sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Crime contra a humanidade?

 

Uma  jovem paraense conta que a sua família foi dizimada pela Covid-19, em menos de uma semana, quando ela diz ter perdido os pais e a avó, em consequência, segundo ela, da falta de oxigênio na Unidade de Saúde de Nova Maracanã, em Faro, no Pará.

A prefeitura negou que as mortes tenham sido por falta do insumo, embora ela reconheça que houve a falta de oxigênio, na semana que aconteceram os mencionados óbitos.

Segundo a jovem, o cenário era bastante desolador, justamente em razão da falta de oxigênio, que os pais e a avó dela precisavam para sobreviver, porque o estado de saúde deles era insuportável pela enorme dificuldade para respirar, que dependia do oxigênio para ajudar na respiração.

Ela disse que a mãe dela reclamava muito, dizendo que “não conseguia respirar” e logo veio o óbito dela, diante da falta de oxigênio e do socorro que ela mais precisava, exatamente porque não tinha mais condições de viver sem a ajuda de aparelhos.

Ela disse que somente horas depois, chegaram os cilindros com o oxigênio, na UBS, mas o pai dela, em estado grave, não resistiu e morreu.

A jovem disse, em estado de lamento e indignação, que "Estamos revoltados. Pedimos nas redes sociais que agilizassem o oxigênio, mas não chegou a tempo. Espero que isso sirva para que outras pessoas não morram".

Conforme a mesma reportagem, outro cenário semelhante de lotação de doentes precisando de ajuda e da falta de oxigênio foi registrado por outra família, que disse que uma senhora de 84 anos também chegou na UBS, com sintomas fortes da doença, mas, segundo a sua neta, “ela foi colocada em uma maca improvisada nas cadeiras e dividiu oxigênio com outro paciente. Os filhos pediram autorização para transferi-la para Oriximiná, município próximo. Ela foi levada de barco, mas morreu em poucas horas.”.

Esses fatos que estão acontecendo em especial nos estados do Amazonas e do Pará  são de cortar coração, porque eles mostram o tamanho da perversidade, da monstruosidade, do genocídio, conscientemente praticados contra pessoas inocentes, que pagam, com a preciosa vida, preço caríssimo pela maldade praticada por homens que assumem cargos públicos para permitirem desgraça dessa magnitude, de muita desumanidade, os quais precisam responder por seus atos de muita perversidade.

Essa tragédia acontecida no Amazonas e no Pará é algo absolutamente impensável de acontecer em pleno século XXI, onde a humanidade registra extraordinários avanços nos campos da ciência e da tecnologia, com aprendizagem suficiente para o oferecimento de condições necessárias à proteção da vida das pessoas.

Infelizmente, ainda é possível se anotar a morte de seres humanos por falta de insumo hospitalar, o nobre oxigênio, fato que enseja a demonstração de extrema indignação das pessoas, porque o triste fato ocorre em face da notória irresponsabilidade administrativa e do pior aviltamento da insensibilidade quanto ao valor da vida humana, que padece por meio de situação de desleixo absolutamente passível de ser evitada, se houvesse oxigênio, que deve ter em todas as unidades de saúde, em época normal, quanto mais em situação de pandemia de doença grave como o coronavírus.

Não há como explicar, justificar perante o mundo, que três pessoas, uma família inteira constituída de pais e avó, de uma jovem menina de apenas 19 anos, desapareçam em razão da incompetência referente à falta de gerenciamento, deixando órfã uma garota em tenra idade, e ainda, por certo, estraçalhado o seu coração diante de algo absoluto imprevisível, que é a falta de oxigênio logo, pasmem, em unidade de saúde que cuida dos doentes da Covid-19, por ser insumo que não pode faltar, de forma alguma, em nenhum lugar do mundo, diante da sua indispensabilidade em situação emergencial de que se trata.

Aliás, não foi precisamente a causa mortis a falta de oxigênio, mas sim foram a faltar de amor ao próximo, a evidente desvalorização da vida humana e a incompetência de agentes públicos, conjunto esse fatal que marca de forma indelével e cruel o início da vida de uma menina, ainda na flor da vida, que é obrigada a enfrentar verdadeira tragédia por causa da desumanidade protagonizada por agentes públicos irresponsáveis.

Sim, faltou oxigênio e, infelizmente, importantes vidas foram perdidas justamente pela insensibilidade de homens públicos, que ainda negam que houve a falta do insumo, que jamais deveria faltar em lugar nenhum do planeta, mas ele faltou sim em importante região do Brasil e mais grave é que termina ninguém sendo responsabilizado por tamanho desastre.

É preciso ficar muito claro que há sim caracterização de culpa por tão horroroso crime de genocídio, diante das mortes que aconteceram de maneira graciosa e inaceitável, precisamente por culpa da incompetência e da irresponsabilidade de agentes públicos em todos os níveis de governo, federal, estadual e municipal.

Todos são diretamente encarregados da prestação da saúde pública da melhor qualidade, de modo a assegurarem assistência completa aos brasileiros, inclusive com a presença do oxigênio e todos os insumos hospitalares, porque eles são essenciais, indispensáveis em casos normais e excepcionais, como neste caso especial da pandemia do coronavírus, em que os hospitais e as unidades de saúde precisam dispor desse insumo, principalmente por ser matéria-prima que não pode faltar de maneira nenhuma, nos casos emergenciais.

Diante dessas mortes causadas por falta de oxigênio, material existente em abundância em qualquer lugar, bastando apenas o controle regular dos estoques, conforme a necessidade e a margem de segurança, como nos casos do aumento da demanda, fica a certeza de que todas as mortes foram criminosas e as pessoas envolvidas, não importando os níveis dos cargos ocupados, precisam ser identificadas, de modo que seja possível a responsabilização e a condenação cabíveis, na forma da lei, para que elas paguem por seus gravíssimos crimes contra a humanidade.

 A apuração dos fatos e atos criminosos se torna extremamente necessária, para a devida condenação, penal e criminal, inclusive com a proibição, em definitivo, da ocupação de cargos públicos pelos envolvidos, de modo que as medidas sancionárias possam servir de lição pedagógica e disciplinar, no sentido da prevenção contra a incidência de casos semelhantes.

É preciso também ficar muito claro que a sociedade tem o dever de repudiar, com veemência, o descaso das autoridades incumbidas da saúde pública também nos Estados do Amazonas, do Pará e de resto de todo Brasil, onde, naquela região, aconteceram dezenas de mortes por causa da falta de oxigênio, de modo a serem exigidas providências necessárias para que, em atenção à importância da vida humana, os brasileiros sejam cuidados com os serviços de saúde da melhor qualidade possível, com vistas à proteção e à preservação da sua saúde, diante do ínsito dever constitucional do Estado, nesse particular.   

Brasília, em 22 de janeiro de 2021


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