segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Inteligência artificial

 

Vem causando intensa discussão a ideia inusitada suscitada no mundo cinematográfico, mais precisamente em Hollywood, onde se encontra em pauta a proposta dos estúdios chamada de superinovadora, na qual os atores são protagonistas, por alguns instantes, nas filmagens, sendo substituídos por “réplicas digitais”.

O diretor-executivo do sindicato dos atores disse que a ideia é a de que os atores seriam pagos por um dia de trabalho e automaticamente escaneados, de modo que a imagem digital passaria a ser usada indefinidamente pelos produtores, sem a geração de qualquer direito autoral, para fins do devido pagamento, por essa forma de artifício laboral.

À toda evidência, essa ideia se estenderia para as demais categorias participantes da película, ou seja, os atores secundários também seriam clonados, os quais formam, basicamente, a maioria dos milhares de pessoas que trabalham nas filmagens.

Como visto, teme-se que a inteligência artificial seja usada para a criação de novos roteiros, com escritores humanos  sendo adaptados e ajustados em filmagens pontuais, com o pagamento insignificante aos atores.

Na verdade, essa possibilidade da substituição de atores por réplicas digitais levanta questões de ordem ética sobre a autenticidade da arte profissional, uma vez que o talento, a versatilidade e a habilidade inerentes à forma peculiar dos atores de interpretar são características de cada ser humano, que deixam, praticamente, de existir, em razão da adaptabilidade operada por meio da inteligência artificial.

Além do mais, fica evidenciada, nesse processo de digitalização dos atores, preocupação sobre a criatividade e a originalidade das histórias objeto das filmagens, que certamente não correspondem à autenticidade, justamente devido à introdução do artificialismo, totalmente diferente da representação direta pelos atores.

Essa importante discussão, que surgiu de repente, restringe-se, por enquanto, ao mundo do cinema, entre os estúdios e os atores e demais artistas secundários, mas isso já sinaliza que discussões semelhantes vão se estender por outros setores profissionais, em que o foco principal vai ser a substituição da mão de obra humana pela inteligência artificial, que não demandaria custos.

Ou seja, é evidente que o resultado, em forma de definição, das discussões entre aqueles protagonistas certamente servirá de parâmetro para as outras áreas no mercado de trabalho que também possam ter a aplicação da inteligência artificial, à vista dos exemplos vindos da indústria do entretenimento, que tem sido pioneira em várias tendências dos empreendimentos mundiais.

A verdade é que o futuro do trabalho poderá ter dependência do equilíbrio surgido entre o emprego da inteligência artificial e a preservação das habilidades e inteligências humanas, tendo em conta que o avanço tecnológico é importante fator inevitável nas relações de trabalho, que é essencial à evolução da inteligência artificial e, de resto, dos demais fatores da criatividade humana.

É preciso que o bom senso, o equilíbrio e a racionalidade possam sobressair como garantia da integridade dos direitos dos profissionais, de modo que as discussões em causa também permitam a preservação da qualidade das artes cinematográficas, além de resultar em frutíferos ensinamentos para outras áreas trabalhistas, considerando que o avanço da tecnologia é realidade inevitável.   

Brasília, em 9 de outubro de 2023

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