quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

O significado da eficácia

 

O anúncio de que a vacina CoronaVac registrou 50,38% de eficácia global, nos testes realizados no Brasil, suscitou múltiplos questionamentos em redes sociais sobre se isso significa que apenas metade das pessoas que a tomam desenvolvem proteção contra a Covid-19.

Com a tentativa de explicar a polêmica, o reitor da Universidade de Pelotas, que é epidemiologista, declarou que "É errada a interpretação de que uma vacina com 50% de eficácia gera anticorpos apenas em metade dos vacinados. O correto é que os vacinados têm metade do risco de desenvolver a doença em comparação aos não vacinados. No caso da CoronaVac, apenas 1,8% dos vacinados contraíram o vírus".

Em relação à geração de anticorpos, em fase anterior das pesquisa, foi apontado que eles aparecem na imensa maioria dos vacinados, que adquirem resistência contra a Covid-19.

Foi explicado que, na fase 2 de testes, os voluntários que receberam o imunizante foram divididos em dois grupos, sendo que um recebeu dose mais baixa e outro dose mais alta.

O resultado desse teste indica que a dose mais baixa mostrou-se ser a mais indicada, porque 97% das pessoas desse grupo tiveram a imunidade como resposta, sendo  considerado muito positivo esse resultado.

O citado reitor disse que "Na prática, me parece, pelo gráfico, que essa eficácia global de 50,38% é menos relevante do que a eficácia altíssima que tem pra casos graves e mortes. Porque, na prática, o que a gente quer é evitar internação e óbito".

O reitor ainda explicou que, pensando em imunidade coletiva, o índice pode ser considerado baixo, mas “a utilização de vacina com eficácia de 50% é ‘infinitamente melhor’ do que não usar nada.”, tendo concluído que, "Sem dúvidas, a vacina é capaz de reduzir a circulação do vírus".

A reportagem tenta explicar que o resultado sobre a eficácia da vacina, que difere da imunidade dos vacinados, os cientistas vacinam voluntários e dão placebo (substância inerte, sem efeito algum) a outras pessoas.

Tempos depois, são contadas as pessoas que tomaram a vacina e as que receberam placebo, cujo resultado do teste é dado pela quantidade das pessoas que pegaram a doença, em cada caso.

A proporcionalidade das pessoas a menos que foram contaminadas com a doença, só com relação de quem tomou a vacina, é possível se quantificar a efetividade do imunizante, ou seja, a taxa de eficácia da vacina dada pela menor quantidade de pessoas contaminadas entre as que tomaram o imunizante.

Uma microbiologista e pesquisadora da USP ressaltou que convém, para o sucesso da imunização contra a Covid-19, a maior quantidade possível de pessoas vacinadas, para se obter a devida eficácia na contenção da pandemia, tendo explicado que "Uma vacina só é tão boa quanto a sua cobertura vacinal. A efetividade dessa vacina no mundo real vai depender da vacinação".

O número mínimo recomendado pelas Organização Mundial da Saúde e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Avisa) é de 50%, o que significa dizer que a CoronaVac deixou de ser reprovada por apenas 0,39%, ficando definitivamente caracterizada que a sua eficácia somente tem a propensão de imunizar a metade das pessoas que a tomarem, ficando a outra parte na incerteza de que está ou não imunizada, o que resulta de traumática angústia quanto à eficácia da imunização, diante da falta de sintoma sobre o resultado se positivo ou negativo quanto à resistência à Covid-19.

Ou seja, se realmente for aplicada, sem exceção, a CoronaVac aos brasileiros, todos vão ficar em eterna preocupação, diante da certeza de que a eficácia dela não tem a menor garantia, visto que qualquer pessoa vacinada, não importa o universo, a metade dela está passível de não ter sido efetivamente vacinada, porque a Covid-19 pode contaminá-la.

Isso significa, para qualquer leigo, que a CoronaVac não é de toda descartável, porque ela protege a metade do universo das pessoas que a receberam, o que vale dizer que, se dez milhões de brasileiros a receberem, pelo menos, cinco milhões ficam sujeitos à contração da Covid-19.  

