segunda-feira, 27 de junho de 2022

O dever de prestar contas

 

O presidente do Supremo Tribunal Federal declarou que, “Ninguém pode esquecer o que ocorreu no Brasil, no mensalão, na Lava Jato. Muito embora tenha havido uma anulação formal, mas aqueles R$ 50 milhões das malas eram verdadeiros, não eram notas americanas falsificadas".

Sem citar nomes, o presidente do Supremo fez referência ao episódio do ex-ministro emedebista baiano, condenado por lavagem de dinheiro e organização criminosa no caso do bunker, com R$ 51 milhões encontrado em um apartamento, em Salvador.

Outro caso citado por ele foi do dinheiro desviado pelo ex-gerente da Petrobras, que se tornou delator na Lava-Jato, tendo afirmado que "O gerente que trabalhava na Petrobras devolveu US$ 98 milhões e confessou efetivamente que tinha assim agido".

As aludidas declarações tiveram repercussões imediatas no seio político, em especial, mediante manifestações de parlamentares lavajatistas, bolsonaristas, com destaque para petistas, que as criticaram e as  classificaram como ato politizado.

Um deputado disse que "O vídeo que todo mundo deveria assistir para entender o que aconteceu entre STF, Lula e Lava Jato. É nojento ver Fux se gabando de ter julgado casos de corrupção e admitir que houve anulação de condenações. Lula não foi inocentado".

Uma deputada estadual por São Paulo disse que, "Com todo respeito, meras formalidades justificam jogar tudo para baixo do tapete? Todos tiveram as melhores defesas! Pensem no mal que essas anulações fizeram ao País! De que adianta esse belo discurso agora? É triste! É vergonhoso!".

O então juiz da Lava-Jato ressaltou como "palavras fortes de Fux. Todo o roubo ou o saque dos cofres públicos está sendo infelizmente esquecido. A crise é acima de tudo moral.".

O chefe dos procuradores na Lava-Jato deu "Parabéns ao min. Fux por reconhecer o trabalho da Lava Jato e dizer que ninguém pode esquecer dos bilhões desviados: a corrupção no Brasil é real. Há uma minoria honrosa no STF, da qual o min. Fux faz parte, que continua defendendo o combate à corrupção.".

Um deputado petista disse que "Em uma frase ele conseguiu romper dois princípios fundamentais. Por isso que ela é uma frase inapropriada, inadequada e inaceitável. O presidente do STF, que é a corte constitucional, que deve primar pela defesa intransigente do texto constitucional, quando ele faz uma declaração como esta ele enfraquece o sistema judicial e ele politiza a conduta do Supremo".

O petista disse que a declaração do presidente do Supremo fere o princípio da presunção de inocência, tendo afirmado que os magistrados devem se manifestar somente nos autos, porque "Afirmar que alguém cometeu um crime sem que exista uma sentença transitada em julgado, é uma afirmação que contraria o princípio da Constituição.".

Outro de deputado federal petista defendeu as anulações das condenações do seu líder, dizendo que "Eu acho que é importante lembrar o ministro que a anulação se deveu porque a Justiça considerou Sergio Moro um juiz parcial. Um juiz que teve um final lamentável.".

Esse parlamentar disse que as anulações foram baseadas na incompetência da vara de Curitiba e que seu líder teve julgamento político.

Antes da decisão sobre a parcialidade do juiz, as condenações contra o político já tinham sido anuladas por decisão de um ministro do Supremo, que declarou a incompetência territorial de Curitiba para as ações, que deveriam tramitar no Distrito Federal.

Com a manutenção dessa decisão, pelo plenário do Supremo, o petista-mor teve seus direitos políticos restituídos e passou a ser elegível, embora as denúncias contra ele permaneçam integrais, o que vale dizer que a maculabilidade na vida pública, quanto a ele, não foi afastada e ele não tem condições de provar conduta ilibada nem idoneidade com o trato da coisa pública, uma vez que ele não teve condições de provar a sua inocência perante a Justiça brasileira.

Na verdade, as declarações do presidente do Supremo têm total pertinência, porquanto as decisões anuladas por essa corte, por motivos bastantes questionáveis, muito mais por razões ideológicas e não justificáveis por motivo de mérito, mas sim por interpretação sobre a jurisdição, e ainda mesmo por parcialidade do julgador, nada disso invalida as gravíssimas suspeitas das práticas de atos de corrupção e lavagem de dinheiro, cuja autoria foi atribuída ao principal líder da oposição, que deveria respeitar a dignidade do eleitor e procurar, antes de se candidatar, limpar seu nome na Justiça, para ter o direito olhar na cara dos brasileiros e puder sair normalmente nas ruas.

Ou seja, é preciso que fique muito claro que os fatos irregulares, como recebimento de propinas provenientes dos cofres da Petrobras, em princípio atribuídos a esse político, permaneceram intactos, integrais, independentemente de parcialidade do juiz da Lava-Jato e das anulações pelo Supremo das sentenças proferidas por ele, o que vale que o presidente da Corte somente falou a verdade sobre os fatos que envergonharam o mundo, mas são defendidos por seguidores desse político despreocupado com a moralidade na administração pública.

Agora, é vergonhoso e deplorável que políticos e seguidores do político aproveitam as referidas circunstâncias, que não têm nada a ver com as roubalheiras em si, porque elas efetivamente aconteceram em épocas pretéritas às declarações de parcialidade do juiz e das anulações das suas sentenças pelo Supremo.

O certo é que resta patente que os casos são absolutamente distintos, ou seja, a rapinagem do dinheiro público é uma coisa e as falhas de procedimentos processuais, que nem foram provados, ante a falta de investigação pertinente, eis que a conclusão nesse sentido foi feita por mera presunção, com base em espionagem clandestina e irregular, ou seja, sem autorização judicial, sem a menor validade jurídica, que não pode gerar efeito legal, mas, mesmo assim, o Supremo a aceitou, sem questionar nada quanto à autenticidade e a veracidade sobre as conversas.

Enfim, resta evidente que os fatos irregulares cuja autoria é atribuída ao político são completamente distintos de possíveis erros processuais ou algo que o valha, tendo ficado comprovado, em investigações, por meio de provas materiais, que estão inseridas nos autos, o desvio de suntuosa quantidade dinheiro dos cofres da Petrobras, os quais ainda pendem de julgamento, principalmente porque o principal acusado não conseguiu provar a sua inocência sobre eles e também deve explicações à sociedade, como prestação de contas sobre seus atos na vida pública.    

Brasília, em 27 de junho de 2022

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