sábado, 16 de janeiro de 2021

O momento é de paz

 

Diante do colapso na saúde de Manaus, que vem estarrecendo o mundo pela crueldade com os doentes, em razão da falta de oxigênio nos hospitais, para os internados acometidos pela Covid-19, doentes levados às pressas para outros estados e cemitérios sem vagas para os mortos, o governador de São Paulo afirmou que o Congresso Nacional e a sociedade civil devem reagir à maneira como o presidente da República vem conduzindo as políticas de combate à pandemia.

Ao se referir ao registro de mais de 206 mil óbitos, por causa da doença, o governador paulista fez menção a "genocídio" por parte do presidente brasileiro.

O governador paulista disse que "Li uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro dizendo: 'Fiz tudo o que estava ao meu alcance, o problema agora é do estado do Amazonas e da Prefeitura de Manaus'. Inacreditável. Inacreditável. Em outro país, isso talvez fosse classificado como genocídio. É um abandono aos brasileiros".

Ele continuou dizendo que "Está na hora de termos uma reação a isso. Da sociedade civil, dos brasileiros, da população do Brasil, da imprensa, do Congresso Nacional de quem puder ajudar. Ou vamos assistir a isso? Ou vamos assistir a isso por meses e achar que isso é normal, que faz parte e que a ideologia do negacionismo é aceitável?".

O governador paulista disse que a falta de oxigênio para pacientes internados com Covid-19 em Manaus decorre da "opção pelo negacionismo" e da "política caótica" do governo federal em relação à pandemia, tendo dito que "O negacionismo (está) dominando o país no governo federal. Um mar de fracasso, colocando como vítimas milhares de brasileiros que perderam a sua vida e outros milhares que podem perder".

O governador também afirmou que "Tenho a sensação de que o governo Bolsonaro gosta do cheiro da morte, e não de celebrar a vida, pois se quisesse celebrar a vida já teria contribuído com o estado do Amazonas para oferecer condições mínimas de atendimento aos brasileiros que lá vivem. Não teríamos assistido às cenas dramáticas que vimos ontem na TV".

O governador de São Paulo disse que “houve clara minimização da pandemia, foi chamada de ‘gripezinha’, houve sistemático combate ao distanciamento social e ao uso de máscaras, foram incentivadas as aglomerações, negado o  valor da ciência, a palavra dos cientistas, dos órgãos científicos nacionais e internacionais, falta de planejamento na aquisição de vacinas e desaparelhado o ministério da saúde retirando dela as pessoas com conhecimento de causa. Pior ainda, foi dito que a pandemia estaria no ‘finalzinho’".

Diante das aludidas acusações, o presidente reagiu, tendo chamado o adversário político de "moleque" e ainda dizendo que ele e outros governadores "querem quebrar a economia do Brasil para botar na minha conta".  

O presidente do país, demonstrando muita irritação, disse que "Agora, vem esse moleque, governador de São Paulo, me acusar de facínora. Seja homem, cara. É duro mexer com quem tem um comportamento como esse cara. (...) Em São Paulo, (há) um governador medíocre, que não sai na rua. Se sair, vai ser linchado. O tempo todo querendo acusar a mim, achar um responsável pelo seu insucesso em São Paulo. E parece que está organizando inclusive hoje uma manifestação, um panelaço contra minha pessoa. Baseado no quê? Está faltando coragem, seriedade para esse governador".

O presidente esclareceu: “Terrível, o problema em Manaus. Agora, nós fizemos nossa parte”, sem mencionar o que ele teria feito para ajudar o povo daquele estado, mas, mesmo assim, o que o presidente teria feito em Manaus foi insuficiente para resolver a integridade do problema que não permitia que ele se retirasse do fronte, mesmo acreditando ter feito a sua parte, porque é dever da União fazer a sua parte e tudo o mais que for preciso para estancar de vez todos os problemas.

Nem precisa de muito esforço para se perceber a degeneração do nível de políticos tupiniquins, quando autoridades da maior relevância se engalfinham em acirradas brigas verbais e públicas, com o uso de palavras agressivas e absolutamente inadequadas entre representantes do povo, para o qual eles têm o dever de darem bons exemplos de educação e de equilíbrio psíquico e emocional, diferentemente de seus comportamentos ao extremo da indelicadeza e do desprezo aos princípios de civilidade e cidadania, em visível distanciamento do desejável ânimo apropriado para a melhor condução necessária ao enfrentamento da gravidade da pandemia do coronavírus.

