quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Mãe vacina: seja bem-vinda!

 

O Instituto Butantan, que desenvolve a vacina contra a Covid-19, em parceria com o laboratório chinês Sinovac, informou, em coletiva de imprensa, que a vacina CoronaVac registrou, pasmem, 50,38% de eficácia global nos testes realizados no Brasil.

A propósito, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) consideram como aceitável a vacina com eficácia acima de 50%, ou seja, esse imunizante praticamente foi salvo de reprovação, diante das regras vigentes, na bacia das almas, conforme o dito popular, quando há aprovação tangente ao limite legal.

Em termos de eficácia global, o aludido índice aponta a capacidade da vacina de proteger em todos os casos, como a partir dos leves, moderados ou graves, tendo o Butantan afirmado que a vacina não apresentou reações alérgicas aos testados.

Os especialistas dizem que, em que pese o índice estar abaixo do que foi divulgado na semana passada sobre casos leves, a vacina “é boa e vai ajudar a frear a pandemia do coronavírus, tendo por base que ela é compatível com a nossa capacidade de produção local; pode ser armazenada em temperaturas normais de refrigeração, de 2ºC a 8ºC; tem eficácia geral dentro do esperado; foi testada de forma adequada e dentro do padrão de maior rigor de testes clínicos; não teve casos graves nos vacinados que tiveram a Covid-19.”.

Uma microbiologista avaliou que "A gente nunca falou desde o início 'eu quero uma vacina perfeita'. A gente falou 'eu quero uma vacina para sair dessa situação pandêmica'. E isso a CoronaVac permite fazer.  (A CoronaVac) não vai pôr fim à pandemia instantaneamente. Vai ser o começo do fim. Não significa que não vai poder ver outras vacinas, melhores. É uma vacina possível para o Brasil, adequada para o Brasil, compatível com a nossa capacidade de produção local".

Ela disse que a CoronaVac pode ser armazenada em temperaturas normais de refrigeração, de 2ºC a 8ºC, que são as utilizadas na rede de refrigeração existente no país.

A referida cientista lembrou ainda que é necessário que muitas pessoas tomem a vacina, qualquer que seja, para que ela funcione na contenção da pandemia, tendo afirmado que "Uma vacina só é tão boa quanto a sua cobertura vacinal. A efetividade dessa vacina no mundo real vai depender da vacinação".

Uma pesquisadora disse que "É a nossa vacina. Ela vai nos ajudar, vai salvar vidas e, junto de outras vacinas, campanhas de vacinação, medidas de enfrentamento e adesão da sociedade, iniciaremos nossa saída da pandemia. É uma vacina boa, que foi testada de forma adequada e do padrão de maior rigor de testes clínicos, num estudo com protocolo pré-publicado”.

Um imunologista e pesquisador da USP disse que “a eficácia geral era a esperada, já que a tecnologia utilizada é a mesma da vacina da gripe, cuja eficácia fica em torno de 40% a 60%.”, ou seja, havendo aí índice inferior ao aceitável pelos organismos de fiscalização, mas, mesmo assim, a vacina é considerada eficaz.

Ele ressalta a importância da inexistência de casos graves nos vacinados que foram acometidos pela Covid-19 e Isso é muito bom. Não ter casos graves, para mim, é maravilhoso. Também não tivemos nenhuma reação adversa grave. Para nós, cientistas, isso traz uma confiança muito boa. É uma vacina boa, que não tem efeito adverso, que não gerou efeito grave, que não levou a hospitalização”.

Um epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) afirmou que, "Na prática, me parece, pelo gráfico, que essa eficácia global de 50,4% é menos relevante do que a eficácia altíssima que tem pra casos graves e mortes. Porque, na prática, o que a gente quer é evitar internação e óbito. Pensando em imunidade coletiva, o índice pode ser considerado baixo. Mas utilizar uma vacina com eficácia de 50% é infinitamente melhor do que não usar nada. Sem dúvidas, a vacina é capaz de reduzir a circulação do vírus. Antes de ler todo o resultado, eu não criticaria e descartaria a vacina pelo fato desse número.".

