quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

A falta da experiência técnica

 

Vem circulando, nas redes sociais, vídeo possivelmente em defesa do presidente da República, mostrando que governos anteriores já tinham colocado para comandar o Ministério da Saúde pessoas leigas da área, com a citação de mais de dezena de nomes, todos ocupantes de cargos no Parlamento, naturalmente em cumprimento de alianças com partidos e detrimento do interesse público, porque, sem os conhecimentos técnicos exigidos, é sempre desastrosa a prestação dos serviços prestados por meros políticos.

Em tom de muita ironia, diante da evidente insensibilidade comparativa, ressaltei que a presente lembrança parece muito oportuna, porque em todos os governos indicados acima a crise da pandemia era muito violenta e acentuada e todos os ministros nominados se saíram muito bem no combate à terrível doença que abatia sobre os brasileiros.

E continuei com o merecido sarcasmo, diante da leviandade da tentativa de analogia, dizendo que agora é diferente, sem constatação de crise da saúde pública, não precisa que o ministro tenha experiência nem conhecimentos na área da saúde pública, a exemplo da inexistência de mortes, em que tudo funciona às mil maravilhas, inclusive com relação à eficiência da imunização, que há estoque suficiente de vacinas, seringas e agulhas.

          Ou seja, aí eu pus toda ironia possível, para mostrar, somente com relação à vacinação, a falta de competência de ministro alheio aos conhecimentos da área, quando mais de 50 países que começaram a imunização há bastante tempo, desde de dezembro último, enquanto a ineficiência exemplar brasileira mostra que tem pouca vacina, não tem estoque seringas e agulhas, fato que confirma a despreocupação com a vida da população, embora seja mais do que urgente a imperiosa imunização das pessoas, para que a vida possa voltar à normalidade o mais rapidamente possível.

Exatamente nesse contexto, ressalte-se que, embora já tenha sido iniciada a imunização, há notícia de que a quantidade de vacina só é suficiente para aplicação na metade dos profissionais de saúde, diante da natural prioridade dada para eles, ficando a população à mercê das migalhas das vacinas concedidas um pouco de cada laboratório e quando houver condições para tanto.

Para piorar a situação, que já é preocupante, os importadores dos insumos para a produção das vacinas, no Brasil, estão demorando a liberá-los devido à má política externa realizada pelo Itamaraty, que teria se envolvido em medidas contrárias aos interesses de países produtores da matéria-prima das vacinas, o que só evidencia a falta de habilidade na condução dos assuntos pertinentes à diplomacia brasileira.

A desgraça deste país, que nunca consegue se desenvolver, é justamente porque o povo tem enorme dificuldade para enxergar a realidade dos fatos, preferindo, em forma de tentativa, justificar a incompetência do governo com base em exemplos de casos de incompetência e irresponsabilidade acontecidos em governos do passado, em situação absolutamente desigual, para mostrar que os outros governantes também cometeram erros e então, por isso, o atual tem todo direito de ser omisso e desidioso logo com a saúde pública, em momento da maior da crise da pandemia do coronavírus, tendo o envolvimento do bem mais importante do ser humano: a vida.

É preciso se atentar, para bem da verdade, que os péssimos exemplos dos governos passados têm enorme importância sim, mas apenas para mostrar que erros praticados por eles precisam servir de lição para que não se cometa mais o mesmo horroroso pecado de colocar gente em importante ministério para tratar de assunto de suma importância para a preservação da vida.

O mandatário competente e responsável não só evita os graves erros do passado como tem o dever de procurar ser exemplo de eficiência e responsabilidade na execução dos programas de governo e na realização das despesas públicas.

Exemplo disso pode ser a designação de qualquer pessoa para dirigir o Ministério da Saúde, em tempos de tranquilidade e normalidade da saúde pública, onde não haja nenhum sintoma capaz de causar perturbação à saúde pública.

Agora, convenhamos, em plena turbulência causada justamente pela pandemia do coronavírus, que já mostrou que é da maior gravidade, diante da  letalidade do Covid-19, o bom senso, a racionalidade e a sensatez recomendam que somente especialista em Medicina e saúde pública, de renome nacional e internacional, com reconhecidos trabalhos na área, poderia ser designado para ocupar o posto da maior relevância, em momento especial, importante e da maior responsabilidade públicas, ante a facilidade para a coordenação e o manejo com as medidas necessárias de efetivo combate à pandemia, em estrito benefício da população, com a possibilidade de a sua competência contribuir para minimizar tantas e alarmantes mortes pela Covid-19.

O contrário disso, ou seja, a nomeação de especialista em almoxarifado de víveres do Exército é apenas a evidência cabal da extrema falta de preocupação com a prestação da saúde pública de qualidade à população, porque, quem não conhece os assuntos de incumbência do principal ministério responsável pelo combate à pandemia, certamente que não pode e não tem condições plenas para o cabal preenchimento dos requisitos essenciais de capacidade, competência e eficiência, além de o fato em si evidenciar enorme desprezo à importância da vida humana, na certeza de que o especialista da área tem muito mais condições de cuidar com o devido carinho da saúde dos brasileiros, que somente mereceram o desprezo do governo.

Isso deixa simplesmente patente que o governo assume completa culpa por essa gravíssima irresponsabilidade administrativa, diante do comprometimento quanto à necessidade da prestação da saúde pública de qualidade à população.

          Certamente que, se o ministro fosse conhecedor da área de saúde pública, os brasileiros já estariam sendo vacinados, desde dezembro do ano passado, enquanto, no momento, o inexperiente titular do órgão ainda bate cabeças no ar, sem saber o que realmente fazer para ter vacinas, seringas e agulhas suficientes para a vacina da população, que vem arcando com o pesado ônus da incompetência justamente imperante no Ministério da Saúde e em tempos da pandemia do novo coronavírus.

Pobre Brasil... 

Brasília, em 20 de janeiro de 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário