quarta-feira, 28 de setembro de 2022

Banalização da criminalidade?

 

Um ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, que foi o relator do processo referente ao mensalão, manifestou apoio à candidatura do principal candidato da esquerda à Presidência da República.

Em mensagem gravada em vídeo, o ex-ministro fez a seguinte declaração, certamente na tentativa de justificar o seu voto, in verbis:Em 2018, eu alertei os brasileiros que Jair Bolsonaro seria uma péssima escolha para a Presidência da República. Bolsonaro não é um homem sério. Não serve para governar um país como o nosso. Não está à altura do cargo. Não tem dignidade para ocupar um cargo dessa relevância. Nas grandes democracias, Bolsonaro é visto como ser humano abjeto, desprezível. Uma pessoa a ser evitada. Esse isolamento internacional é muito ruim para o nosso país. Nós perdemos muitas importunidades com isso. É preciso votar já em Lula, no primeiro turno, para encerrar essa eleição no próximo domingo.”.

É extremamente estranha a maneira deselegante e agressiva como o ex-ministro se dirige, de forma violenta, ao candidato à reeleição, com adjetivações mordazes e contundentes, para o fim proposital de denegrir a imagem dele, diante da inexistência de parâmetros para as suas levianas acusações, uma vez que ele não tem elementos suficientes para prová-las.

No vídeo, o ex-ministro não tece qualquer palavra para enaltecer as qualidades do seu candidato, salvo o pedido para que se vote nele, o que, convenhamos, é muito pouco, diante de tudo de nefasto que ele representa para o Brasil, em termos de gestão imprudente e prejudicial aos interesses do país e dos brasileiros, à vista dos escândalos do mensalão e do petrolão, que não foram assumidos por ele, que também não se dignou a prestar contas à Justiça e à sociedade sobre os atos irregulares pertinentes a eles.

À toda evidência, à vista da grandeza que esse ministro representou por seu trabalho à frente do processo do mensalão, a sua manifestação atual, ao se aliar ao pior inimigo do Brasil, diante da protagonização, no governo dele, dos nefastos escândalos do mensalão e do petrolão, a imagem dele tanto se desmilingua como ele se torna cúmplice com a criminalidade na gestão pública, pela relativação do que de pior e desastroso já aconteceu na administração do país, em termos de desmoralização dos princípios democrático e republicano.  

Pois bem, o mencionado ministro foi indicado pelo citado candidato ao Supremo, em 2003, mas a sua passagem pela corte ficou marcada por sua participação como relator da ação penal movida pela Procuradoria Geral da República contra petistas e parlamentares da base aliada, em razão da participação deles no escândalo do “famoso” mensalão, que culminou com a distribuição de prisão para meio mundo de criminosos de colarinho branco.

Ainda em atividade, o ex-ministro foi alvo de ataques pela militância petista e apresentou alguns dos votos mais duros da ação penal brasileira, que culminou com a condenação de antigos caciques do partido, como ex-ministro e ex-deputados.

Nos últimos anos, o ex-ministro ensaiou se candidatar à Presidência da República, inclusive neste ano, em atenção ao encorajamento por amigos da política e do mercado financeiro, para se candidatar, mas ele preferiu ficar longe da política.

Sem dúvida alguma, esse é mais um caso bastante estranho, em que pessoa considerada de alto nível intelectual se compactua com a volta da esquerda ao poder, em especial, no caso dele, que conviveu em parelha com a entranha do escândalo do mensalão, por ter sido o responsável pela profunda e minuciosa análise dos autos pertinentes às irregularidades conhecidas pela incontrolável roubalheira, para o fim da compra de votos de parlamentares, tendo conhecimento dos detalhes do medonho esquema criminoso de desvio de recursos públicos, em afrontosos procedimentos contrários aos princípios da moralidade, da probidade e da honestidade, no então governo do agora candidato dele.

Todos os seus relatórios e votos enfatizavam os caminhos tortuosos e obtusos protagonizados pela organização criminosa para a implementação dos desvios de recursos públicos, todos resultando em condenações à prisão aos envolvidos, que eram pessoas ligadas ao partido do presidente de então, que agora é candidato ao mesmo cargo, que poderá voltar, no dizer do vice da chapa dele, à cena do crime, contando, por certo, se vitorioso, com voto de quem o condenava no passado.

Causa enorme perplexidade que o principal conhecedor das irregularidades concentradas nos processos criminosos do mensalão não tenha se conscientizado sobre as verdadeiras desgraças causadas ao Brasil e aos brasileiros, em forma de gravíssimas práticas prejudiciais aos interesses da administração pública, à vista da devastação aos princípios da moralidade e da dignidade exigidos na aplicação dos recursos públicos.

Não há a menor dúvida de que o ministro aposentado do Supremo demonstra extrema prova de desprezo aos saudáveis princípios da honestidade, da moralidade e da dignidade, ao se aliar, com o seu voto, a político que ele sabe perfeitamente que não tem as mínimas condições morais para presidir o Brasil, à vista do criminoso esquema de corrupção protagonizado no governo dele, cujos fatos são irrefutáveis e imutáveis, além de ter constituído importante legado que conspira contra a volta desse político às atividades públicas.

Os brasileiros honrados e dignos precisam aprender com a péssima lição desse ex-ministro, que o crime no Brasil compensa sim, cujos criminosos são beneficiados até mesmo por quem julgou e condenou os respectivos atos, como bem é demonstrado no caso em comento, ficando patenteada a total falta de seriedade dos homens públicos, com a banalização das práticas criminosas, e a desgraça perpetrada contra a administração pública, a exemplo do mensalão, que agora é visto como se nada tivesse acontecido de mais grave contra os interesses do país e dos brasileiros.

Sim, todo cidadão tem total liberdade para a escolha em quem votar, porque isso faz parte do processo democrático do livre-arbítrio da cidadania, mas, nas circunstâncias, parece muito estranho, com traços de incoerência, sob os aspectos inerentes à opinião pública, que essa opção tenha sido feita logo em prol de político sob forte suspeita da prática de atos contrários à legalidade e à lisura, na vida pública, em se tratando que o ex-ministro tenha formação na área do direito, com amplos conhecimentos jurídicos, que teve capacidade para julgar e condenar atos ruinosos acontecidos precisamente na gestão pretérita do seu atual candidato.

Convém ser ressaltado que não houve esclarecimento, justificativa nem prestação de contas sobre os fatos criminosos objeto do mensalão, o que vale dizer eles eram recrimináveis tanto no passado como agora, porque a sua marca prejudicial aos interesse do Brasil e dos brasileiros permanecem indelevelmente inalterados, com o plasmar do que foi a deplorável  gestão do candidato do ministro, em termos de desmoralização dos princípios republicano e democrático.    

Enfim, é possível se inferir, respeitando a magistral opção do voto, por força da faculdade democrática, que o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal presta importante desserviço ao país, por privilegiar candidato ao Palácio do Planalto em plena decadência moral, à vista do conjunto dos nefastos predicativos constantes do seu histórico político, que são do notório conhecimento dos brasileiros.          

          Brasília, em 28 de setembro de 2022

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