segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Covarde, isso mesmo?

 

O presidente da Câmara dos Deputados, conforme postagem nas redes sociais, disse, em réplica de reportagem da revista Veja, que o presidente da República, pasmem, é "covarde".

O parlamentar disse que "poucas coisas têm tirado tanto a paz de Jair Bolsonaro quanto a cobrança das redes sociais pelo atraso da vacina".

          Ele também afirmou que o presidente do país passou a culpar o ministro da Saúde pelo atraso na vacinação e pela perda de popularidade.

A reportagem da citada revista afirma que, em reunião ministerial, o presidente brasileiro teria dito, "meio brincando, meio à vera", que a Covid-19 "baqueou Pazuello e que ele não dá mais conta de nada".      

Nos últimos dias, a crise sanitária provocada pela pandemia virou tema de debate na disputa à presidência da Câmara.

O aliado dele, o candidato à sua sucessão, sugeriu que o Congresso Nacional fosse convocado ainda este mês, em meio ao recesso, para votar medidas de enfrentamento ao coronavírus, medida esta que foi rebatida pelo candidato do presidente, que disse que a proposta era “demagogia” para ganhar votos.

Nessa injustificável disputa entre os dois políticos, o presidente do país criticou o presidente da Câmara, ao ironizá-lo pelo apoio que o candidato deste recebeu do PT, tendo dito que, verbis: “O Rodrigo Maia, quando votou pela cassação da Dilma, deu um voto criticando o PT, (dizendo) que perseguiu o pai dele quando era prefeito no Rio. Deu um voto firme, objetivo, apontando que o PT era a maior desgraça do mundo. Hoje, está junto com o PT nas eleições da presidência da Câmara. Pelo poder, água e óleo se misturam. Se bem que ali acho que não é água e óleo, não, são duas coisas muito parecidas.”.

Sem perda de tempo, o presidente da Câmara o respondeu, dizendo que o bloco que reúne partidos da direita à esquerda “se une pra condenar o autoritarismo, o fascismo e a incompetência. são muito naturais as críticas e o incômodo de Bolsonaro à nossa união”.

É extremamente preocupante os presidentes do Brasil e da Câmara dos Deputados ficarem criticando um ao outro e vice-versa, por meio das redes sociais, em evidente demonstração do péssimo nível de autoridades do alto escalão da República.

À toda evidência, pela relevância dos cargos exercidos por ambos, eles deveriam, no mínimo se envergonharem de prestar, em público, espetáculo ridículo e degradante diante do Brasil e do mundo, sabendo-se que eles devem respeito e dignidade ao povo, além da obrigação de contribuir, por meio de bons exemplos, para o aprimoramento da educação, da cidadania e do civismo, no âmbito da administração pública, como normalmente fazem os verdadeiros estadistas que prezam a dignidade dos cargos que ocupam por força da delegação popular.

Essa maneira deformada de relacionamento, visivelmente nivelado por baixo, além de demonstrar o péssimo grau de  incivilidade de homens públicos, afeta direta e nitidamente as relações, que precisam ser saudáveis, que precisam existir, em ótima qualidade,  entre autoridades que comandam importantes poderes da República, porque isso tem enorme reflexo nos interesses do Brasil.

Na verdade, essa indesejável disputa pessoal apenas serve para a construção natural de obstáculos à condução dos projetos envolvendo as causas nacionais, que ficam prejudicados pela normal estagnação da sua apreciação, justamente por causa desse clima de injustificável beligerância mantido exatamente por meio de dispensáveis brigas e desafetos pessoais, que jamais deveriam existir entre homens públicos incumbidos exclusivamente de defender os interesses dos brasileiros.

Por sua vez, quando o presidente afirma que a Covid-19 foi capaz de baquear o titular da Saúde, ele apenas confirma o baque da incompetência presidencial, de ter nomeado para dirigir o principal órgão que tem a incumbência, de primeira linha, de cuidar e zelar pela saúde dos brasileiros pessoa sem qualificação, formação, conhecimento ou especialização na área da saúde, em condições de tratar, com a devida competência, de matéria da maior responsabilidade, justamente por envolver vidas humanas.

Nesse caso, o presidente do país precisa ter espírito público para assumir diretamente sua culpa no malogro do governo, por ele ser a principal autoridade da República com a incumbência de designar pessoas competentes e capazes de comandar, com a exigida eficiência, o combate à pandemia do novo coronavírus, em todos os sentidos e com os melhores recursos possíveis.

Ao contrário disso, o que se vê é o próprio presidente criticar a sua deficiente equipe de governo, que vem, de maneira reiterada, causando trapalhada sobre baqueada, em evidente demonstração de governo extremamente despreocupado com a vida humana, que exige os máximos cuidado e interesse na designação de pessoas preparadas para a condução de todas as medidas necessárias ao combate firme, eficaz e seguro, sobre todos os ângulos do problema, que é algo completamente inexiste nesse governo, conforme o próprio mandatário reconhece que o responsável pela Saúde, nomeado por ele “não dá mais conta de nada.”.

Essa tragédia ficou patentemente comprovada quando o órgão da Saúde nem conseguiu comprar agulhas e seringas, suficientes e indispensáveis à imunização dos brasileiros, sem mencionar a total ausência desse ministério em termos de normatização dos assuntos inerentes ao combate ao corona, além do injustificável atraso na vacinação dos brasileiros, que é de suma importância para possibilitar que a população possa voltar às atividades da vida normal, o quanto antes possível, sabendo-se que mais de 50 países já estão imunizando a sua população.

As evidências são claras, cristalinas, no sentido da omissão e da irresponsabilidade do governo diante da maior crise da saúde pública brasileira, em que faltaram interesse, boa vontade e bastante competência para se cuidar do tratamento, com amor no coração, da doença que foi terrivelmente capaz de ceifar a vida de mais de duzentas mil pessoas, além de milhares hospitalizações, cuja enorme quantidade de incidência poderia ter sido bem menor caso o governo não tivesse sido tão omisso e despreparado para cuidar de pandemia que exigia os melhores zelo e atenção, ao extremo, posto que, para o salvamento de vidas humanas, não há recompensa maior do que o dever cumprido com eficiência, zelo e responsabilidade.  

Os brasileiros anseiam por que as autoridades da República se conscientizem de que somente com a união de esforços, a junção de interesses púbicos e a compreensão da causa pública são capazes de promover a consolidação do desenvolvimento social, político, econômico, administrativo e democrático, porque somente essas são as práticas em condições de dignificar o exercício dos cargos púbicos demandados pela vontade popular, com o propósito da defesa do interesse público.

Por fim, é preciso que os brasileiros compreendam, independentemente de ideologia ou algo que o valha, que o simples fato de importante autoridade da República chamar, publicamente, o presidente do país de covarde, não poderia haver nada pior para a desmoralização dessa autoridade e também da imagem do Brasil, porque esse verbete pode significar péssimos predicativos, como falta de coragem, pusilanimidade, ânimo traiçoeiro, entre outros, o que não fica bem para quem tem as maiores encargos sobre seus ombros, como os da incumbência e da responsabilidade de comandar os interesses dos brasileiros, acima de tudo, com respeito aos princípios e à pureza moral.

Convém que, para o bem do Brasil, ser aconselhável que haja, o mais breve possível, o arrefecimento dos ânimos de autoridades da República, de modo que elas possam se relacionar em clima de amizade, entendimento e convergência na buscar do melhor entendimento para os interesses nacionais, em harmonia com os sagrados princípios democrático, republicano e especialmente de civilidade.     

Brasília, em 10 de janeiro de 2021

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