Em se tratando de grave crise causada pelo coronavírus, o bom senso, a sensibilidade e a racionalidade aconselham que os homens públicos deixem de lado, momentaneamente, as suas rixas pessoais e os seus planos políticos futuros, para se unirem, se juntarem no único propósito de esforços e trabalho  em benefício da população, que só tem a perder e muito com as insensatas e pueris brigas que só expõem imaturidade política e contribuem para o distanciamento dos entendimentos e do encaminhamento das melhores soluções para os graves problemas da saúde pública.

À luz dos pronunciamentos e das acusações feitos pelo governador caberia sim algumas conclusões e lições importantes, porque o muito que foi reverberado por ele tem sim fundo de muita verdade e bastante consistência, à vista dos fatos, pelo tanto que o presidente vem fazendo para se tornar protagonista de momento profundamente lamentável para os brasileiros, precisamente em situação da maior gravidade de crise da saúde pública, onde o mandatário sempre quis chamar a atenção não para atos de puro altruísmo, como forma de contribuir ativa e positivamente para o efetivo combate à pandemia, mas ao contrário disso, ele sempre se apresenta mídia para mostrar para a população o seu desprezo às medidas e às orientações oficiais necessárias ao distanciamento do coronavírus.

É evidente que este momento não é para condená-lo, mas sim para mostrar que ele, na qualidade de autoridade máxima do país tem o dever ético, moral e legal de ser a principal pessoa para conduzir a população para o caminho das melhores práticas de conscientização sobre a gravidade da pandemia, mesmo que tenha, como tem, enorme dificuldade para compreender, como verdadeiro ser humano, a grandeza da dor que familiares e amigos sentem no coração com a perda de mais de 206 mil brasileiros, que certamente não chegariam a tantas perdas se ele tivesse sido compreensivo e respeitoso ante a desgraça que se abateu contra a população comandada por ele, que ainda acha que teria feito a sua obrigação, que não passou de terrível e imperdoável desprezo a tudo que diz respeito ao combate à pandemia.

A verdade mostra que, no peito do presidente, há forte mágoa nutrida pelo sentimento de que seus opositores querem fazer tudo para quebrar a economia do Brasil e, por via de consequência, inviabilizar seus planos políticos de reeleição, que parecem ter muito mais importância do que os princípios humanitários, que exigem dele os devidos atenção e carinho, à vista do relevante cargo investido por ele.

Talvez isso possa, de alguma forma, explicar a indiferença que o presidente tem aos sentimentos humanitários, quando o fator econômico possa ter tamanha importância para ele, ante a sua demonstração contrária ao isolamento social, que foi a principal medida coordenada pelos governadores, muitas vezes criticada justamente porque ela foi realmente responsável pela quebradeira da economia, embora ela tenha sido, sem dúvida, a principal responsável pela salvação de milhares de vidas, atentando-se, ainda, para o fato de que a economia tem como ser recuperada, com o passar do tempo, mas jamais as vidas perdidas podem ser resgatadas.

Pensando no bem da humanidade, acredita-se que as lamentáveis lições pregadas pelo presidente brasileiro podem servir de extrema importância como contribuição para a história político-administrativa do país, sendo aconselhável que elas sejam muito bem aprendidas pelos verdadeiros políticos e estadistas e jamais esquecidas de seus mínimos detalhes, porque elas são preciosíssimas em ensinamentos, no sentido de que ninguém mais se atreva a praticá-las, ante aos seus resultados prejudiciais aos interesses da humanidade, na certeza de que as futuras gerações certamente sentir-se-ão envergonhadas de saberem que alguém foi capaz de ser insensato e indiferente à gravíssima pandemia que feriu de morte milhares de brasileiros.

Enfim, em que pesem as mentalidades de homens públicos serem tão carentes de boas condutas e de civilidade, conforme mostram os fatos, o momento é exclusivamente de convite à união, à compreensão, ao entendimento e à aproximação das autoridades públicas, de modo que seja possível o trabalho em conjunto, com os maiores esforço e persistência de todos, apenas visando à salvação de vidas, independentemente de ideologias e pretensões políticas, porque estas podem esperar para o momento oportuno, mas a desgraça da pandemia do novo coronavírus precisa ser combatida agora e com muita determinação conjunta dos homens públicos e da sociedade.                   

Brasília, em 16 de janeiro de 2021

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