sábado, 16 de janeiro de 2021

Irreparável tragédia

 

Em crônica, mostrei um pouco da tragédia acontecida em Manaus, onde a falta de oxigênio causou a morte de mais de 30 pessoas, por culpa da incompetência administrativa, aproveitando o ensejo para alertar que a sociedade precisa atentar para o fato de que ainda é enorme o risco de colapso do sistema de saúde em várias localidades do país e somente haverá alguma forma de se livrar dos cuidados contra a Covid-19 depois da imunização, algo que somente terá abrangência para aqueles que estejam bem quando a vacina chegar.

Um respeitável e atencioso conterrâneo meu escreveu mensagem chamando a atenção para o fato de que o presidente do país prestou  socorro a Manaus, nestes termos: “Dileto amigo, vi agora aqui no Facebook uma entrevista do governador do Amazonas agradecendo enormemente ao presidente pela grande ajuda ao seu estado nesse momento, inclusive até em desobediência ao STF que o proibiu de interferir nos Estados! as pessoas precisam checar as notícias, pois a imprensa brasileira só desinforma e manipula o povo inculto desse país, somos manipulados o tempo inteiro pelo mau-caratismo dessa imprensa desonesta.”.   

Eu vi o vídeo em que o governador do Amazonas faz rasgados elogios ao presidente brasileiro, dizendo da maior importância dos cuidados prestados por ele, inclusive na montagem emergencial de hospitais improvisados, para acudir os doentes.

Não há a menor dúvida de que as declarações do governador são da maior importância, mas infelizmente elas não servem absolutamente para nada, na solução dos fatos horrorosos já havidos e muito menos em termos de justificativa plausível para o ocorrido, porque, nesse lamentável episódio, morreram mais de 30 pessoas inocentes por causa da visível incompetência dos governantes, que poderiam ter feito, com a bastante antecedência, o devido planejamento sobre o estoque de material necessário ao suprimento dos hospitais do estado, porque isso é algo absolutamente elementar, como obrigação do agente público.

À primeira vista, o descaso é visível das autoridades do Amazonas, a ponto de se levar o caos para Manaus e permitir que as pessoas morressem asfixiadas, exatamente por falta de equipamentos apropriados e comuns nos hospitais.    

É preciso se indagar quem são os responsáveis por essa fenomenal  tragédia humana e quem vai acalentar as família que perderam seus queridos entes, para o fim de minorar a sua profunda dor?

As medidas adotadas posteriormente ao desastre havido, as mais eficientes possíveis e imagináveis que sejam, não passam de mera vaselinagem que muitos brasileiros aceitam como sendo os importantes cuidados adotados pelas sensatas autoridades do país, sem vislumbrar que elas deveriam ter agido antes da tragédia, cuidando dos mínimos detalhes para se evitar as mortes havidas, justamente por mera incompetência gerencial e falta de sensibilidade para com as vidas humanas.

Os termos do meu artigo se mantêm totalmente válidos, porque eles só mostram a extrema insensibilidade das autoridades deste país, que preferem levar em consideração o que fazem depois da tragédia, quando o mais importante seria evitá-la, principalmente porque, no caso da perda de vidas, não há mais nada a ser feito, senão transferir a enorme dor para dentro do coração de dezenas de famílias e amigos, como no caso de um filho amazonense, que lamentou a morte de seus pais, ambos no mesmo dia, e apenas restou a ele dizer: "perdi meus pais por falta do precioso ar".

Para esse cidadão e muitos outros na mesma situação, as preciosas medidas adotadas posteriores não fazem a menor diferença, agora, justamente porque Inês já está morta e elas apenas suprem a carência resultante de muitas perdas de vidas humanas e o restabelecimento da normalidade, sem acrescentar nada à rotina que todo hospital precisa para funcionar e atender com dignidade aos seus pacientes.

A verdade é que, depois do leite derramado, não adianta vir elogiar as autoridades, porque ainda permanece a grave culpa delas, ante a irreparável tragédia humana.

Fico sim extremamente indignado, como humanista e cidadão que ama e defende a vida, de viver em país em que as pessoas se conformam com autoridades que acham que estão prestando favores à sociedade, quando é sua obrigação de bem cuidar das pessoas, por força da sua obrigação de defendê-las.

Fiquei chocado com a declaração do presidente da República, que acabou de dizer que ele poderia estar na praia, neste momento, ao invés de estar cuidando das desgraças do Brasil, como se ele estivesse no governo por imposição de outrem e não por opção voluntária dele, de se candidatar e ser eleito presidente do Brasil.

Peço desculpas pelo meu educado desabafo, mas eu prefiro enxergar os fatos como eles realmente são não por sentimentos ideológicos, como muitas pessoas fazem, simplesmente para a satisfação de seu ego, mas ignorando os acontecimentos e pondo a culpa em outrem.

Em outras palavras, eu prefiro ser realista, para ficar com a minha consciência tranquila, mesmo porque eu não tenho e prefiro nunca ter sangue de barata, para aceitar desculpas esfarrapadas, depois de tamanha tragédia que somente se recomendaria a imposição de prisão para todas as autoridades públicas envolvidas nesse horroroso genocídio, que causou a morte de mais de 30 pessoas, por mera incompetência administrativa e não há nada capaz de reparação.

Posso até assegurar que eu não me deixo levar pela imprensa, nem considero que ela seja desonesta e tenha o propósito de desinformar, mas sim que ela é de extrema importância no país democrático, porque ela tem a missão da maior relevância de informar os fatos à sociedade, até mesmo aqueles que não são do agrado do governo e de seus apoiadores, que certamente gostariam que somente fossem publicadas as informações do seu agrado, jogando os podres para debaixo do tapete.

Na verdade, isso torna impossível em uma democracia plural, em que todos os fatos precisam ser levados ao conhecimento da sociedade, mesmo aqueles relacionados com as tragédias causadas pela incompetência dos governantes, como nesse caso de Manaus, em que é imperioso que os culpados sejam investigados, para que eles sejam devidamente sancionados com as penas exemplares, diante da perda de dezenas de vidas e que isso sirva de exemplo, para que fatos similares sejam definitivamente evitados, para o bem da humanidade.

Brasília, em 16 de janeiro de 2021

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