terça-feira, 25 de abril de 2023

O presidente suprassumo?

 

Vem circulando nas redes sociais mensagem que exalta somente qualidades extraordinárias do último presidente, como se ele tivesse sido o verdadeiro salvador da pátria, tendo realizado somente bondades no governo dele, conforme o texto a seguir.

 Nossa nação deve a Vossa Excelência uma reverência e uma imensa gratidão. Tudo o que o senhor nos prometeu, cumpriu! Foi um Presidente que honrou o cargo, com honestidade e patriotismo históricos. Jamais na nossa história republicana um governo foi tão atacado pela estrutura de poder que toma conta do Estado brasileiro desde a Proclamação da República. Nunca vimos um massacre tão grande de uma mídia sem compromisso com a verdade ou escrúpulos editoriais. Em nenhuma circunstância presenciamos um ativismo judiciário ideológico tão escancarado e atrevido, que implantou a censura e quebrou princípios constitucionais da liberdade de expressão, da imunidade parlamentar e da independência de poderes. Enfrentou uma pandemia sob acusações de ser um antidemocrata, mas jamais praticou qualquer ato atentatório à Democracia, e se portou o tempo todo dentro das regras da Constituição. Foi caluniado noite e dia! Foi e segue sendo traído por aliados que se acovardaram diante das dificuldades! Foi impedido de governar! Nunca cedeu às pressões e manteve a coerência da sua formação política e ideológica! Contudo, apesar disso, Vossa Excelência nos entrega um país em ordem, sem nenhuma mancha ou mácula de corrupção na sua gestão, com números que são invejados pelo mundo todo. Prometeu e cumpriu a diminuição da estrutura do Estado brasileiro, com redução de cargos, revogação de legislação burocrática e com eficiência na administração pública. Baixou impostos e aumentou a arrecadação, equilibrando as contas públicas com o PIB em crescimento. Fez a inflação cair, e a nossa economia crescer ante um mundo em recessão e crise. Valorizou nossa moeda frente as mais poderosas do mundo. Patrocinou a queda dos índices de criminalidade e combateu a corrupção de forma implacável. Facilitou o empreendedorismo com legislação da liberdade econômica. Concluiu obras públicas e modernizou a estrutura administrativa do Estado brasileiro. Atendeu às famílias brasileiras carentes com o maior programa de assistência social da nossa história através do ‘Auxílio Brasil’. No âmbito internacional, promoveu acordos históricos de livre comércio e recolocou o Brasil em lugar de destaque no âmbito da geopolítica. No campo político acordou uma Nação adormecida, entorpecida e descrente devolvendo-nos os símbolos e valores cívicos nacionais, com nosso hino e nossa bandeira. No campo eleitoral foi um líder que criou dezenas de novas lideranças que hão de mudar a condução dos destinos do país. Despertou em milhões de brasileiros um sentido de patriotismo, juntando a Nação em manifestações cívicas públicas históricas, de forma pacífica e democrática. Enfrentou um processo eleitoral e adversários que praticaram o jogo sujo, e que – se efetivamente venceram – não puderam comemorar a vitória com a honra da certeza dos seus méritos. Vossa Excelência enfrentou tudo com imensa resiliência e paciência democrática, ante um Congresso comprometido, fraco, omisso e relapso no cumprimento das suas obrigações. Vossa Excelência chega ao fim desse seu primeiro governo com honra de um Estadista que luta como um leão na defesa dos valores cristãos, da Pátria, das famílias e da Liberdade! A semente foi lançada em terra fértil. E está viva e germinada! Gratidão por tudo e por tanto até aqui, Presidente! Sua luta não foi e nunca será em vão! Quem viver, verá! Agora, cabe a nós patriotas e conservadores, estarmos preparados para a longa batalha que se aproxima...”.

Trata-se de belo texto, que poderia ter sido bem melhorado se muitas verdades também fossem descritas, à bem da verdade verdadeira, para que os brasileiros não sejam levados à conclusão não fidedigna.

