sexta-feira, 1 de julho de 2022

Orçamento da vergonha

 

O governo federal liberou, pasmem, em apenas dois dias, logo após a prisão do ex-ministro da Educação, o valor de R$ 3,2 bilhões do imoral orçamento secreto, mecanismo utilizado pelo Palácio do Planalto para comprar a consciência de parlamentares aliados, em troca de apoio político, cuja verba corresponde a 20% do total previsto para o fluente ano.

A abertura dos cofres ocorre em meio ao cabo de guerra no Congresso Nacional, em que o governo enfrenta votações críticas na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, além da perspectiva de nova Comissão Parlamentar de Inquérito, motivando a pressão de deputados e senadores para a liberação de recursos, antes das eleições de outubro próximo.

Ou seja, parlamentares exigem que o governo pague as emendas do orçamento secreto, para garantir a aprovação dos projetos do Executivo.

Enquanto isso, o Tribunal de Contas da União aponta que os investimentos do governo ficaram à margem em prol das prioridades do orçamento secreto.

Após a prisão do ex-ministro da Educação, o governo promoveu duas importantes liberações de recursos, sendo uma no último dia 23, quando foi empenhada a quantia de R$ 1,7 bilhão, e outra no dia seguinte, no importe de R$ 1,5 bilhão.

No dia 15 de junho, houve a liberação de R$ 1,8 bilhão, que coincidiu com a aprovação, no Congresso, da proposta que estabelece o teto do ICMS para combustíveis, que se trata de projeto patrocinado pelo Palácio do Planalto, na tentativa de minimizar as altas dos preços da gasolina e do diesel.

No total, houve o empenhamento, neste ano, do valor de R$ 5,8 bilhões dos R$ 16 bilhões previstos no orçamento secreto.

Os líderes de bancada estão pressionando os presidentes do Senado e da Câmara, para enviarem todos os pedidos de emendas de relator ao governo antes do prazo final para os pagamentos, que vence no dia 2 de julho, cujos pagamentos ficam inviabilizados, a partir desta data, em razão da eleição, não podendo haver o pagamento de emendas.

Consta que o Partido Liberal, ao qual pertence o presidente do país, lidera as indicações do orçamento secreto, no atual exercício, mostrando indisfarçável favorecimento aos congressistas aliados, em dissonância com os princípios republicanos, nesse particular.

Em que pesem as liberações em valores altos, nos últimos dias, a insatisfação de parlamentares continua, uma vez que mais de R$ 10 bilhões dos R$ 16 bilhões, previstos para o orçamento secreto de 2022, não foram empenhados até agora, ficando muito claro que eles não estão nada preocupados quanto às prioridades dos pagamentos de incumbência regular do governo.

A expectativa dos congressistas é a de conseguir o máximo possível de liberações antes das eleições, para poder fazer anúncios em suas bases eleitorais sobre a possível realização de obras, ou seja, para comprar votos e ainda dispor de recursos para gastarem como bem quiserem, uma vez que não há nenhuma obrigatoriedade da prestação de contras com a aplicação de recursos provenientes desse abominável orçamento secreto, que tem esse nome justamente para se permitir a farra e a promiscuidade com o dinheiro dos sacrificados e tolos contribuintes.

Essa é a imagem de governo que garante moralidade na sua gestão, mas mantém esse seboso orçamento secreto justamente para manipular a votação de seus projetos no Congresso, mediante a cooptação de votos necessários ao seu intento, fato este que demonstra a falta de dignidade perante a coisa pública, por ser necessário o emprego de dinheiro em outras finalidades, nesse caso visivelmente de natureza escusa, por ele ser desviado de programas regulares para a compra de votos no Congresso, que é a serventia do deplorável orçamento secreto.

Por via de consequência dessa indecência orçamentária, os investimentos públicos deixam de ser realizados, conforme atestação pelo TCU, e isso é o bastante para se afirmar que o governo comente crime de lesa-pátria, por meio de desvio de recursos públicos para o financiamento de políticas imunda de compra de votos no Congresso, com o dinheiro que vai faltar em obras públicas e em outros empreendimentos regulares do governo.

Nessa prática nojenta e antirrepublicana de gasto público, fica a indecente ideia de que não se sabe quem deixa de ter menos dignidade pública, se quem se beneficia indevidamente dos recursos repassados, em pagamento para o exercício do mandato parlamentar, que já é remunerado para cumprir a sua missão legislativa, ou de quem se submete a essa ridícula promiscuidade com a execução do orçamento, em cristalino desvio de finalidade, ficando patente que ambos praticam crime contra a sociedade, com o abuso da finalidade pública, quando o orçamento secreto materializa a pior índole do homem público, que somente merece o desprezo pela insensatez de seu ato.

Os brasileiros honrados e dignos, no âmbito das suas responsabilidades cívicas e patrióticas, precisam repudiar, com veemência, a existência do imoral orçamento secreto, uma vez que ele representa verdadeira excrescência em forma de despesa pública, ante a patente caracterização de abuso com o dinheiro dos sacrificados contribuintes, que são obrigados ao recolhimento de pesados tributos para a sustentação de orçamento indiscutivelmente revestido de finalidade revestida de promiscuidade, uma vez que não resiste aos princípios da decência exigida na administração pública.     

Brasília, em 1º de julho de 2022

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