terça-feira, 13 de setembro de 2022

Fragilidade das pesquisas eleitorais

 

O Ipec divulgou pesquisa, ontem, encomendada por emissora televisiva, que mostra o principal candidato da esquerda com 46% das intenções de voto e o presidente do país com 31%, na corrida presidencial.

A aludida pesquisa praticamente manteve os dados refletidos na consulta anterior, com ligeiro acréscimo de dois pontos percentuais para cima a favor do candidato da esquerda, indicando o cenário de estabilidade na disputa, com relação à pesquisa anterior.

O Ipec esclareceu que foram ouvidas 2.512 pessoas, nos dias 9 e 11 do corrente mês, em 158 municípios.

O Ipec também pesquisou a intenção de votos no segundo turno, cujo resultado mostra que o principal candidato da esquerda “vence por 53% a 36% no cenário pesquisado. O instituto diz não ser possível afirmar neste momento se o petista pode ou não vencer a eleição no primeiro turno.”.

Como se pode enxergar, facilmente, na forma do que consta escrito no parágrafo acima, a pesquisa faz afirmações nada consistentes para o caso em si, quando insinua no sentido de que o líder da preferência de votos pode vencer a eleição presidencial por 53% a 36%.

Assertiva tem como premissa, pasmem,  evidentemente a consulta em apreço, porque isso é absolutamente inaproveitável para a determinação e a definição do pleito eleitoral, mediante a avaliação entre somente 2.512 pessoas, quando o universo de eleitores habilitados supera os 156 milhões de votantes, que são distribuídos em mais de 5.600 municípios brasileiros, dos quais apenas 158 foram visitados pelos pesquisadores, o que mostra o absurdo das conclusões que são levadas, de forma irresponsável, para os brasileiros, como se elas tivessem o condão de sinalizar algo consistente.

Isso mostra o sentimento de crueldade, maldade e irresponsabilidade na condução da avaliação do resultado da pesquisa em comento, que somente autoriza se afirmar, para o bem da verdade, que, com base em 2.512 pessoas ouvidas, determinado candidato teve a preferência de 1.156 pessoas, enquanto o segundo colocado ficaria com a simpatia de 779 pessoas e mais nada além disso.

Ou seja, é humanamente impossível, em termos de seriedade e justiça, se fazer ilações honestas sobre a possibilidade de alguém vencer o pleito, no próximo turno eleitoral, tendo por base tão insignificante quantidade de pessoas consultadas, em minguadas regiões brasileiras, conforme os dados expostos acima.

É preciso que as pessoas procurem avaliar a pesquisa exatamente como ela é, sem ter abrangência de coisa alguma, uma vez que vários fatores são importantes para se aquilatar a sua credibilidade, quando se sabe que há regiões e localidades que têm maior influência para determinado candidato e vice-versa, entre outros fatores econômicos, culturais e sociais que são essenciais à controvérsia em disputa, que precisam ser sopesados para se puder fazer projeção com alguma confiabilidade, não precisamente na forma da pesquisa em apreço, que não oferece parâmetros capazes e seguros para se contribuir o mínimo de certeza quanto aos fins colimados à conclusão sobre a tendência do eleitorado brasileiro.  

Percebe-se, com muita clareza, que a dinâmica das pesquisas tem sido a mesma, em tentar se fazer ilações sobre futurologia das eleições, tendo por base insignificantes amostras de tão somente pouco mais de 2.500 pessoas consultadas, sem sequer ter a certeza de que elas são realmente eleitoras, porque, em pesquisa, dificilmente se exige a apresentação do título de eleitor de ninguém.

Não obstante, em todos os resultados se conclui erroneamente que determinado candidato pode vencer o seu opositor, à vista de quantidade inexpressiva de pessoas ouvidas, em que o bom sendo e a racionalidade aconselham que seja absolutamente impossível se imaginar que alguém seja eleita mediante projeção inspirada em pesquisa nessa magnitude extremamente empírica, como se isso tivesse o condão de respaldar bases científicas, em termos estatísticos.

Enfim, é preciso ser bastante ingênuo para se acreditar que apenas 2.512 pessoas consultadas sejam capazes e suficientes para a projeção do resultado das eleições, com direito a se afirmar que candidato da preferência delas possa se eleger já no primeiro turno das eleições, diante da extraordinária controvérsia preponderante da existência de mais de 156 milhões de votantes habilitados às urnas, dispersos em vasto território de mais de 5.600 municípios, em que certamente há peculiaridades que não foram consideradas na pesquisa em apreço, a exemplo da preferência de eleitores do Nordeste para um candidato, enquanto no Sul e no Centro-Oeste a predominância eleitoral já é de outro e tudo isso pesa nas urnas.

Em síntese, as pesquisas servem como vetores de orientação à opinião pública, uma vez que elas podem fornecer dados valiosos aos eleitores, desde que elas contenham consistência estatística, porque, em muitos casos, é possível sim que eles decidam seus votos, tendo por base a influência das informações que elas mostram.

Nesse ponto, é possível se concluir sobre a existência de institutos que levam muito a sério o seu trabalho, mas têm outros que são conduzidos pela orientação da parte que paga a pesquisa, que pode sim ser direcionada para a satisfação da conveniência eleitoreira, que são as pesquisas de encomenda, onde o seu resultado seja maldosamente aquele orientado, em que normalmente atende aos fins pessoais maléficos, mas acabam exercendo desastroso papel para a democracia.  

Convém que se imprimam seriedade às pesquisas eleitorais, de modo que não seja suficiente nem admissível que institutos de pesquisas continuem fazendo irresponsáveis conclusões sobre o desempenho dos candidatos, tão somente com base em desprovidos elementos de consistência estatística, como vem acontecendo, na atualidade, conforme mostram as frágeis pesquisas eleitorais.

          Brasília, em 13 de setembro de 2022

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