O
presidente da República resolveu, hoje, se lamuriar junto a apoiadores, tendo
afirmado que "Chefe, o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer
nada.”, sem ter entrado em detalhes.
Não obstante, o
presidente entendeu que a culpa pela derrocada do país é da imprensa, tendo
declarado que "Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de
tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia".
É
preciso que fique claro que o presidente da República, tendo por base as suas metas
e propostas para o governo, é eleito para implementar e assegurar qualidade de
vida à população brasileira e fomentar medidas que possam contribuir para o
desenvolvimento do Brasil.
À
toda evidência, desde que tomou posse o presidente entrou em túnel de vento que
tenta se equilibrar nas suas ondas para combater o mundo das fantasias criadas
e alimentadas por ele, com maior força para inexistentes conspirações criadas pela
imprensa e opositores, com a finalidade de tirá-lo do governo, aproveitando a
influência do cargo para proteger a família e os amigos, inclusive com o uso da
máquina pública, deixando à margem exatamente as funções para as quais ele foi
eleito.
Parece ser passo
importante o presidente do país reconhecer que ele é realmente incompetente
para evitar a quebra do país, mas a atribuir-se seu fracasso a outrem, em
especial à imprensa, não tem o menor cabimento, considerando, que a principal função
dela é o aperfeiçoamento da democracia, que funciona sob os seus holofotes sempre
direcionados para os atos do governo, como instrumento valioso de fiscalização
do poder público.
A
verdade é que o homem público tem todo direito de espernear livremente, mas o
presidente imagina que tem autoridade para atacar fortemente o jornalismo e os
jornalistas que não comungam com ele na mesma cartilha.
Nessa declaração, talvez
sem perceber, ele assume que dirige o país quebrado, mas tal situação foi também
por culpa dele, quando inarredavelmente somente ao presidente pode ser
atribuído qualquer descaminho da gestão pública, não sendo justo que se atribua
parcela de culpa a outrem e muito menos à imprensa.
O
presidente precisa se conscientizar de que os seus atos, como principal agente
público, devem ser assumidos por ele, cuja responsabilidade é intransferível e
indelegável, ou seja, trata-se de algo sem terceirização.
Já está mais do que
claro que o presidente vem trabalhando na consolidação do seu único projeto
político, que é própria reeleição daqui a 2 anos, conquanto ele nem tem ainda
legado de administrador capaz de se sustentar como liderança, posto que ele
reconhece que não teve condições para evitar que o Brasil fosse quebrado, tendo
reconhecido que ele não pode fazer nada agora, mesmo sabendo que ele é o poder
e tem influência de convocar as forças necessárias para tentar mudar o status
quo, mas a incompetência é tanto que ele não consegue socorrer o desastre à
sua frente.
A
verdade é que muitos apoiadores do presidente já atingiram nível tal de
fanatismo que não conseguem captar a realidade dos fatos, segundo a qual, a
partir da declaração de que ele não pode fazer nada, a alternativa é adotar
alguma medida urgente, mas ele só lamenta e põe a culpa na imprensa e nas forças
de inexistentes conspirações, mantendo, mesmo assim, seu ambicioso projeto da reeleição.
O plano nacional de
combate à Covid-19, destinado à aquisição de vacinas antecipadamente em número
suficiente para salvar vidas e proteger a economia e o plano nacional para
gerar empregos formais e proteger direitos trabalhistas são absolutamente
inexistentes.
É
possível se imaginar que a mais grave omissão do presidente foi não ter preparado
o Brasil, a população, para a mais importante e grave guerra acontecida na sua
história, tendo preferido se aliar ao pior e perverso inimigo: o coronavírus, quando
passou a defender que a melhor maneira de o deter é deixar que ele ficasse livre,
sem ser incomodado.
Se
o presidente não tivesse conspirado contra as quarentenas, certamente que elas
teriam sido ainda mais efetivas, o que poderia ter contribuído para a retomada da
vida quase normal, ao menos mais rapidamente.
Em
princípio, o presidente pode ter contribuído para ajudar a quebrar o país, com
a depressão da economia e a redução de empregos.
O
presidente faz declaração alarmante para provocar agitação de seus seguidores
nas redes sociais, fomentar mais indignação da imprensa e chamar a atenção de
formadores de opinião, com o propósito de permanecer em evidência na imprensa.
Outro forma de
insensibilidade diz respeito ao fato de que, ao invés de o presidente apresentar
plano completo de vacinação, dissemina na população a descrença na efetividade
e segurança na vacina, tendo por finalidade a redução da demanda por ela,
exatamente com medo de possíveis efeitos colaterais.
Enfim, o presidente
tenta convencer seus apoiadores de que ele age contra o pior, mas não tem tido
forças para fazer nada sobre a situação, quando o principal culpado é ele
próprio.
Se o Brasil está
quebrado e o presidente não consegue fazer nada, essa sinceridade dita por ele
se traduz em grau elevadíssimo de irresponsabilidade e desamor ao Brasil,
diante da cristalina falta de iniciativa para a convocação de forças capazes de
agir prontamente para salvar a pátria desse desastre que é reconhecido pelo principal
condutor do país.
Diante
dessa gravíssima afirmação presidencial, imagina-se que as autoridades dos poderes
da República têm obrigação constitucional de tomar as rédeas do Brasil, em
forma de entendimento em conjunto, e tentar adotar as medidas necessárias à
salvação da pátria, porque será da maior irresponsabilidade se nada for feito
diante da declaração de incompetência por parte de quem tem a incumbência de
agir, mas reconhece que “eu não consigo fazer nada”, ou seja, se
o presidente demonstra que não tem condições de agir, é preciso que outrem o
faça, mas que seja com a maior urgência possível, sob pena de haver maior
prejuízo para a população.
Enfim,
se o presidente tem a consciência de que o país está quebrado e não vislumbra
como sair do atoleiro, dando a entender que ele é incapaz de cumprir as exigências
do relevante cargo que ocupa, de modo a afastar os obstáculos do caminho do
Brasil, o mais correto, justo e honrado seria que ele convocasse os brasileiros,
inclusive os outros poderes da República, com competência, para criar
mecanismos em condições de viabilidade para o soerguimento dos fatores
necessários à volta da retomada do desenvolvimento socioeconômico.
Brasília, em 5 de janeiro de 2021
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