segunda-feira, 3 de julho de 2023

Zona de turbulência?

              Conforme vídeo que circula nas redes sociais, um general assessor especial do presidente do país fez discurso versando sobre a deplorabilidade que imperava no país, aproveitando pela propugnação de medidas excepcionais, como antídoto da esculhambação que grassava em várias áreas da administração do país, conforme o texto a seguir.

Todos nós devemos estar aqui preparados psicologicamente e não com o espírito de neurose ou desespero. Nós já sabíamos que isso iria acontecer. Nós já sabíamos que haveria um momento da história do Brasil, diante da sua própria história de grandeza, muitos movimentos iguais a esses já aconteceram, que atravessamos zona de turbulência. Há muito tempo, o Brasil vem, de certa maneira atravessando momentos muito delicados. (...) e nós sabíamos e muitos outros que não haveria outra forma de lidar com isso, ou seja, não podemos combater toda essa criminalidade sem que não haja turbulência. (...) tendo em vista a dimensionalidade da corrupção no Brasil e do crime organizado, não haverá outra saída (...) O silêncio do presidente da República e das Forças Armadas, assim como a sua movimentação em todo o Brasil nos indica de que, de fato, está havendo algo anômalo à prática de democracia. Jamais imaginávamos, creio que todos nós, que um dia veríamos pessoas sentadas em cadeira da corte, agindo como se fossem partidários de um partido ou saindo da sua prerrogativa de juízes e agindo como bandidos. Ao que tudo indica, eles estão muito convencidos de que serão ou sairão vitoriosos. Eu acho que não. (...) Eu sempre disse, embora alguns discordassem de mim, não todos, mas uma pequena parcela, de que estava tudo dominado e eu dizia que não, que, na verdade, quando começou toda essa maratona de fraude e, diga-se de passagem, não foi agora, nestas eleições, já vêm acontecendo em outras, mas se intensificou agora, significa que estamos caminhando, como eu disse, para uma zona de conflito. As nossas Forças Armadas brasileiras são a nona Forças Armadas do mundo, muito bem equipadas, formadas por profissionais sabendo o que vão fazer (...).       

É evidente que esse duro discurso do general teria sido pronunciado precisamente no auge da crise institucional, logo após as últimas eleições, em que não restava, naquele momento crucial, ao presidente da República e às Forças Armadas senão a garantia da lei e da ordem, tendo por base o disposto no artigo 142 da Constituição.

O militar descreve com muita propriedade o estado deplorável que se encontrava a história político-administrativa brasileira, sob a dominação da corrupção e do sistema agindo sob a égide de interesses escusos e inescrupulosos, inclusive com a promoção da anulação de condenação a criminoso, sem qualquer amparo legal, em cristalinos abusos de autoridade e desvios das importantes prerrogativas das funções inerentes à magistratura nacional.

Certamente que o presidente do país e as Forças Armadas de então tinham plena consciência de que o quadro da degeneração política era gravíssimo, uma vez que o general falava, várias vezes, sob a necessidade do preparo psicológico para o enfrentamento das turbulências, dando a entender que o governo agiria em defesa do Brasil e dos brasileiros, adotando as necessárias medidas para o saneamento das gravíssimas questões que perturbavam a ordem institucional brasileira.

Ou seja, nas lúcidas palavras do militar estrelado, a situação era de tamanha preocupação que não restava alternativa senão o seu enfrentamento com medidas à altura da gravidade existente, sob pena da potencialização da desorganização no seio da República, que foi exatamente o que terminou prevalecendo, uma vez que as principais autoridades, como o presidente do país e as Forças Armadas, simplesmente fraquejaram e nada fizeram em defesa dos interesses do Brasil e dos brasileiros, preferindo o silêncio como resposta aos apelos dos bravos brasileiros que se colocaram à frente dos quartéis do Exército, em cruel sacrifício, mas eles receberam como resposta apenas a ingratidão e o desprezo.

A injustificável omissão dessas autoridades, à vista da importância das medidas saneadoras que a situação exigia e que poderiam ter sido implementadas normalmente, com base em normal constitucional, caracteriza crime de lesa-pátria, quando os prejuízos ao país se intensificaram com a entrega do poder à nefasta e decomposta organização que assumiu a administração do Brasil.

Infelizmente, o pronunciamento do general tem o condão de materializar o tanto de maldades que o então presidente e as Forças Armadas causaram ao Brasil e aos brasileiros, uma vez que a sua injustificável omissão contribuiu para a continuidade e a perenidade de todas as desgraças descritas pelo general.

O certo mesmo é que, caso houvesse o mínimo de sensibilidade, competência e sensatez, por parte daquelas autoridades, certamente que o país estaria, agora, livre de terrível situação que tanto inferniza os verdadeiros brasileiros.

            Brasília, em 3 de junho de 2023

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