O presidente da República brasileiro foi eleito “Pessoa Corrupta do Ano” pelo Organized Crime and Corruption Reporting Project (OCCRP), um consórcio internacional que reúne jornalistas investigativos e centros de mídia independente.
O grupo diz, em comunicado, que o mandatário
brasileiro “venceu por pouco” o chefe da Casa Branca e o líder da
Turquia, devido a seu suposto papel na promoção do crime organizado e da
corrupção.
O OCCRP afirma que “Eleito após o escândalo da Lava
Jato como candidato anticorrupção, Bolsonaro se cercou de figuras corruptas,
usou propaganda para promover sua agenda populista, minou o sistema de justiça
e travou uma guerra destrutiva contra a região da Amazônia que enriqueceu
alguns dos piores proprietários de terras do país”.
O consórcio destaca a denúncia contra o senador filho
do presidente, no caso das “rachadinhas” na Assembleia Legislativa do Rio de
Janeiro (Alerj), quando ele era deputado estadual.
Além disso, ressalta as investigações contra o
vereador filho do presidente, também por um suposto esquema de repartição de
salários de assessores, o dinheiro depositado por um assessor e a esposa dele,
na conta bancária da primeira-dama e as acusações contra o próprio presidente.
O editor do OCCRP disse que “A família de
Bolsonaro e seu círculo íntimo parecem estar envolvidos em uma conspiração
criminosa em andamento e têm sido regularmente acusados de roubar do povo”.
O diretor do Arab Reporters for Investigative
Journalism e um dos jurados do prêmio afirmou que “A destruição contínua
da Amazônia está ocorrendo por causa de escolhas políticas corruptas feitas por
Bolsonaro. Ele encorajou e alimentou os incêndios devastadores”.
Vejam-se que o presidente do país nunca escondeu de
ninguém que vem atuando ativamente em defesa de seus filhos, tendo levado cada caso
em que eles estão sendo investigados para acompanhamento na agenda presidencial
e há ainda notícia de que até órgãos do Palácio do Planalto os ajudaram, em
forma de
interferência por meio de emissão de pareceres técnicos.
Quem
não se lembra, a propósito, do célebre momento de reunião presidencial em que o
mandatário demonstrou ter entrado em rota de colisão com o ex-ministro da
Justiça, exatamente porque ele entendeu que precisava mudar a cúpula da Polícia
Federal, para proteger sua família?
Nesse
evento, o presidente disse que queria a troca na Polícia Federal do Rio de
Janeiro, porque não iria esperar que a família dele fosse prejudicada, em clara
alusão aos seus filhos investigados por suspeita da prática de atos
irregulares.
A
ameaça foi tão evidente que o presidente declarou que, se não houvesse essa
mudança, ele trocaria o diretor-geral da Polícia Federal e o próprio ministro
da Justiça.
Tudo
o que o presidente ameaçou fazer na reunião, de fato aconteceu dias depois,
tendo exonerado o diretor-geral da Polícia Federal, cujo ato resultou no pedido
de exoneração do ministro da Justiça.
O
outro caso emblemático diz com as incontroláveis queimadas da Amazônia, onde o
fogo arde insistentemente e de dimensão incrível, inclusive havendo informações
de recorde de áreas transformadas em cinzas, mas o governo se mantém apenas bastante
atento a justificar o injustificável, quando o seu dever constitucional e legal
é o de agir e com pulso forte, para reverter urgentemente essa situação de
tristeza, omissão, incompetência e irresponsabilidade perante a humanidade.
Todo
esse cenário relatado só contribui para alimentar e consolidar a posição do
grupo que concedeu o desonroso título em causa ao presidente brasileiro.
Enquanto isso, digo que, se eu fosse membro desse
grupo, a minha principal contribuição para justificar o título em comento teria
sido o fato de o presidente brasileiro ter formado aliança com o grupo político
denominado Centrão, tanto pela reputação nada elegante dele, com notórios
envolvimentos em casos de investigações sobre corrupção com recursos públicos, como
pela liberação de emendas parlamentares e nomeações para cargos públicos, a título
compensatório, de pessoas ligadas a esse grupo de fama nada republicana, que
são fatos que caracterizam o desvio da dignidade exigida para o exercício de
mandatário do país.
À toda evidência, tais procedimentos envolvem o uso
indevido de recursos públicos para cooptar a consciência de inescrupulosos parlamentares,
no sentido de prestar apoio aos projetos do governo e mais especificamente do próprio
presidente, no que diz com a possível abertura de processo de impeachment contra
ele e isso não é novidade para ninguém, mas tem o condão de tanger o princípio
da moralidade para bem longe do Palácio do Planalto, onde somente pudesse
inalar o perfume da dignidade na gestão dos interesses dos brasileiros.
Em tese, diante disso, o presidente brasileiro mereceria
dois títulos de “Pessoa Corrupta do Ano”, o que já foi anunciado pelo citado grupo
e o outro por sua indiscutível desmoralização a partir da vexaminosa aliança com
o indigno Centrão, porque, neste caso, são inegáveis os atos de corrução
envolvendo desvio de recursos públicos, para a compra de parlamentares para
servirem de biombo contra o possível processo de afastamento do presidente do
cargo, ou seja, não fosse o temor dessa medida, ele não se atreveria de se
lambuzar com os suspeitos políticos do Centrão, que são tratados como
autênticos fisiologistas da pior espécie, que conseguem, mesmo assim, não
somente ter livre acesso ao palácio presidencial, mas também fazer parte da bancado
do governo, no Congresso Nacional.
À toda evidência, a definição clássica de corrupção
não é somente a que se referem aos atos de irregularidades envolvendo recursos
públicos, porquanto há outras maneiras muito graves de desvio de finalidade na administração
pública, como os casos eleitos pelos organizadores do título notoriamente depreciativo
concedido ao mandatário, sob a alegação de que ele teria se cercado de amigos
corruptos, para a promoção da propaganda populista, ou seja, o presidente teria
aproveitado a influência do cargo para tirar proveito pessoal.
Por certo, o presidente “laureado” não vai se conformar
facilmente com a homenagem que tem como representatividade algo apenas espetaculoso,
em forma muito mais a título sarcástico, mas não resta a menor dúvida de que o
fato em si é bastante deplorável, porque a repercussão envolve a imagem do
Brasil, que não merece ser comandado por quem é eleito “Pessoa Corrupta do Ano”,
mesmo que os fatos objeto de fundamento para a declaração do desonroso prêmio careçam
de convalidação e comprovação, no sentido de autenticação sobre a sua veracidade.
A bem da verdade, teria sido bem melhor para a
imagem do Brasil que nada disso tivesse acontecido, diante da indiscutível
repercussão negativa oferecida pela notícia em si, quanto à opinião
internacional, que presume como sendo tudo verdadeiro e que o país é comandado
por pessoa corrupta, assim reconhecida por entidade da imprensa internacional,
independentemente se os fatos são ou não verdadeiros e dignos de reconhecimento.
Na verdade, os brasileiros honrados, que defendem a
moralidade como princípio essencial na administração pública, não se conformam
que o presidente do Brasil possa se envolver em critério de avaliação que
resulte na indignidade tanto da sua imagem como a do país, que, repita-se, não
merece passar por situação vexatória dessa natureza, cujos fatos motivadores do
prêmio até podem nem ter o peso para justificá-lo, mas todos eles são objeto de
permanente discussão na mídia e isso não é nada bom para o conceito nem do
presidente e muito menos do Brasil.
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