domingo, 10 de janeiro de 2021

Pensamento deformado

 

O ministro brasileiro das Relações Exteriores referiu-se aos bárbaros invasores do Congresso americano como "cidadãos de bem" e sugeriu que é preciso "investigar se houve participação de elementos infiltrados", nesse deplorável episódio, dando a entender a reprovável insurreição teria sido ato normalíssimo da democracia.

Centenas de apoiadores enlouquecidos do presidente norte-americano, visivelmente insuflados por este, invadiram e destruíram o Capitólio, sede do Legislativo dos EUA, causando enorme tumulto e conflito generalizado com agentes de segurança, cuja desagradável batalha resultou em cinco mortes.

O alvo da invasão foi a tentativa da paralisação da sessão conjunta do Congresso, destinada à contagem dos votos do Colégio Eleitoral e à certificação da vitória do candidato democrata, nas eleições de novembro, que determinou a derrota do atual líder americano, que vinha fazendo o diabo para reverter o resultado das urnas, até se chegar no ápice da irracionalidade da invasão do Capitólio, algo extremamente inadmissível na modernidade democrática do século XXI.

O chanceler brasileiro lamentou e condenou a invasão, mas, em seguida, a sua mensagem mostra indisfarçável simpatia ao grupo pró-candidato republicano derrotado que entrou no Capitólio, na marra, para praticar violenta desordem, ao afirmar que é preciso reconhecer que “grande parte do povo americano se sente agredida e traída por sua classe política e desconfia do processo eleitoral".

Com isso, o ministro se associa às declarações do presidente brasileiro, que na quarta-feira disse “ter notícias de que houve muita fraude no pleito que culminou com a derrota de Trump.”, com o detalhe que ele não mencionou a senha da confirmação dessas “notícias”, que é a falta de provas para a sua confirmação, ou seja, o descuidado mandatário dá mais crédito aos boatos do que a veracidade dos fatos, por meio da comprovação de fatos, algo absolutamente inexiste, até o momento.

O ministro declarou que "Há que distinguir 'processo eleitoral' e 'democracia'. Duvidar da idoneidade de um processo eleitoral não significa rejeitar a democracia. Ao contrário, uma democracia saudável requer, como condição essencial, a confiança da população na idoneidade do processo eleitoral".

Em outro trecho, o chanceler afirma que é preciso parar de chamar de "’fascistas’ a cidadãos de bem quando se manifestam contra elementos do sistema político ou integrantes das instituições". 

O ministro disse que "Deslegitimar o povo na rua e nas redes só serve para manter estruturas de poder não democráticas e seus circuitos de interesse".

Ele concluiu a mensagem reafirmando que "nada justifica uma invasão como a ocorrida ontem", mas fez outra ressalva, de que "Nada justifica, numa democracia, o desrespeito ao povo por parte das instituições ou daqueles que as controlam".

O ministro disse que "O direito do povo de exigir o bom funcionamento de suas instituições é sagrado. Que os fatos de ontem em Washington não sirvam de pretexto, nos EUA ou em qualquer país, para colocar qualquer instituição acima do escrutínio popular".

O ministro precisa ter pouco de inteligência para defender a seriedade da democracia, porque isso não se confunde com “Duvidar da idoneidade de um processo eleitoral (...)”, diante do questionamento sobre dúvidas quanto à idoneidade das eleições, que implica necessariamente a existência de provas e estas são apenas inexistentes e as alegações de fraudes são objeto de acusações vazias e destituídas do principal elemento jurídico, que é a prova da materialidade do atos suspeitos, ou seja, não há prova alguma sobre fraudes e os republicanos e os idiotas assemelhados do resto mundo ficam alegando suspeitas de irregularidades sem mostrá-las pelas evidências materiais, as quais precisam de comprovação sobre os fatos alegados.

Não passa de prova de clássica ignorância por parte de autoridades públicas ou não, tanto americanas como de outros países, ao alegarem fraudes que causaram a derrota do candidato republicano, quando eles não conseguem apresentar provas junto aos tribunais e à sociedade sobre os atos e fatos irregulares havidos no processo.

