quinta-feira, 23 de junho de 2022

Velha política em ação

 

A depender de investigação, o então ministro da Educação, que é religioso pastor fundamentalista, abriu caminho aos cofres da pasta para atendimento de demandas de dois pastores, segundo informes sob as bênçãos da bancada da Bíblia e a proteção do presidente do país.

Esse esquema criminoso foi confessado em sinceridade pelo próprio ministro, conforme gravação em cerimônia com prefeitos aliados  e divulgada por importante jornal.

O ministro apenas disse que os pastores mantinham lobby por verba para prefeitos aliados com o respaldo do presidente do país, embora ele tivesse tentado negar o que constava da gravação e o estrago político foi realmente inevitável.

Ou seja, o escândalo do bolsolão ganhava contorno muito claro, dependendo apenas da identificação dos envolvidos, mesmo porque fala-se em pagamento de propina, à vista de denúncias feitas por prefeitos.

O desempenho do governo vem há tempo capengando ao embalo de escândalos desnecessários, mas eles acontecem precisamente por causa de sentimentos inescrupulosos, como as tramoias envolvendo recursos da União, na forma mais do que vergonhosa, degradante e imoral do “orçamento secreto”, quanto à sonegação premeditada de informações sobre as despesas públicas, a se permitirem superfaturamento na compra de tratores e vacinas, além de muitas falcatruas certamente inevitáveis, à vista da falta de transparência e prestação de contas com relação aos gastos.

Os procedimentos indecentes e vergonhosos, quanto ao orçamento secreto, só demonstram indignidade e infringência às regras orçamentárias, que são atos próprios das piores e desprezíveis republiquetas, porque elas não têm o menor escrúpulo em menosprezar os princípios republicanos, que são fundamentais à seriedade no trato da coisa pública.

          É princípio constitucional que o Estrado seja laico, ou seja, que nele não pratique a defesa da religião e muito menos que o Deus esteja no centro da gestão pública, como assim vem exercendo o mandato, em verdadeiro confronto direto com a Carta Magna.

A verdade é que o presidente do país invoca insistentemente o nome de Deus em vão, exclusivamente para angariar a simpatia de adeptos à causa pessoal de poder.

A CPI da Covid do Senado Federal já tinha identificado esquema parecido no Ministério da Saúde, que também não foi diferente no Ministério do Turismo, onde neste, houve denúncia sobre desvio de verbas, mas o presidente do país se mostrou intrépido e fervoroso adepto do fundamentalismo de resultados, sem acreditar em desonestidade no seu governo.

Segundo consta na denúncia de intermediadores, havia sim desmandos com viés interesseiro, tal e qual de operadores de um gabinete paralelo, para a administração do esquema criminoso, sempre com o recebimento por fora, em claro estilo clássico de corrupção.

O Ministério da Educação converteu-se em aparelho do crime organizado, militando sob as preces de venais cupinchas do presidente, que foi submetido ao proselitismo político, contaminado pela podridão dos interesses escusos, sendo magnânimo na distribuição de postos-chaves aos aproveitadores do Centrão.

O cerne do problema é, na essência, o presidente da República, que aderiu ao protagonismo de administração que contribuiu para o apodrecimento precoce da gestão pública, diante de atos concessivos ao Centrão, ao meio de denúncias de delitos e pedidos de impeachment a perder de vista, fatos estes que ajudam ao descrédito do governo.

A sua gestão vem gerando encrencas e descalabros de toda ordem, que deixam marcas visíveis, que ainda contribuem para aprofundar as calamidades em vários setores do governo.

O tráfico de influência salta aos olhos, sob o comando do grupo político que o presidente do país chamava, na campanha eleitoral, de velha política, mas hoje, ele é um dos principais integrantes dele, no caso, o Centrão.

Trata-se de situação de claro vexame, no que se refere à distribuição ilegal de verbas como vem ocorrendo por meio do orçamento secreto, exclusivamente para a compra da consciência de parlamentares, que vendem seus votos em apoio aos projetos do governo.

Já se tornaram praxe as liberações e empenhos de milhões de reais para o “atendimento especial” aos amiguinhos do presidente do país, em verdadeiro circuito paralelo de favores para saques na “boca do caixa”, na forma do orçamento secreto, em clara forma de corrupção sem freio, em confronto com os princípios da moralidade, da honestidade e da dignidade na gestão pública.

          Urge que os verdadeiros brasileiros repudiem a falta de conscientização do presidente da República, quanto aos princípios republicanos da moralidade e da dignidade na gestão pública, de modo que ele possa entender a real finalidade do exercício do mandato presidencial, na defesa da legitimidade e da qualidade dos atos administrativos, exclusivamente quanto ao atendimento dos fins essenciais da sociedade, ou seja, do interesse público.  

Brasília, em 23 de junho de 2022

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