domingo, 30 de julho de 2023

"Isentões"?

 

Em vídeo que circula na internet, um bolsonarista culpa, o que ele chama de “isentões”, as pessoas que não simpatizavam pelo último ex-presidente do país, deixando, por isso, de votarem nele, por repudiarem o estilo de sinceridade e intolerância verbal, mas, na opinião daquela pessoa, quem terminou perdendo mesmo foi o Brasil.  

Não passa de meia verdade se dizer que os “isentões” não compreenderam o estilo sincero demais do ex-presidente do país, pelo fato de ele se pronunciar nem sempre para agradar senão aos seus seguidores fanáticos, que chegaram até a constituir cercadinho, dentro do jardim do Palácio da Alvorada, para ouvi-lo e aplaudi-lo, mesmo nos momentos de estupidez dele.

O certo é que que foram muitos os momentos de estupidez, porque ele se satisfazia em ser apoiado nas suas viagens pelo seu mundo de agressões e críticas ácidas, mesmo que elas tenham sido cabíveis, nas circunstâncias, mas a diplomacia do estadista recomenda ponderação, tolerância e diálogo, em consonância com a liturgia inerente às funções presidenciais, que nem sempre  elas foram observadas por ele, que preferiu a extrapolação dessas salutares regras de civilidade, aplicáveis também e especialmente ao titular do cargo.

Outro ponto importantíssimo, que o afastou definitivamente da continuidade do poder, foi o desastroso desempenho dele no combate à pandemia do coronavírus.

Nada poderia ter sido mais insensato e pernicioso para o mandatário do país do que a principal autoridade da nação ter comportamento sempre contrário ao ritmo da normalidade, quando a sua participação, nos assuntos pandêmicos, era motivadora de críticas da mídia e da sociedade, exatamente porque, dificilmente, ela estava em sintonia com os desideratos colimados para o caso, mesmo que ele não tivesse qualquer conhecimentos em assuntos relacionados, em particular, com a medicina e a saúde pública, o que se recomendaria que os assuntos da saúde dos brasileiros ficassem sendo cuidados por órgão específico e apropriado, apenas merecendo a supervisão própria do mandatário, para a adoção das medidas exclusivamente administrativas da sua alçada.

Ainda para agravar a sua fama histórica de insensibilidade para com a grave crise, ele nomeou um general, especialista em estratégia de questões militares, sem nenhuma especialização ou conhecimento em medicina ou saúde pública, que ficou no cargo, por quase um ano e, o pior, no auge da crise, cuja importância dele na mais relevante missão, na pandemia, era o de ser capacho do então presidente do país, como recebedor de ordens e a primeira delas foi a implantação do protocolo médico que aconselhava o uso da hidroxicloroquina, no combate à Covid-19.

A verdade é que o então presidente do país se houve, no combate à pandemia, como verdadeiro antítese dos males, quando decidiu nem tomar a vacina e sempre esteve contra a imunização dos brasileiros, cujo comportamento lhe valeu o título de negacionista, por parte de umas pessoas e até de genocida, por outras.

Na minha concepção, a pandemia do coronavírus veio em importante momento para o mandatário se consagrar como herói ou vilão, definitivamente, e passar para a história do país como verdadeiro herói ou marte nacional, conforme o caso, na qualidade de homem público preocupado ou não em cuidar e zelar, com exclusividade e denotado carinho possível ou não, dos problemas relacionados com tudo que fosse o melhor para proteger a saúde da população. 

Para tanta, era preciso ser herói para compor a melhor equipe de entendidos em saúde pública, integrada por pessoas entendidas em saúde pública da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, de modo que houvesse uma espécie de mutirão de pessoas renomadas  e especialistas, comprometidas em salvar vidas humanas, com plenas autonomias para cuidarem da saúde das pessoas, conquanto o presidente teria tão somente as funções de apoios financeiro, material e pessoal, sem mais nada, senão o incentivo e o estímulo para que fosse possível o sucesso do empreendimento, o mais rapidamente possível, uma vez que todos estavam imbuídos nos melhores propósitos, mesmo porque a causa somente exigia ação, boa vontade e trabalho, sem qualquer negativismo contra absolutamente nada.

Como mostraram os fatos da vida, por puro capricho de ser autêntico com seus propósitos, o ex-presidente do país preferiu enveredar por sentimentos pessoais e não pelos caminhos do verdadeiro estadista, porque este teria sinalizado pelo fiel destino próprio da sensibilidade, da sensatez e do amor ao ser humano, por meio do qual ele certamente teria sido melhor compreendido não somente pelos chamados “isentões”, mas também por todos os brasileiros, indistintamente.

Enfim, o ex-presidente do país teve, nas suas mãos, a faca e o queijo, embora ele não fosse mineiro, para se consagrar como o mais moderno herói nacional, se tivesse tido inteligência, sensibilidade, racionalidade, competência e responsabilidade cívicas para compreender a verdadeira grandeza da vida humana.

Brasília, em 30 de julho de 2023

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