É bastante estranho que autoridades brasileiras fiquem defendendo o desmoralizado presidente norte-americano, diante dos atos por ele protagonizados, exatamente por terem torcido pela vitória dele, tendo em vista que as autoridades eleitorais dos 50 Estados americanos terem atestado, à unanimidade, que as eleições naquele país foram as mais bem organizadas, cujos procedimentos e resultados foram de regularidades plenas, não tendo havido reparos em nada.

A despeito disso, o candidato republicano derrotado insistir em questionar somente os processos eleitorais realizados nos estados onde ele perdeu, dando a entender que não houve fraude nos outros estados onde ele foi vitorioso, na certeza de que neles somente houve legitimidade em tudo, fato este que parece cômodo ao extremo.

Ademais, os republicanos e os demais seguidores do candidato derrotado precisam também acreditar na Justiça dos Estados Unidos, que não acolheram unzinho recurso dos mais de 60 impetrados pelo presidente desprestigiado e desrespeitado, certamente por não haver provas cabais sobre a existência das irregularidades alegadas por ele, o que só demonstra a falta de sensibilidade de autoridades brasileiras, que ficam defendendo os bandidos que invadiram o Congresso americano, sob a alegação de que eles são coitadinhos prejudicados pelo injusto sistema eleitoral americano.

É preciso que as autoridades brasileiras se conscientizem de que as eleições americanas não têm nenhuma influência nos interesses dos negócios do Brasil e que não passa de descabida e injustificável irresponsabilidade de elas ficarem se imiscuindo em processo eleitoral de outro país, ante a falta de motivação plausível, em termos diplomático, principalmente quando, de maneira totalmente inexplicável, se toma partido para determinado candidato, quando é preciso que elas cuidem, apenas e forma primordial, dos assuntos referentes aos interesses do Brasil, porque, do contrário, fica a impressão de que as questões de interesse do presidente norte-americano são muito mais importantes do que as causas brasileiras.

É bastante deplorável a declaração do ministro que insinua que houve desrespeito ao povo americano, dando a entender que este passou a ser vítima, ou seja, em qualquer circunstância, o povo defensor do candidato republicano derrotado sempre tem razão, para a inteligente interpretação do digno chanceler brasileiro.

Ao qualificar de “cidadãos de bem” os bárbaros que invadiram o Congresso americano, o ministro somente se permite que ele seja compreendido como pessoa que não tem a menor sensibilidade para perceber a monstruosidade da violência ao Estado Democrático de Direito, com grave desrespeito à pátria mais importante do planeta, à Constituição, às instituições públicas, às autoridades republicanas, à ordem pública e à dignidade dos demais norte-americanos, cujos atos demandaram a morte de cinco pessoas e ferimentos em dezenas de outras.

Diane desses terríveis acontecimentos, fica a certeza para as pessoas sensatas, inteligentes e responsáveis, sobre a indiscutível evidência de que “pessoas de bem” jamais seriam capazes de protagonizar tamanha insanidade, logo diretamente contra a dignidade do povo americano, uma vez que pouca ou nada se resolve à base da brutalidade, da irracionalidade ou da violência.

O ministro das Relações Exteriores brasileiro, a bem da diplomacia, poderia ter ficado calado em situação da maior gravidade como esse melancólico acontecimento que ocorreu no Congresso americano, porque a sua manifestação é prova inconteste da clara insensibilidade quanto aos assuntos da maior importância para o mundial moderno, diante do benefício da preciosa oportunidade para evitar expor evidente incompetência para opinar sobre fatos horrorosos, à vista das suas declarações inoportunas, o que teria sido aconselhável, nas circunstâncias, que ele não tivesse dito nada, diante de assunto que somente cabem palavras de tristeza, contestação, consternação e jamais apoio, como ficou assente nas declarações dele, refletido certamente o deformado pensamento do governo brasileiro.  

Brasília, em 10 de janeiro de 2021

Nenhum comentário:

Postar um comentário