É sempre comum se ouvir,
em qualquer lugar do Nordeste, a mesma versão sobre a história do cangaço de Lampião,
no sentido de que: "Os cangaceiros foram vítimas do sistema",
"Lampião foi um Robin Hood do Nordeste, que roubava dos ricos para dar
aos pobres", "O cangaço foi a luta dos pobres sertanejos
oprimidos contra ricos coronéis opressores", "Meninas-moças
aderiram ao cangaço embevecidas pela pujança e pelas festas" e muitas
outras lendas sempre enaltecendo a braveza de bando de homens destemidos e heroicos.
Essas histórias de
fundo mentiroso e fantasioso precisam ser substituídas pela verdade, para que os
brasileiros não pensem que o sanguinário e desumano Lampião teria sido herói da
região, que somente teria praticado atos de justiça, quando os fatos mostram que ele
era, na verdade um bandido extremamente perigoso, que praticava sim muitas
maldades por onde seu bando passasse.
Ou seja, a história contada, na atualidade, talvez por questão econômica, na forma de turismo, ou outros interesses, distorce a realidade dos fatos, ao tentar transformar um desumano e cruel criminoso em herói.
Os fatos históricos mostram que o vergonhoso ciclo do cangaço teve início, no Nordeste, no século XVIII, que tinha por finalidade alimentar meio de vida com o recurso da criminalidade, tendo por base homens foragidos, odiosos e com sede de vingança, que viam nessa atividade ilícita forma fácil de enriquecimento, por meio de ações de violência e irracionalidade, na forma cruel e desumana de sequestros, roubos, torturas, extorsões, estupros e assassinatos etc., crimes sempre praticados com o extrema da crueldade indistintamente contra homens e mulheres, idosos e crianças, pobres e ricos, sem qualquer conotação com lutas de classes.
A modalidade de
violência praticada pelo cangaço, em forma de modus operandi, está sendo
colocada em prática, na atualidade, pelas organizações criminosas do tráfico e
da milícia, que infernizam impunemente as populações, em especial da periferia
das grandes cidades.
A realidade sobre as
verdadeiras atividades criminosas do bando de Lampião, que agia na forma de
cangaço, pode ser descrita em pincelada, a seguir, com base em alguns fatos que
dificilmente são mostrados, por conveniência, nas regiões do Nordeste.
As atividades do
capitão Lampião e do seu bando tinham o respaldo e a cumplicidade de
importantes fazendeiros e “coronéis” dos sertões, que prestavam guaridas a
eles, em forma, em especial, de fornecimento de armas e munições, em troca de
proteção e serviços de pistolagem contra os desafetos deles.
O bando se mantinha com
o fruto das extorsões de pessoas importantes e saques de pequenas cidades do
interior, compreendendo vilas, povoados e fazendas, que eram invadidos e
assaltados sobre terrível violência, sempre com a finalidade de se juntar
recursos de valor e financeiros, cujo resultado das investidas era sempre horroroso,
porque o bando deixava rastro irreparável de destruição e prejuízos, humanos e
materiais.
Nessas situações de
completa indefesa, por parte da população, porque a força policial era quase inexistente,
os sertanejos eram cercados e sofriam ameaças e humilhações as mais severas
possíveis e eram obrigados a entregarem a sua economia, em joias, dinheiro e
tudo que tivessem de valor, para a satisfação da sanha demoníaca do bando,
evidentemente para não serem mortos nem terem seus bens incendiados e
destruídos, porque era esse o método de muita maldade sob a orientação do
terrível capital Lampião.
O detalhe assombroso é
que os policiais que fossem capturados vivos eram submetidos ao temido pelotão
de morte sumária, por sangramento com punhais, à semelhança do abate de animais,
em um ritual que envaidecia o demoníaco líder Lampião.
No rastro dos crimes
hediondos, Lampião e seus chefes subordinados amealharam grandes quantias em
dinheiro e em joias, que levavam consigo ou deixavam sob a guarda de coiteiros
e coronéis aliados, ou compravam terras e fazendas.
Na grota dos Angicos,
local onde Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos, a Polícia de
Alagoas encontrou quase quatro quilos de ouro, além de farta quantidade de
dinheiro em espécie.
Nessa linha terrível de criminalidade, era comum
o rapto de meninas-moças por cangaceiros, que obrigavam que elas acompanhassem
o bando e permanecessem convivendo com ele, por longo tempo.
Uma
menina foi raptada, aos 12 anos, tendo sido obrigada conviver com um cangaceiro,
sob o terrível desespero dos pais dela, que não conseguiu evitar que a filha
fosse violentada e mantida por 3 anos em cativeiro, como escrava sexual do criminoso.
Outras
meninas de 11 a 15 anos foram raptadas de seus pais e obrigadas a conviverem
com imundos bandidos, sempre obrigadas a acompanhar o bando de cangaceiros.
A terrível
psicopatia predominava no banco de Lampião, de forma generalizada, cujo hábito era
assombrar e causar extremo temor aos nordestinos, que viviam sob constante pânico,
só em se pensar sobre esses monstros do cangaço.
Contam-se
que o capitão Lampião se divertia às gargalhadas diante de vítimas que ele mandava
para a morte, normalmente com tiros pelas costas ou a punhaladas.
Havia até
um cangaceiro que costumava marcar com ferro em brasa as letras "JB",
no rosto, nádegas e virilhas das mulheres que usavam, pasmem, cabelos curtos.
O notório
flagelo do cangaço que se abatia sobre os sertanejos nordestinos teve enorme repercussão
na imprensa nacional e internacional, mas nada disso era capaz de impedi-lo de atuar
os aterrorizando, de forma violenta e impune.
A repercussão
foi tão espetacular que, em 1931, o jornal americano The New York Times
publicou reportagem classificando o capitão Lampião como o maior bandido da
América do Sul.
Como o
bandido com instinto extremamente violento e desumano, que viveu agredindo, de
forma estúpida, o seu semelhante, inclusive mantendo organização criminosa,
pode ser considerado verdadeiro herói do Nordeste, e ainda pelo fato de não se conhecer
um único ato por parte dele em benefício da humanidade?
Enfim, os
trágicos fatos aqui enaltecidos constam registrados em importantes obras bibliográficas
de doutos pesquisadores e historiadores nordestinos, que ajudam à compreensão, sob
a luz dos acontecimentos, de que o capitão Lampião foi, na verdade, cruel,
desumano e violento criminoso, que manchou a importante história do Nordeste
com o rastro de destruição, violência, sangue e sofrimento do seu povo, uma vez
que está provado que, contra fatos, não há argumentos.
Brasília, em 17 de setembro de 2022
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