domingo, 16 de abril de 2023

Neutralidade, sim!

 

Em que pese declaração de neutralidade na disputa geopolítica entre Estados Unidos e China, o Brasil deu indicação de claro alinhamento com os chineses e a Rússia, segundo entendimento do governo americano, por ter alegado que “os brasileiros não só não têm prezado pelo equilíbrio em seus posicionamentos como teriam adotado uma clara oposição a Washington.”.

Na visita à China, o presidente brasileiro criticou abertamente os EUA, tendo dito que aquele país incentiva a continuidade da Guerra da Ucrânia, além de atacar a hegemonia do dólar e insinuar que os americanos pressionam o governo brasileiro a boicotar a China, conquanto o presidente brasileiro, em encontro com o presidente norte-americano, não fez qualquer crítica ao governo de Pequim ou de Moscou.

O governo norte-americano afirma que o presidente brasileiro adotou tom aberto de antagonismo aos EUA, quando deixa antever a sua visão que enxerga os EUA como um dos obstáculos para o fim da guerra na Ucrânia, além de insinuar que a China e a Rússia são os países que vão levar a paz ao conflito, declarações de claro posicionamento do Brasil, em favor de um dos lados.

Essa ideia ficou bastante evidente quando o presidente brasileiro afirmou que “é preciso que os americanos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz, para a gente convencer o Putin e o Zelenski de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só está interessando, por enquanto, aos dois.".

Também tem despertado preocupação declarações tendenciosas do presidente brasileiro, no sentido de que o presidente da Ucrânia, país invadido pela Rússia, "não pode (...) ter tudo", tendo afirmado ainda que "Putin não pode ficar com o terreno da Ucrânia, mas que talvez se discuta a Crimeia", dando a entender que Kiev deveria abrir mão do território, anexado por Moscou em 2014, antes da invasão que culminou com o conflito atual.

A conclusão do governo americano é a de que o presidente brasileiro incorporou no seu discurso o entendimento agressivo, errático e antidiplomático da Rússia, que é o país invasor, sem causa a justificar a bárbara agressão, em cristalina violação à soberania da Ucrânia e desrespeito à Carta da Organização das Nações Unidas - ONU, além da prática de inúmeros crimes de guerra, em escalado desprezo aos princípios humanitários.

No caso específico da guerra em comento, o único papel decente e diplomaticamente falando, no contexto internacional, por não ter qualquer interesse envolvido no conflito, é tão somente no sentido de que o Brasil ganharia o devido respeito entre as nações apenas demonstrando iniciativa capaz de contribuir para as negociações que levem à paz entre os países em guerra.

No adiantado dos conflitos, convém que o Brasil possa interferir excepcionalmente com o oferecimento, quando muito, de opiniões transformadoras de estímulos às mediações construtivas e objetivas, principalmente com a apresentação de ideias que suscitem a adoção de efetivas medidas sensatas e de equilíbrio à racionalidade civilizatória, evidentemente sem essa de manifestação de notória parcialidade, quando é preferível a neutralidade, em nome da sensatez e do bom senso diplomáticos.

Enfim, é compreensível que o Brasil demonstre seu esforço para que se alcance, o mais rapidamente possível, o término dessa guerra cruenta, desnecessária e desumana, mas é preciso, por questão de racionalidade diplomática, que o governo tupiniquim evite tomar partido por um dos lados, principalmente porque isso normalmente tem custo muito alto, em termos das relações entre os países amigos, à vista dos alertas vindos dos Estados Unidos da América, dando a entender que a neutralidade deve ser o caminho recomendado, nesse caso.

Brasília, em 16 de abril de 2023

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