Em primeiro plano, não faz o menor sentido ficar reclamando que o governo teria sido atacado, massacrado pela mídia, importunado, quando a crítica faz parte do jogo democrático, cabendo ao presidente explicar os atos praticados por ele, inclusive sendo factível a ele o ingresso de ações judiciais, no caso de provocação danosa às suas imagem e honra, à vista da necessidade da busca da reparação da verdade e do respeito à autoridade da República.

Não passa de puras incompetência e debilidade se afirmar que o então presidente do país teria sido impedido de governar, por não existir nada que prove isso, à vista da autonomia e da independência constitucionais dando-lhe plena competência para agir, mas se deixou de fazê-lo foi por despreparo funcional.

De igual modo, não tem o menor cabimento ficar criticando o ativismo judiciário, porque a autonomia dos poderes da República autorizava que o presidente do país tivesse inteligência suficiente para não entrar no jogo justamente da provocação instituída para desgastar a imagem dele, como de fato aconteceu com o consentimento dele.

O presidente do país simplesmente aceitou que ele fosse envolvido na trama que ele achou conveniente, porque ele viu nisso importante trunfo para tirar proveito e dividendos pessoais, no sentido de transformar as provocações, em especial do judiciário, como algo em que ele era visto como vítima e perseguido, o que isso era excelente negócio para os planos políticos dele, quando tudo isso teve o condão de conspirar contra os objetivos pretendidos, quando o resultado das trapalhadas não passou de ópera bufa.

Tanto essa assertiva era verdadeira que ele nunca entrou com ação judicial para contestar tais provocações, exatamente porque isso lhe agradava e ele queria que seus seguidores o vissem exatamente assim, como vítima, mesma, quando tudo se encerra em melancólica incompetência.

Não é verdade que não houve mancha nem mácula de corrupção na sua gestão, porque ele foi tão corrupto quanto seus antecessores, a partir do momento que ele levou para dentro do seu governo o famigerado Centrão, considerado o pior grupo político da história brasileira, por seus atributos de fisiologismo.

O próprio candidato se elegeu prometendo moralidade, inclusive condenando o fisiologismo da velha político, em referência ao Centrão, dizendo que jamais negociaria com os políticos desse deplorável grupo.

Bastou o então presidente do país ser ameaçado de impeachment para levar esse nefasto grupo político para dentro do Palácio do Planalto, enlameando de vez e definitivamente a sua gestão.

A configuração da corrupção estava concretizada, uma vez que a medida tinha por exclusiva finalidade o atendimento de interesse pessoal, sem qualquer vinculação com a causa pública.

Isso implicou a nomeação para cargos públicos de aproveitadores dos recursos públicos, normalmente protegidos incompetentes e inescrupulosos do Centrão, além de o governo ser obrigado a liberar emendas parlamentares, tudo como forma de selar o acordo seboso e imundo com esse nefasto grupo.

Agora, para melhorar a pouca-vergonha no governo, o Centrão cuidou de criar, evidentemente com o consentimento do “incorruptível” presidente da República, que, se discordasse, poderia ter questionado na Justiça, o deplorável “orçamento secreto”, que tem por finalidade a compra da consciência de parlamentares que apoiarem projetos do governo, ou seja, em benefício dos próprios integrantes do Centrão, todos em conluio com o governo, que não tem o menor escrúpulo em ainda considerar como sendo normal atos da pior indignidade, à luz dos princípios republicanos da ética e da moralidade.

Também não é verdade que o presidente tenha reduzido os ministérios, uma vez que ele prometeu, como candidato, somente 15 ministérios, quando no seu governo tinham 23, o que é diferente da promessa eleitoral não cumprida. 

No combate à grave pandemia do coronavírus, o presidente se notabilizou por ter conseguido contrariar as orientações do próprio governo, tendo sido eleito, nesse particular, com o deprimente título de negacionista, justamente por tentar negar a gravidade da Covid-19, que a todos alarmava, menos a ele, que se dizia ser atleta.

Na verdade, o presidente teve desempenho amplamente terrível no combate à pandemia do coronavírus, com destaque para a compra das vacinas, cujos contratempos resultaram em atraso de quase um mês na imunização dos brasileiros, mesmo assim graças às vacinas compradas pelo governador de São Paulo.

