Em mensagem que circula nas redes sociais, uma pessoa entendeu de
resgatar imagem de presidente do país, do passado, para mostrar que ele também
recebia presentes de joias, tal qual aconteceu com o último presidente
brasileiro, dando a entender que se trata de atitudes corriqueiras entre políticos,
tanto do passado como da atualidade.
Ao que tudo indica, a
motivação primordial pretendida pela mensagem sugerida no vídeo nada mais é do
que a tentativa de comparar ou até mesmo justificar possível prática de erro
por outro ainda muito mais deplorável, porque fica a possibilidade de ilação de
que, se alguém comete deslize, também é normal que outrem possa incorrer também
em erro.
Essa medíocre mentalidade não pode servir de parâmetro para os
políticos de verdade, que devem ser modelos de moralidade, sem necessidade de
nunca precisar se ancorar em exemplos praticados por contumazes criminosos, na
vida pública.
O ideal seria apenas nunca se precisar se envolver em casos
nebulosos como o imbróglio do tipo como esse representado pelo presente das
joias que vieram da Arábia Saudita, que jamais haveria confusão nem
questionamento se a tramitação delas tivesse sido feita pelas vias regulares,
i.e., diretamente pela mala diplomática, na forma oficial, mediante a estrita
observância dos procedimentos de praxe, em forma absolutamente da legalidade,
de acordo com a legislação vigente no país, inclusive mediante o devido
pagamento dos tributos aplicável à espécie.
Ao contrário disso, não resta a menor dúvida de que há sim, não
apenas suspeitas, mas graves irregularidades na importação de joias, sob a
forma de questionável e deplorável jeitinho brasileiro, com o transporte de
joias, pasmem, até mesmo em mochila, sob visível suspeita de disfarces, para despistar
a Receita Federal, de objetos de valores avaliados em 16 milhões de reais.
À toda evidência, fica muito visível que o altíssimo valor das
joias e a sua forma de transporte denunciam, com bastante clareza, severa
suspeitabilidade sobre a existência de irregularidade, porque não é ético
cortesia envolvendo milhões de reais, considerando que presente, na administração
pública, tem que respeitar parâmetro de razoabilidade, em especial, sob a ótica
da modicidade, normalmente observável na vida pública.
Acreditar-se em regularidade dos presentes não passa de ingenuidade,
porque somente muambeiro se comporta assim, sempre na tentativa de não ser selecionado
pela fiscalização da Receita Federal, que foi justamente o que terminou
acontecendo, quando houve a detectação de produtos com valor superior ao legalmente
permitido, sendo conduzido sem os devidos registros de praxe e ainda dentro de
mochilas.
Esse fato se torna ainda mais grave por ter tido o envolvimento da
então principal autoridade da República, que tinha o dever institucional de ser
exemplo de somente boas práticas republicanas perante os seus súditos.
É preciso que fique claro que se trata aqui de análise em tese, o
que vale dizer que ela não tem por finalidade considerar o ex-presidente
culpado nem inocente, mas sim mostrar que o desvio de conduta pode representar
a falta de regularidade do transporte de presentes, tanto isso é verdade que as
joias foram retidas pela Receita Federal, o que seria diferente se ele tivesse
feito tudo conforme os trâmites legais.
Por último, registe-se que o fato de a voluntária entrega das
joias ao patrimônio da União pode significar a assertiva de que algo não
correspondia à necessária legitimidade, porque, do contrário, ninguém abriria
mão de presente milionário, tão facilmente.
Assim, o certo é que o resultado dessa ópera só pode ficar muito
feio para o político envolvido, que tenta explicar o imbróglio, mas jamais ele
conseguirá se justificar, à vista da grandeza da sua autoridade, que tem a
obrigação de ser espelho para a sociedade.
Brasília, em 27 de abril de 2023
Nenhum comentário:
Postar um comentário