Uma infectologista do Instituto Emílio Ribas, em São Paulo, disse que "o número mais importante continua sendo os 78%, porque ele consegue ter um impacto muito grande na carga da doença no nosso país e na sobrecarga do trabalho dos profissionais de saúde. Num primeiro momento não ficaremos livre desse vírus, não é o momento de relaxar, mas é o momento que vemos, de fato, uma luz no fim do túnel. A melhor vacina é a que estará disponível para a nossa população".

Por sua vez, um responsável pelos testes afirmou que "A gente quer comparar os diferentes estudos, mas é o mesmo que comparar uma pessoa que faz uma corrida de 1km em um trecho plano e uma pessoa que faz uma corrida de 1 km em um trecho íngreme e cheio de obstáculos. Fizemos deliberadamente para colocar o teste mais difícil para essa vacina, porque se a vacina resistir a esse teste, iria se comportar infinitamente melhor em níveis comunitários”.

O questionamento que se faz diz respeito se a vacina ora apresentada à opinião pública pode ser tratada e considerada como imunizante com eficácia  acima de 50% e isso é muito importante, mas há a outro relevante ingrediente nessa história, que é a existência de outras vacinas, com índices superiores de eficácia, a exemplo da Pfizer: 95%; Moderna: 94,5%; Sputinik V: 91,4%; Oxford: 70%; Covachim: 63%, ou seja, a CoronaVac tem eficácia de 50,38%, sendo a última entre tantas, fato este que é inadmissível, salvo se houver justificativa plausível para a adoção da possível pior medida para a imunização, ficando evidente que os brasileiros vão agradecer a vacinação, mas deixando muito claro de que essa não é exatamente a vacina da sua preferência.   

          Se tivesse só essa opção de vacina, pouco importava o seu índice de eficácia, diante das circunstâncias, e nem precisava polemizar tanto, mas, com o avanço da ciência, é preciso também se pensar no custo-benefício, em que está em jogo são as efetivas salvação e preservação de vidas humanos, com a maior quantidade possível, não importando o valor do custo do material, porque o que precisa ser considerado neste momento é o mínimo sacrifício de pessoas.

Outro aspecto da maior importância nesta ocasião é que a imunização não poderia sequer participar de disputas políticas, como ela tem sido colocada no centro dos interesses eleitoreiros do presidente do país e do governador de São Paulo, em que cada qual defende a sua posição visando lucro nas próximas eleições presidenciais.   

Não há a menor dúvida de que a maioria das pessoas que participaram da fase 3, no Brasil, era de profissionais de saúde, que estavam expostos à sensível e muito mais alta carga viral, com muitos deles atuando em UTI de hospital, no tratamento de pacientes com alto grau de Covid-19.

Esse fato pode contribuir sim para a menor eficácia da vacina, no sentido de se avaliar menor incidência da doença entre os pesquisados, levando-se em consideração que nenhum deles foi hospitalizado e, principalmente, que ninguém morreu, situação essa que ajuda a avaliar algo muito positivo da vacina e que pode também esclarecer a menor eficácia dela, o que seria diferente se a avaliação fosse aplicada com relação às pessoas normais, onde certamente o índice seria bem mais elevado, a exemplo do que ocorreu em outros países, onde foi verificada eficácia muito superior ao do Brasil, embora muitos fatores precisam ser sopesados na avaliação sobre a eficácia da vacina.

A pesquisa afirma que o resultado dos testes evitou 100% de mortes, embora tenha sido informado que a pessoa mais velha entre os testados tinha 59 anos, ou seja, estando fora do grupo de risco referente aos idosos e isso é preocupante, porque são justamente as pessoas situadas nessa faixa que precisam ter a certeza da eficácia garantida da vacina, quando no caso de não se ter conhecimento sobre a reação que elas poderiam ter, porque a sua consistência orgânica é bem diferente das pessoas mais jovens.

Ou seja, no grupo de maior risco, os testes deixam importante lacuna, porque é essencial que se saiba, com precisão, quais os riscos que esse grupo pode incorrer ao tomar a vacina, em caso de efeito colateral e outros riscos passíveis.

É evidente que não é possível se afirmar que a vacina não é eficaz com pessoas do grupo de risco, no caso, os idosos, porque não houve testes na faixa deles, mas é preciso se acreditar na eficácia da vacina também nesse grupo.

