sábado, 17 de setembro de 2022

Lampião, o pior bandido?

 

É sempre comum se ouvir, em qualquer lugar do Nordeste, a mesma versão sobre a história do cangaço de Lampião, no sentido de que: "Os cangaceiros foram vítimas do sistema", "Lampião foi um Robin Hood do Nordeste, que roubava dos ricos para dar aos pobres", "O cangaço foi a luta dos pobres sertanejos oprimidos contra ricos coronéis opressores", "Meninas-moças aderiram ao cangaço embevecidas pela pujança e pelas festas" e muitas outras lendas sempre enaltecendo a braveza de bando de homens destemidos e heroicos.

Essas histórias de fundo mentiroso e fantasioso precisam ser substituídas pela verdade, para que os brasileiros não pensem que o sanguinário e desumano Lampião teria sido herói da região, que somente teria praticado atos de justiça, quando os fatos mostram que ele era, na verdade um bandido extremamente perigoso, que praticava sim muitas maldades por onde seu bando passasse.

Ou seja, a história contada, na atualidade, talvez por questão econômica, na forma de turismo, ou outros interesses, distorce a realidade dos fatos, ao tentar transformar um desumano e cruel criminoso em herói.

 Os fatos históricos mostram que o vergonhoso ciclo do cangaço teve início, no Nordeste, no século XVIII, que tinha por finalidade alimentar meio de vida com o recurso da criminalidade, tendo por base homens foragidos, odiosos e com sede de vingança, que viam nessa atividade ilícita forma fácil de enriquecimento, por meio de ações de violência e irracionalidade, na forma cruel e desumana de sequestros, roubos, torturas, extorsões, estupros e assassinatos etc., crimes sempre praticados com o extrema da crueldade indistintamente contra homens e mulheres, idosos e crianças, pobres e ricos, sem qualquer conotação com lutas de classes.

A modalidade de violência praticada pelo cangaço, em forma de modus operandi, está sendo colocada em prática, na atualidade, pelas organizações criminosas do tráfico e da milícia, que infernizam impunemente as populações, em especial da periferia das grandes cidades.

A realidade sobre as verdadeiras atividades criminosas do bando de Lampião, que agia na forma de cangaço, pode ser descrita em pincelada, a seguir, com base em alguns fatos que dificilmente são mostrados, por conveniência, nas regiões do Nordeste.

As atividades do capitão Lampião e do seu bando tinham o respaldo e a cumplicidade de importantes fazendeiros e “coronéis” dos sertões, que prestavam guaridas a eles, em forma, em especial, de fornecimento de armas e munições, em troca de proteção e serviços de pistolagem contra os desafetos deles.

O bando se mantinha com o fruto das extorsões de pessoas importantes e saques de pequenas cidades do interior, compreendendo vilas, povoados e fazendas, que eram invadidos e assaltados sobre terrível violência, sempre com a finalidade de se juntar recursos de valor e financeiros, cujo resultado das investidas era sempre horroroso, porque o bando deixava rastro irreparável de destruição e prejuízos, humanos e materiais.

Nessas situações de completa indefesa, por parte da população, porque a força policial era quase inexistente, os sertanejos eram cercados e sofriam ameaças e humilhações as mais severas possíveis e eram obrigados a entregarem a sua economia, em joias, dinheiro e tudo que tivessem de valor, para a satisfação da sanha demoníaca do bando, evidentemente para não serem mortos nem terem seus bens incendiados e destruídos, porque era esse o método de muita maldade sob a orientação do terrível capital Lampião.

O detalhe assombroso é que os policiais que fossem capturados vivos eram submetidos ao temido pelotão de morte sumária, por sangramento com punhais, à semelhança do abate de animais, em um ritual que envaidecia o demoníaco líder Lampião.

No rastro dos crimes hediondos, Lampião e seus chefes subordinados amealharam grandes quantias em dinheiro e em joias, que levavam consigo ou deixavam sob a guarda de coiteiros e coronéis aliados, ou compravam terras e fazendas.

Na grota dos Angicos, local onde Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos, a Polícia de Alagoas encontrou quase quatro quilos de ouro, além de farta quantidade de dinheiro em espécie.

 Nessa linha terrível de criminalidade, era comum o rapto de meninas-moças por cangaceiros, que obrigavam que elas acompanhassem o bando e permanecessem convivendo com ele, por longo tempo.

Uma menina foi raptada, aos 12 anos, tendo sido obrigada conviver com um cangaceiro, sob o terrível desespero dos pais dela, que não conseguiu evitar que a filha fosse violentada e mantida por 3 anos em cativeiro, como escrava sexual do criminoso.

Outras meninas de 11 a 15 anos foram raptadas de seus pais e obrigadas a conviverem com imundos bandidos, sempre obrigadas a acompanhar o bando de cangaceiros.

A terrível psicopatia predominava no banco de Lampião, de forma generalizada, cujo hábito era assombrar e causar extremo temor aos nordestinos, que viviam sob constante pânico, só em se pensar sobre esses monstros do cangaço.

Contam-se que o capitão Lampião se divertia às gargalhadas diante de vítimas que ele mandava para a morte, normalmente com tiros pelas costas ou a punhaladas.

Havia até um cangaceiro que costumava marcar com ferro em brasa as letras "JB", no rosto, nádegas e virilhas das mulheres que usavam, pasmem, cabelos curtos.

O notório flagelo do cangaço que se abatia sobre os sertanejos nordestinos teve enorme repercussão na imprensa nacional e internacional, mas nada disso era capaz de impedi-lo de atuar os aterrorizando, de forma violenta e impune.

A repercussão foi tão espetacular que, em 1931, o jornal americano The New York Times publicou reportagem classificando o capitão Lampião como o maior bandido da América do Sul.

Como o bandido com instinto extremamente violento e desumano, que viveu agredindo, de forma estúpida, o seu semelhante, inclusive mantendo organização criminosa, pode ser considerado verdadeiro herói do Nordeste, e ainda pelo fato de não se conhecer um único ato por parte dele em benefício da humanidade?  

Enfim, os trágicos fatos aqui enaltecidos constam registrados em importantes obras bibliográficas de doutos pesquisadores e historiadores nordestinos, que ajudam à compreensão, sob a luz dos acontecimentos, de que o capitão Lampião foi, na verdade, cruel, desumano e violento criminoso, que manchou a importante história do Nordeste com o rastro de destruição, violência, sangue e sofrimento do seu povo, uma vez que está provado que, contra fatos, não há argumentos.

          Brasília, em 17 de setembro de 2022

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