retomada pende da boa vontade tanto dos chineses como dos indianos.

A verdade é que, diante da fratura exposta nas relações diplomáticas, agora o Brasil e mais especificamente os brasileiros estão sendo prejudicados, porque a China tem procurado dificultar a liberação dos insumos, fato que se traduz em grave prejuízo para o programa referente à vacinação, que vai ter que esperar pouco mais tempo para a retomada da produção de vacinas, exatamente pela insensata e irresponsável atitude protagonizada pelo filho do homem.

Por sua vez, a Índia também engrossou o caldo com o Brasil, ao atrasar, de propósito, a liberação da vacina que havia negociado, sob a alegação de que o Itamaraty, obviamente representando o Brasil, deixou de apoiar aquele país, na Organização Mundial do Comércio, cuja indelicadeza diplomática é restituída com o pagamento pelo atraso na liberação da vacina em causa.

É evidente que os atrasos na imunização se devem à incompetência diplomática brasileira, com origem no órgão que tem como função institucional exatamente atuar para quebrar arestas junto aos países amigos, em especial com aqueles que mantêm excelentes relações comerciais com o Brasil.  

À toda evidência, parece até brincadeira do governo com os brasileiros, quando decide iniciar a imunização ao meio da improvisação e absolutamente sem planejamento algum, como mostram os fatos, onde pode faltar, em pleno processamento, o principal produto e os acessórios, no caso da inexistência em estoque de vacinas, seringas e agulhas, em clara demonstração de desorganização, em se tratando de assunto da maior importância, porque diz respeito a preservação de preciosas vidas humanas, mas, mesmo assim, falta seriedade e competência para a prestação dos serviços de saúde pública, onde não pode haver falha de forma alguma, à vista dos princípios da competência e da responsabilidade.  

Pode-se até ser alegado que se trata do aparecimento de caso fortuito, em que precisamente os principais países importadores das vacinas ou dos insumos tiveram seus interesses contrariados logo pelo Brasil, cuja população termina sendo prejudicada por trapalhadas protagonizadas por autoridades públicas, que precisam não somente evitar tamanhos desacertos, como conduzir assunto dessa magnitude com as devidas seriedade e competência, ante o envolvimento de vidas humanas.

O governo minimamente organizado e preocupado com o bem-estar da população já deveria ter planejado com muita antecedência e segurança tudo referente à imunização, mediante a compra das vacinas, em quantidade suficiente, e de todos os equipamentos essenciais e necessários, ficando a salvo das situações de imprevisibilidade, como nesse caso.

Caso esse imbróglio não seja resolvido o quanto antes, pela ainda que despreparada e desastrada equipe diplomática, os brasileiros vão ser obrigados a esperar para a realização da tão ansiada imunização, algo que é, sem dúvida, imperdoável, diante das circunstâncias da grave crise da pandemia do coronavírus, já que o começo dela teve colossal atraso de quase um mês, justamente na incerteza de não ter vacina suficiente, previsão esta que acaba de ser confirmada pelo Instituto Butantan.

Infelizmente, essa lamentável situação só confirma a insensibilidade e o desprezo das autoridades públicas incumbidas da saúde pública para com a preciosa vida dos brasileiros, que já deveriam estar sendo imunizados desde o final do ano passado, como fizeram os mais de cinquentas países, cujos mandatários que estavam em completa sintonia com o seu dever de proteger a sua população.

Diferentemente disso, a preservação da vida humana, no país tupiniquim, vem sendo administrada aos trancos e barrancos, ao meio de procedimentos pródigos em desorganização e falta de planejamento, diante de muitas e injustificáveis trapalhadas em assunto de sublime relevância, que tem como resultado inevitável a ineficiência na prestação dos serviços de saúde pública, que jamais deveriam falhar, quando se tem por escopo justamente a proteção e a integridade da vida humana.        

Brasília, em 21 de janeiro de 2021 

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