Na prática, se uma vacina foi considerada com 80% de eficácia, isso significa dizer que 80% das pessoas que tomam a vacina ficam protegidas contra aquela doença, ou seja, entre 100 pessoas vacinadas, pelo menos 20 delas correm o risco de contrair o Covid-19.

É o mesmo que se dizer que a imunização é somente de 50%, no caso da CoronaVap, ficando os outros 50% por conta da imunização da reza, da fé, da sorte, do milagre e da proteção dos deuses da saúde, que sempre estão ao lado de quem se comporta como bonzinho, que não comete pecado e respeita o seu próximo (brincadeira).

Os brasileiros já sofreram tanto e agora é muito provável que a insensatez possa ter influência e queira fazer campanha milionária, com a mobilização de batalhões de aplicação de vacina com cara meia-eficácia, que pode passar apenas de eficácia paliativa, deixando a população meia protegida e meia desprotegida, em situação extremamente desagradável, desrespeitosa da dignidade ao ser humano que merece total consideração e tratamento digno, com maior eficiência e eficácia, até mesmo à vista dos altíssimos investimentos.

Não torço, como é do meio feitio como cidadão patriota, mas se isso realmente vier a acontecer de haver o encampamento da aplicação da vacina pela metade de eficácia, em forma de visível comodidade, para iludir a boa vontade da população, certamente que o governo se encaminha de vez para o fim melancólico do mandato, porque isso é a intenção mais cristalina da falta de interesse em melhor satisfazer às reais necessidades da população, que merece ser devidamente dignificada, caso em que não haverá perdão, diante da existência de vacinas com eficácia acima de 90%, como se a integridade da vida humana houvesse obstáculo intransponível.

Além do mais, o governo precisa priorizar as políticas públicas com o melhor que existir, para o fim de assegurar o que for do necessário para garantir a melhor qualidade de vida dos brasileiros.  

É evidente que, na situação em que se encontram os brasileiros, com a água praticamente encostando na boca e não parando de subir, qualquer socorro precisa sim ser considerado mais do que milagre e jamais se poderia pensar em descarte ou condenação dessa importante vacina, mesmo que ela tivesse índice zero de eficácia, desde que houvesse a garanta de se “evitar internação e óbito.”, que parece ser o caso cogitado, conforme garantem os pesquisadores.

Agora, convenhamos, já que o Brasil ainda se encontra nas fases preliminares de tudo, no caso da imunização, que ainda não tem vacina, seringas, agulhas etc., mas somente o máximo de urgência para a vacinação do população, diante da gravidade da pandemia do coronavírus, o ideal mesmo seria o governo pensar melhor, em termos de dignificação e respeito aos brasileiros, e somente promover a vacinação com o material de primeira qualidade, como maneira de se aumentar os índices de eficácia e segurança.

O governo não pode permitir desgraça pior de não ter condições de fazer os procedimentos de qualidade superior, em benefício para a população, para se fazer a mesma mobilização com o uso de material inferior, sob a alegação de que a eficácia é baixa, mas ela pode ajudar a sair da pandemia, ficando a impressão de algo muito estranho e ruim, quando se demora “século” para a imunização e, quando o faz, ainda em condições questionáveis pela população, que certamente merece o melhor, até mesmo como forma de compensar tanto de sofrimento por causa da pandemia em apreço.

Até aí, tudo bem, mas se existe alternativa melhor, com perfeição na eficácia, então por que a aceitação de medida meramente paliativa, quando se pode fazer algo em melhores condições para a população, que é a razão da existência do Brasil, cuja população merece ser tratada com o que há de qualidade que melhor possa garantir conforto, segurança, eficiência e eficácia, sem precisar submetê-la ao sacrifício da insegurança quanto à permanente expectativa, o resto da vida, no sentido de que: “e se a vacina não der resultado, então eu simplesmente estou ferrado”?

Diane dos fatos, os brasileiros esperam que o governo se conscientize de que qualquer vacina, neste momento de sofrimento e aflição, pelas privações já causadas pela pandemia do coronavírus, poderá ser a salvação da vida, mas, havendo a possibilidade da imunização com material de qualidade superior, certamente que será muito mais benéfico para a satisfação e a tranquilidade da população.     

Brasília, em 13 de janeiro de 2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário