quinta-feira, 30 de junho de 2022

Críticas inócuas?

 

Em vídeo que circula nas redes sociais, um desembargador faz veementes críticas ao sistema eleitoral, em especial sobre a necessidade do aperfeiçoamento das apurações, reclamando quanto à importância da absoluta transparência na contagem dos votos.

Embora o alerta em causa se harmonize perfeitamente com a realidade angustiante que representa a apuração dos votos, no Brasil, o lúcido apelo de que se trata, muito bem dramatizado, certamente foi feito por quem deve se candidatar a algum cargo público eletivo, porque ele não passa de estrondoso esforço inócuo, sem nenhuma utilidade, porque tudo o que foi dito pelo magistrado o povo já sabe de longa data, no sentido de que se conta voto no local da abertura das urnas, na presença dos próprios eleitores, à luz dos princípios democráticos e da transparência.

Caso houvesse realmente algum interesse em solucionar importante questão, bastaria a aprovação de norma legal, determinando que a contagem de votos seja feita na comarca apropriada, mediante os rituais específicos indicados, cujo resultado será imediatamente enviado para a central de apurações, via internet.

Se nada foi feito nesse sentido, tão simplista, só mostra incompetência por parte de quem tem a incumbência de agir para o aperfeiçoamento do sistema eleitoral e entendeu que a regra atual satisfaz seus interesses políticos.

Infelizmente a discussão sobre a atualização do sistema eleitoral e, de resto das questões estruturais e conjunturais do Brasil, passa à margem do povo, que é a principal parte interessada no aprimoramento das questões de interesse da vida nacional.

Nos países evoluídos, política e democraticamente, a voz do povo tem vez e muitas decisões importantes são adotadas em benefício do bem comum, exatamente no ato da votação para se eleger seus representantes políticos.

Isso demonstra evolução política e democrática do país, que valoriza o seu povo, diferentemente do que acontece no Brasil, em que a única incumbência atribuída ao povo é a de eleger seus representantes políticos e mais nada, o que vale dizer que o povo sequer pode fiscalizar o desempenho de quem foi eleito por ele, o eleitor, mesmo sabendo da notória degeneração que permeia o trabalho dos representantes do povo, que não têm o menor interesse em cumprir a sua verdadeira missão de defesa dos interesses da população.

O povo precisa ter voz ativa, com respaldo na Constituição, na forma de poderes definidos de influência nas decisões nacionais, como nesse caso da apuração de votos, que atualmente fica à mercê de apenas uma pessoa, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, que até pode decidir, sozinho, quem presidirá o Brasil, com o detalhe de que o seu poder legal e decisório é irrecorrível praticamente em definitivo, ou seja, de nada se resolverá por meio de recursos, porque serão apreciados por colegiado com a mesma mentalidade dominante na direção do Tribunal eleitoral.

Enfim, de nada adianta ficar criticando, agora, a existência das possíveis mazelas no sistema eleitoral, quanto à forma de apuração, porque as regras atuais estão em conformidade com a legislação vigente, sendo absolutamente inócuas as críticas, por mais que elas tenham pertinência, mas isso só mostra a forma clássica da falta de competência para a correção de falhas operacionais.

Brasília, em 30 de junho de 2022

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