Nem
mesmo se importando com a repercussão negativa da sua reação aos comentários
sobre os gastos com alimentação do governo, o presidente da República voltou a
afirmar que as supostas latas de leite condensado inseridas nas compras de
alimentos pelo Executivo, no valor de R$ 15 milhões, são “para enfiar no r...
de jornalista".
Anteriormente,
o presidente já havia sido eternamente estúpido, ao disparar contra pergunta de
jornalista, a seguinte “pérola”: "Vai para p... que o pariu. Imprensa
de m.... essa daí. É para enfiar no r... de vocês aí, vocês não, vocês da
imprensa essa lata de leite condensado", ou seja, possivelmente pessoa
insana nem tivesse condições de tratar a imprensa com tanta indelicadeza, fato esse
que só evidencia ausência de racionalidade para o mandatário da grandeza do
Brasil.
À
toda evidência, a atitude do presidente do país vem se mantendo em absoluta
coerência com o seu comportamento de animosidade perante a imprensa, que vem
sendo tratada a ferro e fogo, talvez por ele entender que ela mente sobre seu
governo e merece ser tratada com bastante desprezo e truculência, mesmo que o
assunto se refira à execução de atos relacionados com a despesa pública, de
interesse direto da sociedade, à vista dos tributos provindos dela, para a
manutenção da máquina pública.
O
que se verifica foi que o presidente decidiu adotar política que tem por base o
entendimento segundo o qual o governo não tem obrigação de dar satisfação sobre
seus atos, além de achar que é normal tratar a imprensa com dureza e firmeza, ao
estilo do palácio, em forma de represália, em razão de parte dela ter adotado
linha de ação contrária ao pensamento governamental.
Esse
fato, por si só, não justifica a generalização de entendimento, independentemente
de que a obrigação do governo é a de tratar a imprensa em geral com o máximo
respeito, sob o prisma de que não faz o menor sentido se apelar para se revidar
absolutamente nada, porque isso não passa de atitude medíocre, quando o agredido
aceita se igualar ao agressor e ambos entram no jogo extremamente prejudicial
ao relacionamento civilizado e ao interesse público, que exige o máximo de
respeito.
Certamente
que os governos sérios, evoluídos e civilizados procurariam tratar a imprensa
que os ofendem com a normalidade recomendada em situações que tais, respondendo
aos agressores por meio dos canais próprios do governo, com o emprego dos
devidos esclarecimentos sobre os fatos noticiados, em forma de denúncia ou
outras acusações envolvendo o desempenho do governo, de modo que isso teria o
condão de mostrar a regularidade, por parte dele, sobre os casos publicados com
alguma suspeita.
Agora,
se a situação envolver acusações de irregularidades mais graves, mesmo assim, o
governo também não precisaria agredir a imprensa, porque o caminho correto é o de
se recorrer à Justiça, para se dirimir as questões pertinentes e a vida do governo
e da imprensa continuaria normalmente, cada qual desempenhando o seu importante
papel, respectivamente, de administrar os negócios de interesse do povo e de
informar à sociedade, de acordo com as suas normais atribuições institucionais.
Não
obstante, o governo houve por bem ignorar completamente os comezinhos princípios
de civilidade e cidadania, preferindo mostrar ao mundo e aos seus fiéis
apoiadores, a virilidade do homem público que não leva desaforo para casa,
assim entendido pelo presidente, que tem sido a maneira mais deselegante adotada
pelo estadista que poderia se notabilizar por meio de atitude elevada e de
engrandecimento do cargo que ocupa, que, ao contrário, cada vez mais vem
perdendo a sua significância como aquele que somente deveria dar bons exemplos
e ensinamentos de valorização da coisa pública
Desta
feita, o presidente do país agrediu a imprensa sob palmas em palmas, exatamente
no dia em que houve o lamentável registro de 220 mil mortes pela Covid-19, o
que mostra a triste imagem pessimamente de governo em condolência do
comandante-em-chefe perante essa triste realidade vivida dolorosamente por
famílias de brasileiros.
Na
verdade, o presidente foi eleito tendo por base a promessa de fazer tudo
diferente de seus antecederam, porque fazia questão de apontar os erros deles
e, sobre isso, convém dar o braço a torcer: realmente ele vem conseguindo
demonstrar que é sim muito diferente dos outros, principalmente na irracionalidade
quanto a determinados assuntos, que poderiam ser tratados em conformidade com os
princípios de civilidade e razoabilidade, a exemplo do relacionamento com a
imprensa que não há a menor plausibilidade para ser da maneira como vem sendo,
quando não justifica o erro dela para ele agir da mesma forma.
Nada
disso importa, porque o presidente, de maneira estratégica, vem conquistando a simpatia
de muitos apoiadores exatamente porque ele trata os fatos com dureza e sinceridade,
mesmo que isso possa destoar do rito previsto de equilíbrio para o cargo que
ocupa, ou seja, tudo tem limite, não para ele, que acredita que está investido
de direito divino, sem essa de possibilitar questionamento sobre atos do
governo, porque o interlocutor poderá receber a resposta sob coturnadas.
É
evidente que a indignação mostrada pelo mandatário contrária não somente os princípios
de educação, equilíbrio, civilidade e seriedade para com a coisa pública, mas,
em especial com as salutares normas constitucionais de transparência sobre a
execução dos orçamentos públicos, em que o governo tem obrigação de prestar
contas à sociedade quanto à regularidade das despesas públicas, exatamente na
conformidade da indagação em tela.
Essa
prestação de contas é simplesmente obrigatória, por força de disposição constitucional,
por meio da qual o governo mostra aos contribuintes a compatibilidade dos
custos com os benefícios hauridos por meio dos serviços e produtos adquiridos
para a satisfação do interesse público, tendo a obrigação de explicar à
sociedade, em ambiente de seriedade, serenidade, disciplina e respeito,
conforme mandam os princípios constitucional e de civilidade.
Ao
contrário disso, o mandatário incorre em cristalino ato de indignidade e brutal
repulsa à cartilha que rege a liturgia do cargo de príncipe da República, que
tem como base à fidelidade ao respeito e à grandeza do homem público de não se
permitir, no caso, ao inevitável apequenamento das suas funções presidenciais.
Preferindo
ignorar os bons princípios, o mandatário do país tenta ridicularizar indagação da
imprensa, a princípio, sobre ato do seu governo, quando, por mais absurda que
ela possa ter sido, no sentido de realmente merecer resposta indelicada, é
preciso se atentar, sobretudo, para a relevância do cargo presidencial, que
aconselha, nesses casos, que o chefe do Executivo conte até dez e apenas diga que
já determinou o levantamento dos fatos e prestará, oportunamente, os devidos
esclarecimentos, porque é assim que deve proceder o homem público, que tem a obrigação
tanto de prestar contas de seus atos como de ser fonte de bons exemplos para a sociedade,
de modo a merecer respeito e admiração do povo, tão carente de lições de urbanidade,
dignidade e civilidade, entre outras.
Com
o maior respeito a quem possa pensar em contrário, mas os verdadeiros brasileiros,
não importando ideologia, fanatismo ou qualquer culto a mitos, precisam repudiar,
com veemência, comportamentos incompatíveis com o exercício de cargos públicos
eletivos, no sentido de que os seus ocupantes devem atuar com o devido rigor em
observância aos princípios que valorizem a dignidade, a racionalidade e a
civilidade, entre outros, como forma da disseminação de bons exemplos na vida pública.
Brasília, em 30 de janeiro de 2021
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