Em crônica, mostrei um pouco da tragédia acontecida
em Manaus, onde a falta de oxigênio causou a morte de mais de 30 pessoas, por
culpa da incompetência administrativa, aproveitando o ensejo para alertar que a
sociedade precisa atentar para o fato de que ainda é enorme o risco de colapso
do sistema de saúde em várias localidades do país e somente haverá alguma forma
de se livrar dos cuidados contra a Covid-19 depois da imunização, algo que
somente terá abrangência para aqueles que estejam bem quando a vacina chegar.
Um respeitável e atencioso conterrâneo meu escreveu
mensagem chamando a atenção para o fato de que o presidente do país prestou socorro a Manaus, nestes termos: “Dileto
amigo, vi agora aqui no Facebook uma entrevista do governador do Amazonas
agradecendo enormemente ao presidente pela grande ajuda ao seu estado nesse
momento, inclusive até em desobediência ao STF que o proibiu de interferir nos
Estados! as pessoas precisam checar as notícias, pois a imprensa brasileira só
desinforma e manipula o povo inculto desse país, somos manipulados o tempo
inteiro pelo mau-caratismo dessa imprensa desonesta.”.
Eu
vi o vídeo em que o governador do Amazonas faz rasgados elogios ao presidente
brasileiro, dizendo da maior importância dos cuidados prestados por ele,
inclusive na montagem emergencial de hospitais improvisados, para acudir os doentes.
Não
há a menor dúvida de que as declarações do governador são da maior importância,
mas infelizmente elas não servem absolutamente para nada, na solução dos fatos
horrorosos já havidos e muito menos em termos de justificativa plausível para o
ocorrido, porque, nesse lamentável episódio, morreram mais de 30 pessoas
inocentes por causa da visível incompetência dos governantes, que poderiam ter feito,
com a bastante antecedência, o devido planejamento sobre o estoque de material
necessário ao suprimento dos hospitais do estado, porque isso é algo
absolutamente elementar, como obrigação do agente público.
À
primeira vista, o descaso é visível das autoridades do Amazonas, a ponto de se
levar o caos para Manaus e permitir que as pessoas morressem asfixiadas, exatamente
por falta de equipamentos apropriados e comuns nos hospitais.
É
preciso se indagar quem são os responsáveis por essa fenomenal tragédia humana e quem vai acalentar as
família que perderam seus queridos entes, para o fim de minorar a sua profunda
dor?
As
medidas adotadas posteriormente ao desastre havido, as mais eficientes
possíveis e imagináveis que sejam, não passam de mera vaselinagem que muitos
brasileiros aceitam como sendo os importantes cuidados adotados pelas sensatas
autoridades do país, sem vislumbrar que elas deveriam ter agido antes da
tragédia, cuidando dos mínimos detalhes para se evitar as mortes havidas,
justamente por mera incompetência gerencial e falta de sensibilidade para com as
vidas humanas.
Os
termos do meu artigo se mantêm totalmente válidos, porque eles só mostram a
extrema insensibilidade das autoridades deste país, que preferem levar em
consideração o que fazem depois da tragédia, quando o mais importante seria
evitá-la, principalmente porque, no caso da perda de vidas, não há mais nada a
ser feito, senão transferir a enorme dor para dentro do coração de dezenas de famílias
e amigos, como no caso de um filho amazonense, que lamentou a morte de seus pais,
ambos no mesmo dia, e apenas restou a ele dizer: "perdi meus pais por
falta do precioso ar".
Para
esse cidadão e muitos outros na mesma situação, as preciosas medidas adotadas
posteriores não fazem a menor diferença, agora, justamente porque Inês já está
morta e elas apenas suprem a carência resultante de muitas perdas de vidas humanas
e o restabelecimento da normalidade, sem acrescentar nada à rotina que todo hospital
precisa para funcionar e atender com dignidade aos seus pacientes.
A
verdade é que, depois do leite derramado, não adianta vir elogiar as
autoridades, porque ainda permanece a grave culpa delas, ante a irreparável
tragédia humana.
Fico
sim extremamente indignado, como humanista e cidadão que ama e defende a vida,
de viver em país em que as pessoas se conformam com autoridades que acham que
estão prestando favores à sociedade, quando é sua obrigação de bem cuidar das
pessoas, por força da sua obrigação de defendê-las.
Fiquei
chocado com a declaração do presidente da República, que acabou de dizer que
ele poderia estar na praia, neste momento, ao invés de estar cuidando das
desgraças do Brasil, como se ele estivesse no governo por imposição de outrem e
não por opção voluntária dele, de se candidatar e ser eleito presidente do
Brasil.
Peço
desculpas pelo meu educado desabafo, mas eu prefiro enxergar os fatos como eles
realmente são não por sentimentos ideológicos, como muitas pessoas fazem,
simplesmente para a satisfação de seu ego, mas ignorando os acontecimentos e
pondo a culpa em outrem.
Em
outras palavras, eu prefiro ser realista, para ficar com a minha consciência
tranquila, mesmo porque eu não tenho e prefiro nunca ter sangue de barata, para
aceitar desculpas esfarrapadas, depois de tamanha tragédia que somente se
recomendaria a imposição de prisão para todas as autoridades públicas envolvidas
nesse horroroso genocídio, que causou a morte de mais de 30 pessoas, por mera
incompetência administrativa e não há nada capaz de reparação.
Posso até assegurar que eu não me deixo levar pela
imprensa, nem considero que ela seja desonesta e tenha o propósito de
desinformar, mas sim que ela é de extrema importância no país democrático,
porque ela tem a missão da maior relevância de informar os fatos à sociedade,
até mesmo aqueles que não são do agrado do governo e de seus apoiadores, que
certamente gostariam que somente fossem publicadas as informações do seu agrado,
jogando os podres para debaixo do tapete.
Na verdade, isso torna impossível em uma democracia
plural, em que todos os fatos precisam ser levados ao conhecimento da
sociedade, mesmo aqueles relacionados com as tragédias causadas pela incompetência
dos governantes, como nesse caso de Manaus, em que é imperioso que os culpados
sejam investigados, para que eles sejam devidamente sancionados com as penas
exemplares, diante da perda de dezenas de vidas e que isso sirva de exemplo,
para que fatos similares sejam definitivamente evitados, para o bem da humanidade.
Brasília, em 16 de janeiro de 2021
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