quinta-feira, 2 de junho de 2022

Condenável barbaridade

 

À toda evidência, a violência policial, na atualidade, pode ser seguramente enquadrada como verdadeira tragédia nacional e, de igual modo, é também a violência dos bandidos, do feminicídio, da corrupção, da fome e da miséria, à vista, neste caso, diante das milhares de pessoas desamparadas nas ruas e no interior do país. 

O bárbaro crime ocorrido em Umbaúba, interior de Sergipe, em que policiais rodoviários federais imobilizaram um homem portador de esquizofrenia e o jogaram no porta-malas de uma viatura cheia de fumaça branca, traduz forma mais cruel de selvageria humana, com requinte de muita crueldade, que assusta pela forma típica de tortura letal. 

A vítima foi morta por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda, segundo assim foi o atestado expedido pelo Instituto Médico Legal de Sergipe.

O mais chocante desse fato é que a Polícia Rodoviária Federal divulgou nota alegando, pasmem, que a vítima teria resistido à prisão e que, devido à sua agressividade, “foram empregados técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo.”, como se não existissem outras técnicas civilizadas para se prender e imobilizar o infrator, fato este que só demonstra índole selvagem desses policiais. 

Ocorre que o “menor potencial ofensivo” simplesmente foi capaz de sufocar até matar a vítima, que evidentemente não resistiu ao alegado potencial ofensivo, que somente se encaixa na mente de pura insensatez e incivilidade, ante aos comezinhos princípios humanitários.

Para piorar a situação, toda essa selvageria aconteceu à luz do dia e na frente de muitas testemunhas, que presenciaram a tudo, estarrecidos com o que se passava, ao meio a esse tratamento de terrível choque desumano e mortal.

Diante da declaração da PRF, a ilação que se poder tirar do lamentável episódio é que os policiais ainda foram “bonzinhos” demais para com a vítima, ao decidirem aplicar técnica de menor poder agressivo, porque eles estão autorizados a usar, pasmem, procedimento de maior potencial ofensivo, com capacidade ainda mais letal. 

Não há a menor dúvida de que o trabalho dos policiais é de grande importância para a segurança da sociedade e que eles, nesse trabalho, correm o risco do  enfrentamento diário de situações em que a própria vida se encontra sob perigo de agressão e até de morte, mas nada permite nem concede o direito de eles agirem com tamanha brutalidade, em claro disparate aos princípios humanitários, mesmo tendo que lidar com criminosos, o que não era o caso da vítima, que apenas não usava capacete, por ocasião da abordagem, que deve ter se exaltado, na ocasião, mas não justificaria tamanho exagero contra ele, que teria cometido mera infração no trânsito, que lhe valeu, pasmem, a sua preciosa vida. 

Esse deplorável episódio chama a atenção pela forma como a vítima foi torturada e morta, conquanto outros casos também graves, envolvendo violência policial, vêm ocorrendo com bastante frequência, que igualmente assusta e atemoriza a sociedade, mas certamente nenhuma medida deverá surgir diante de tamanha deplorabilidade do sistema policial, quando poder-se-ia aproveitá-lo para servir de base para o aperfeiçoamento das técnicas repressivas de repressão às infrações às leis penais do país, como forma apenas de repressão e combate aos abusos às normas legais.

As páginas policiais dos jornais, os telejornais das televisões e de outros meios de comunicação social, como sites de notícias, estão recheados de notícias sobre violência e muitas delas envolvem policiais ou são suspeitos da prática de crimes bárbaros, que poderiam servir como lição para as autoridades da segurança pública aprenderem e ensinarem as melhores técnicas para o cumprimento da importante missão inerente à manutenção da ordem pública, com menor violência possível. 

