domingo, 17 de janeiro de 2021

Perversidade?

 

No momento de muita turbulência que acontece na condução dos problemas da saúde pública do país, o ex-ministro da Saúde, que primeiro cuidou do combate à pandemia do coronavírus, disse ter avisado o presidente da República sobre o risco da falta de oxigênio nos hospitais, na época em que ele comandou a pasta.

o ex-ministro comentou o colapso no sistema de saúde no Amazonas, diante do aumento no número de casos de Covid-19, possivelmente com o relaxamento da população aos controles de isolamento e outras formas de prevenção da doença, após as festas de fim de ano.

Ele disse que “É muito triste abordar esse tema sabendo que esse tema foi abordado por mim junto ao presidente exatamente focando sobre o problema de oxigênio, já que nós já tínhamos assistido na Itália um colapso parcial de oxigênio na cidade de Bergamo, e foi quando as pessoas pararam de ir para o hospital e começaram a falecer em casa”.

Com o novo surto de casos de coronavírus, a demanda por oxigênio hospitalar no estado superou a média diária de consumo em mais de onze vezes, agravando a situação nos centros médicos de referência para o tratamento da Covid-19.

O ex-ministro afirmou que “Oxigênio não acaba da noite para o dia. Essa crise de falta de oxigênio já era presente tranquilamente há mais de um mês. Não está havendo monitoramento, planejamento. (Há) falta de atitude, falta de governança, falta de interesse do governo federal”.

Por fim, o ex-ministro definiu o atual governo simplesmente como “perverso: Tem gente que fala: ‘Isso é uma loucura’. Loucura tem tratamento. Outras palavras você poderia colocar, mas a perversidade me parece que é o adjetivo que eu encontrei com maior similaridade, porque é quando você tem conhecimento das consequências da sua ação”.

É evidente que dizer agora que teria avisado o presidente do país sobre  os cuidados com o risco sobre a possível falta de oxigênio não significa nada, em termos da responsabilidade do mandatário do país, porque quem é mesmo incumbido das políticas de suprimento desse material, em tese, é o ministério e as secretarias de Estado, no âmbito da coordenação dos hospitais a eles subordinados ou jurisdicionados, talvez cabendo à pasta o monitoramento sobre o estoque desse material, se muito.

Ou seja, nas circunstâncias, salvo se comprovada alguma negligência por parte do presidente, por ter, no caso, deixado de atender algum pedido emergencial sobre recursos para a aquisição de oxigênio, mas ao contrário disso, o aviso do ex-ministro não passa de conversa jogada fora, sem nenhum valor, por se tratar de tanto tempo já decorrido e ainda, em especial, por não ser assunto da agenda presidencial.

Agora, não há a menor dúvida de que a falta de oxigênio ou de outro material necessário ao combate tem tudo com o indispensável planejamento sobre a sua existência e sempre em quantidade razoável para o suprimento das demandas, principalmente em tempo de pandemia.

A falta de oxigênio em Manaus caracteriza irresponsabilidade gravosa, dolosa e criminosa, por se tratar de material essencial nos hospitais, para o abastecimento dos equipamentos pertinentes, que precisa ter em estoque suficiente até mesmo em situação de normalidade das atividades hospitalares, quanto mais em se tratando de pandemia, onde pode haver surto da doença e é preciso que todo material tenha em quantidade segura no estoque, diante da necessidade do salvamento de preciosas vidas, que não podem esperar o reabastecimento de material.

No caso de Manaus, é preciso que sejam devidamente apuradas as responsabilidades de quem deu causa à falta de oxigênio, em razão da morte de mais de 30 pessoas que deixaram de ser atendidas com o socorro apropriado, em face da inexistência desse imprescindível material.

Não há a menor dúvida de que o governo já demonstrou, por diversas oportunidades, a sua índole de forte e consciente perversidade contra a população que merece ser tratada com o máximo de dignidade e respeito, à vista do envolvimento de vidas humanas, que não poderiam ficar à mercê desse estado de insensibilidade para a gravidade do coronavírus, que precisa ser combatido com o máximo de esforços e com os melhores recursos disponíveis, mas isso tem sido fraquejado e negado, em parte, aos brasileiros.

Convém justificar a aludida assertiva tão somente com o injustificável e “secular” atraso para a imunização, em que o governo somente percebeu a gravidade da situação e que a população precisa urgentemente dessa medida depois de muita pressão da sociedade, para que ele tomasse a iniciativa das medidas pertinentes e ainda teve o desplante de dizer que não via motivo algum para as reclamações, quando se sabe que a demora para a vacinação muitas vidas humanas estão correndo o risco de não serem beneficiadas pela imunização, que é o único remédio capaz de protegê-las.

Além dessa deplorável constatação, o governo precisa se conscientizar de que as nações comandadas por homens públicos que têm sensibilidade pelo respeito às vidas humanas simplesmente privilegiaram as medidas necessárias à vacinação, quando deram início dela ainda no ano passado, quando, por enquanto, por aqui, somente há expectativa da chegada de tão importante momento da imunização, para que a vida das pessoas possa voltar à normalidade.

Outro fato que conspira forte e favoravelmente à insensibilidade do governo é a existência de grave crise na saúde pública, afetada pela pandemia do coronavírus, e o principal órgão incumbido dessa importante política ser comandado por especialista em almoxarifado, que não tem absolutamente nada com a área de Medicina ou saúde pública, diante da necessidade de alguém na direção da pasta com os conhecimentos e as experiências próprios do setor, justamente para a melhor compreensão sobre os assuntos da sua responsabilidade, tendo condições de cuidar precisa e diligentemente das demandas referentes à saúde dos brasileiros.

Diante dos fatos, é possível se inferir que a indiferença do governo à eficiência nos cuidados da saúde dos brasileiros tem como causa o seu entendimento de que todas as pessoas, mais cedo ou mais tarde, vão morrer mesmo, conforme foi dito pelo presidente, e a conveniência de se ter o ministro sob a maleabilidade do atendimento das ordens palacianas, o que pode ser diferente de a pasta da Saúde ser comandada por especialista e conhecedor dos assuntos da área, que não se submete aos caprichos do mandatário, como nos casos já acontecidos dos dois ministros anteriores, que discordaram do chefe e decidiram entregar seus postos.    

Talvez os outros deslizes do presidente, a exemplo da tentativa de minimizar a gravidade da Covid-19 e a insurgência ao uso da máscara, não sejam tão importantes quanto aos casos caracterizados acima, mas todos os cuidados, por mínimos que sejam, dizem com a demonstração do interesse pela preservação da vida humana, em respeito à sua dignidade e ao seu verdadeiro valor, algo que desperta os cuidados de todo estadista sensível com os princípios humanitários.

Enfim, os brasileiros nutrem a esperança de que, à vista das notórias situações negacionistas já colecionadas até agora, o presidente da República resolva se conscientizar de que a gravidade da pandemia do coronavírus é realmente motivo de enorme preocupação para o seu governo, diante do envolvimento da preciosidade de vidas humanas, que precisam ser preservadas sob qualquer custo e em regime de dos maiores seriedade e respeito, como fazem normalmente os estadistas competentes e responsáveis do resto do mundo.            

Brasília, em 17 de janeiro de 2021

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