De todos os desastres verificados no combate à pandemia, um dos mais graves mesmo ficou por conta da nomeação de um general gerenciador de crises do Exército, sem nenhum conhecimento de medicina, para dirigir logo o Ministério da Saúde, principal órgão responsável pela execução das políticas de saúde pública do governo, fato este que só contribuiu para potencializar o descaso do presidente do país para com a proteção da saúde dos brasileiros, cuja mortalidade atingiu quase 700 mil brasileiros, à vista da indiscutível incompetência de gerenciamento da crise da saúde pública.

Como se elogiar e o mais grave agradecer pessoa que foi capaz de não atender aos anseios dos verdadeiros brasileiros, que imploraram pela intervenção militar prevista no art. 142 da Constituição, que garante a aplicação da lei e da ordem, que fora negada pela Justiça eleitoral, quando negou a transparência do resultado das urnas eletrônica, não permitindo acesso ao “código-fonte”?

Sem qualquer margem de dúvida, esse sim foi o pior e o gravíssimo legado deixado pelo presidente do país, diante da sua injustificável omissão de não ter decretada a intervenção militar, que era anseio dos brasileiros honrados e dignos.

Esses brasileiros tinham a esperança de que os militares pudessem promover o saneamento dos abusos praticados pelo sistema predominante, que ajudou a colocar no poder a banda política das trevas, a despeito, em especial, das denúncias de irregularidades na operacionalização das urnas eletrônicas, cujas medidas poderiam apenas confirmar o resultado das urnas, anunciado por aquele órgão, já que ele garantiu sobre a existência de regularidade da operacionalização do sistema eleitoral e isso estaria no amparo da norma insculpida no art. 37 da Constituição, quanto à observância ao princípio da transparência, ou seja, todos os procedimentos estariam em conformidade com os ditames jurídicos vigentes.

Essa gravíssima e imperdoável omissão presidencial tem o condão de caracterizar crime de lesa-pátria, diante da certeza de que o poder passaria para o controle de políticos com a pior índole de desonestidade e aderência aos esquemas de criminalidade, à vista do seu histórico de ficha suja junto à Justiça brasileira.

Enfim, como somente reconhecer bondade e gratidão a presidente do país que até pode ter feito algo em benefício dos brasileiros, mas isso de bom faz parte da obrigação inerente às funções para as quais ele foi eleito, quando prometeu realizar somente obras e serviços maravilhosos, em que pese nada de extraordinário foi feito no governo dele, que, ressalvada a meia-sola da reforma da previdência, nenhuma outra reforma estrutural do Estado aconteceu no seu governo.

O governo dele poderia sim ter contribuído para modernizar, conforme prometeu na campanha eleitoral, a paquidérmica máquina pública, por meio de reformas generalizadas, especialmente nas principais áreas da administração, em especial, na educação, na saúde, na administração propriamente, na tributação, nos sistemas carcerário e penal, nos transportes, na infraestrutura, enfim em tudo que pudesse contribuir para a transformação do Estado em máquina pública eficiente e organizada, sob os princípios da economicidade e da funcionalidade.

O pior é que os elogios, por tão pouco realizado, dão a falsa impressão ao ex-presidente da República que realmente ele teria sido o máximo, o suprassumo, em termos de gerenciamento da coisa pública, quando, em síntese o governo dele teve a representatividade de obra desastrosa, retrógrada e ineficiente, sem nada notável e de impacto realizado, mostrando apenas que o resultado do nada realizado diz exatamente nada mesmo, em termos de produtividade com o tanto que poderia ter sido feito com o aproveitamento da montanha dos recursos arrecadados dos brasileiros, que nada recebe em contrapartida dos elevados tributos recolhidos por eles.

Em síntese, é preciso que os brasileiros se conscientizem de que a avaliação do desempenho dos políticos deva situar no âmbito da verdade e da transparência, sopesando exatamente os fatos capazes de contribuir somente para mostrar a verdade, sem a influência da nefasta ideologia, que parece ser o caso da mensagem em causa, onde só elenca bondades nem sempre verdadeiras, à vista dos fatos acima transcritos.

Brasília, em 25 de abril de 2023

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