A verdade é que a situação de violência envolvendo policiais já atingiu nível alarmante e insuportável, sendo aconselhável esforço conjunto da União, dos Estados e municípios, com vistas ao grande debate nacional, para se estudar as questões referentes à segurança pública, com enfoque especial para as ações das polícias militares e civis no Brasil, tendo, necessariamente, a participação de renomados  e experientes especialistas em segurança pública, representantes da sociedade civil e das próprias corporações.

O que não pode mais é simplesmente tentar minimizar esse caso e tão somente fechar os olhos para a barbárie que ele efetivamente representa para a sociedade, deixando passar em brancas nuvens, se jogar a toalha e se render ao imperdoável abuso de autoridade, porque isso já é muita condescendência com o malfeito e a impunidade, em clara demonstração de desinteresse e irresponsabilidade por parte das autoridades públicas. 

Ressalte-se, a propósito, outro triste acontecimento no Rio de Janeiro, na forma da Operação da Polícia Militar fluminense e da também PRF, na Vila Cruzeiro, que se destinava à prisão de chefes de facções criminosas, mas a polícia saiu de lá com nada mais, nada menos, pasmem, 23 corpos, entre os quais de pessoas inocentes, que foram atingidas por balas perdidas, cujas fatalidades não têm reparo e nada acontece, em termos de medidas com vistas a menor danos para a sociedade, evidentemente no caso das vítimas inocentes. 

É preciso sim que haja efetivo e vigoroso combate à criminalidade, porque a ação indormida da bandidagem já extrapolou os limites de tolerância, mas as medidas efetivas não poderiam ser sob procedimentos mais cuidadosos e racionais, sem necessidade da execução de inocentes?

A verdade é que, nessa matança no Rio de Janeiro, há indícios de algumas execuções depois da tortura, o que é inadmissível.

Convém sim que seja reforçado o combate à criminalidade, mediante a redobrada força policial, quando isso se fizer necessário, de modo que tudo seja processado com base nos princípios do bom senso e da racionalidade, em conformidade dom o regramento jurídico e as normas de segurança, em rigoroso respeito aos sagrados princípios humanitários.

          Como a segurança pública diz respeito diretamente aos interesses da sociedade, como forma de proteção pessoal e da sua propriedade, convém que os brasileiros se mobilizem para exigir dos candidatos, no próximo pleito eleitoral, a priorização de medidas efetivas voltadas para a modernização dos sistemas de segurança pública, envolvendo a reciclagem de policiais, o desarmamento da criminalidade e a conscientização sobre a participação da população no combate à violência.

          É importante que fique o registro sobre o descaso do atual governo, diante do descalabro da violência generalizada no país, tanto por parte da criminalidade como dos policiais, mas não se tem conhecimento de nenhuma medida prioritária com vistas ao saneamento dessa trágica realidade nacional, em termos de preocupação com a conscientização sobre o seu combate, em termos de eficiência e efetividade, de modo que a relevante missão incumbida ao Estado, da manutenção da ordem pública, se processe em nível aceitável de respeito aos princípios civilizatórios e humanitários.

No caso específico do trabalho dos policiais, convém que eles sejam reciclados quanto ao seu preciso dever funcional, evitando saírem do prumo da normalidade, sob pena de haver severas punições para aqueles que excederem os limites da lei, porque o Brasil não pode virar o país da barbárie e muito menos dos justiceiros, que entendem de fazer justiça com as próprias mãos, lembrando que todo sistema de segurança pública precisa de profundas reformas.

A verdade precisa que seja mostrada aos verdadeiros brasileiros, que se preocupam com a integridade da vida, no sentido de que seja preciso eleger políticos que até possam defender o acesso às armas de fogo à população, mas sobretudo que eles tenham a consciência sobre a urgente necessidade da priorização da modernidade e do aperfeiçoamento do sistema de segurança pública, no conjunto mais amplo possível, de modo a propiciar a desejável conservação da vida e do patrimônio das pessoas, em nível satisfatório, não se permitindo mais a predominância das mazelas que grassam no Brasil.   

Brasília, em 2 de junho de 2022

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