Não adianta se tentar tapar o sol com a peneira, com a argumentação mais sábia que for ou com a criação da melhor desculpa, porque a verdade diz mesmo que a vacina com 90% ou miais de eficácia é indiscutivelmente bem superior a outra com apenas 50,38%, em qualquer parte do planeta, até mesmo, por óbvio, no país tupiniquim.

Em se tratando de governo minimamente sério, competente e responsável, que se preocupa com a saúde da população, em especial em tempos de pandemia, que exigem cuidados especial e de primeira qualidade, desde logo descartava a aplicação de vacina de menor eficácia e resolvia adquirir produto que pudesse tranquilizar a sociedade, na certeza de que a imunização foi realizada sob a observação da melhor qualidade existente na atualidade.

É evidente que, diferentemente disso, o governo, nesse caso também, só confirma a sua posição de descaso e despreocupação com a defesa da saúde dos brasileiros, à vista de que não se pode negar a participação dele no combate à pandemia, mas é mais do que notório que as medidas até agora adotadas estão no limite do mínimo recomendado, quando os esforços desprendidos não passam da incumbência normal exigida nas circunstâncias, como nesse caso, em que o governo, tendo a obrigação constitucional de vacinar, então deve autorizar a aplicação da CoronaVac, que é a vacina com menor teor de eficácia, talvez recomendada somente para país paupérrimo que não tenha condições para adquirir imunizante de qualidade para a sua população.

É importante repetir as palavras sinceras e honestas proferidas pelo reitor da Universidade de Pelotas, RS, que afirmou que “a utilização de vacina com eficácia de 50% é ‘infinitamente melhor’ do que não usar nada.”, citação que mais se coaduna com deboche à gravidade da pandemia, ou seja, não fosse a situação compreendida como guerra contra a temível Covid-19, não haveria problema nenhum se aplicar remédio melhor de que nada, mas a desgraça exige cuidados prioritários para a proteção de vidas humanas, sem jamais se preocupar com o custo da aquisição dos produtos necessários, porque a economia será recuperada com o tempo, mais cedo ou mais tarde, não importa, mas as vidas perdidas nunca mais serão trazidas de volta.    

Ou seja, nem precisa ter o mínimo de raciocínio e inteligência para se interpretar que a compreensão sobre a sábia conclusão do citado reitor é maravilhosa quanto à aplicação da CoronaVac, porque ela é realmente bem melhor do nada.

Na minha modesta concepção sobre a ciência e mais particularmente a vacina, esse entendimento é de muita pobreza, em termos de desprezo à dignidade do ser humano, em especial aos brasileiros, porque não se pode admitir ou permitir que haja tanto sacrifício, com o emprego de recursos humanos, materiais e financeiros para a tentativa da imunização tão somente parcial da sociedade, de maneira consciente, com o emprego de material que é apenas melhor do que nada, na opinião de entendido do assunto, quando a grandeza do Brasil não merece essa medíocre realidade, diga-se de passagem, monstruosa e desgraçada contra o sentimento de relevância e dignidade dos brasileiros, que merecem o devido respeito como ser humano.

Na verdade, essa deplorável conclusão de que a aplicação da CoronaVac é melhor do nada, quando há melhores opções de imunizante no mercado, apenas se harmoniza com a compreensão do governo de que vem se sacrificando para proteger a população, exatamente no cumprimento do dever constitucional, porque todos estão vendo o seu grandioso empenho no combate à pandemia, em que já houve “secular” atraso na imunização e ainda poderá haver deficiência na qualidade da vacina, não havendo a menor dúvida sobre a realidade dos acontecimentos.

É evidente que seria muito injusto se exigir o sacrifício do governo para a imunização com o uso de vacina com melhor eficácia, diante da maneira como o mandatário prefere se distanciar das questões inerentes ao combate à pandemia, em clara insensibilidade à sua gravidade, talvez por imaginar que ele é forte e as demais pessoas não passem de “maricas”, como já foi dito assim por ele, em que pese a contabilização de mais de 200 mil mortes e milhares de contaminados pela Covid-19, fato que, por si só, exige tratamento mais do que especial e de excelência, precisamente pelo envolvimento de preciosas vidas humanos.

Brasília, em 14 de janeiro de 2021

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