segunda-feira, 11 de julho de 2022

Desprezo à violência

 

A campanha eleitoral nem começou para valer, mas a violência já disparou com a rivalidade entre os chamados bolsonaristas e petistas, com o triste saldo de uma vítima fatal, que é fruto da tresloucada intolerância prevalente entre os apaixonados defensores de malditas ideologias alimentadas por lideranças despudoradas e desequilibradas, que nutrem sentimentos vazios de civilidade e democracia.

Diante do assassinato de militante petista, o presidente da República, ao invés de condenar e repudiar a animalesca violência de que se trata, apenas houve por bem cobrar investigação sobre a morte havida, por decorrência de desavença iniciada, em princípio, por declarado seu seguidor político, tendo ainda responsabilizado a esquerda por episódios de violência no país.

O presidente do país afirmou, diante do triste episódio, que “Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos. É o lado de lá que dá facada, que cospe, que destrói patrimônio, que solta rojão em cinegrafista, que protege terroristas internacionais, que desumaniza pessoas com rótulos e pede fogo nelas, que invade fazendas e mata animais, que empurra um senhor num caminhão em movimento”.

Por seu turno, o principal líder da oposição, que é pré-candidato à Presidência da República, afirmou que o lamentável “episódio foi fruto de discurso de ódio estimulado por um presidente irresponsável”.

Incontinenti, o presidente do país rebateu as alegações de que a morte em causa teria sido provocada por seu discurso, tendo afirmado que “Nem a pior, nem a mais mal utilizada força de expressão, será mais grave do que fatos concretos e recorrentes. Que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis, assim como contra caluniadores que agem como urubus para tentar nos prejudicar 24 horas por dia.

A verdade é que o momento político é o pior possível, havendo queixas de que o presidente brasileiro é criticado, com frequência, por estimular o clima de confronto no país, seja, em especial, por duras críticas às urnas eletrônicas e a instituições da República, a exemplo do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, além de injustificadas declarações de hostilidade aos adversários políticos, pelas maldades que contribuíram para a construção das crises que grassam até o momento.

Como assertiva disso, no último sábado, o presidente do país disse,  por exemplo, que a campanha eleitoral poderá ser “guerra do bem contra o mal”, enquanto em 2018, em plena campanha eleitoral, ele teve a malsinada ideia de a convocar os seus apoiadores a “fuzilarem a petralhada do Acre”.

Enquanto esta crônica estava sendo escrita, surgiu vídeo nas redes sociais que mostra o militante petista, assassinado depois, jogando pedras contra o carro do bolsonarista, que, por sua vez, por certo, o havia provocado antes disso com palavras ofensivas, já que a festa fazia alusão à pessoa do líder da oposição.

O certo é que as discussões sobre política tendem normalmente se evoluir ao limite da intolerância e da irracionalidade, quando o seu final tem sido sempre desastroso, como nesse terrível caso, em que ficou a marca da extrema violência, que é absolutamente condenável e inaceitável, à vista da evolução da humanidade.

Diante de fato extremamente comovente e sensibilizador, esperava-se que as principais autoridades e as lideranças políticas tivessem o mínimo de sensatez para entenderem que houve a extrapolação da irracionalidade, significando, com isso, o real estado de latente sentimento de violência uns contra os outros, em verdadeira disputa brutal que não leva senão à incontrolável tragédia, como visto no caso em discussão, que poderia ter sido evitado, caso tivesse havido respeito mútuo, como deve ser assim o relacionamento de pessoas civilizadas.

Ao contrário, recrudesce os amargos sentimentos de lado a lado, em forma de acusações destrutivas, com indicativos de que a culpa é de quem incentiva o ódio e também de quem calunia seus opositores, em que ambos procuraram motivos vazios e fúteis ainda piores para se distanciarem do cerne das graves questões de reiteradas e cruentas desavenças, de puros ódio e intolerância.

Diante do indiscutível relacionamento de atrocidade e intolerância entre as facções de defensores de lideranças políticas, seria razoável que houvesse urgente interesse, de parte a parte, com vistas à mediação de medidas com vistas ao diálogo capaz de levar ao entendimento, especialmente no sentido de mostrar que a verdadeira finalidade da disputa político-partidária é exatamente a construção da paz, a disseminação da harmonia e o bem-estar da sociedade, com o progresso da nação.

É evidente que, em país que conseguiu aderir ao pior clima de polarização entre as ideologias da direita e da esquerda, onde há verdadeiro sentimento de disputa extremada de interesses, conforme mostram os fatos, as próprias lideranças também são contaminadas com a idiotice da aceitação da violência como forma de se ganhar posição no jogo político, em que o perdedor termina sendo o eleitor, que não tem alternativa para votar em bons candidatos, que tivessem verdadeiro propósito de autênticos defensores exclusivamente das causas da sociedade, como são procedidos nas nações evoluídas e imbuídas da satisfatoriedade somente do interesse público.

Apelam-se para que os brasileiros, que verdadeiramente amam o Brasil, somente apoiem os candidatos que demonstrem sentimentos de bom senso, sensibilidade e racionalidade, como princípios capazes de compreenderem que os valores humanos estão muito além de seus interesses pessoais, que somente conseguem enxergar a manutenção ou a conquista do poder, como fim e meio de seus projetos políticos.

Brasília, em 11 de julho de 2022

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