quinta-feira, 6 de abril de 2023

Envergonhamento

 

Em mensagem que circula nas redes sociais, consta o apoio de bolsonaristas se manifestando em apoio e respeito aos empresários que ofereceram carros blindados, helicóptero e jatinho para uso do último ex-presidente do país, dando a entender que isso é absolutamente normal, sob a ótica dos princípios republicanos.

Diante de situação extremamente estapafúrdia, eu disse que o político que tem o mínimo de dignidade e honradez e que, sobretudo, valoriza os princípios da ética e da moralidade, jamais poderia aceitar cortesia que não estivesse devidamente em harmonia com a padronização dos princípios republicanos e democráticos, em termos apenas de modicidade, sem qualquer ostentação, que é, indiscutivelmente, a cortesia de carro blindado, por exemplo.

Certamente, sob o prisma da racionalidade pública e da decência política, onde o homem público precisa provar o seu lícito comportamento perante a sociedade, na forma de absoluta decência ética, jamais se podendo concordar que alguém se digne a se beneficiar com qualquer forma de benefício que extrapole à normalidade aceitável como razoável, no âmbito do exercício de atividades relacionadas com a política, que diz com a vida pública, que exige bons exemplos sobre condutas somente exemplares.

À toda evidência, a cortesia de carro blindado para uso de político fere de morte todos os princípios republicanos, em desprezo definitivo da decência e da honradez, diante da monstruosa disparidade que isso representa em termos de padronização quanto à ética e à moralidade públicas, exatamente por haver claro exagero no benefício, quando se sabe que empresário não faz cortesia sem visar recompensa futura e os políticos promíscuos sabem perfeitamente a exata forma do pagamento, que tem sido normalmente por meio de contratações privilegiadas e outras formas espúrias de relacionamento com a administração pública.

A propósito disso, importa frisar que a cultura brasileira, nesse particular, tem caldo bastante grosso da promiscuidade entre o governo e empresas e empreiteiras, a exemplo das ricas lições deixadas por construtora que se tornou famosa por abastecer gorda conta bancária de ex-presidente, a par de reformar sítio e imóveis, entre outras tantas benesses à conta de contratos celebrados com a Petrobras.

No caso em comento, percebe-se, ao contrário do envergonhamento, o regozijo por parte de quem é privilegiado com a cortesia absurda e estravagante, além dos aplausos de seus conformistas seguidores, que não conseguem enxergar qualquer irregularidade em prática visivelmente indigna e contrária aos comezinhos princípios de conduta inerente à grandeza da compostura exigida do homem público, que se mostra completamente cediço às facilidades estranhas às práticas republicanas da honestidade, da moralidade e do decoro, na vida pública.

Tanto se fala em corrupção e desonestidade na vida pública, mas têm sido normais as atitudes que somente confirmam a irrelevância da promiscuidade de homens públicos, como nesse caso da cortesia de carro blindado, em que o normal, em termos de correção e decência, seria a recusa, in limine, diante do senso da razoabilidade pública, que não se harmoniza com benefício senão apenas simbólico, sob a ótica da valorização módica e razoável, como assim deve ser nas atividades relacionadas com a administração pública.

Convém que os verdadeiros e honrados brasileiros se conscientizem de que constitui atitude de extrema indignidade e promiscuidade a aceitação de cortesia que não se comprima na padronização da razoabilidade pública.

Brasília, em 6 de abril de 2023

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