quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Alerta

 

O filme “Som da liberdade”, que mereceu severas críticas por grande parte da imprensa internacional, vem fazendo enorme sucesso de bilheteria, tanto nos Estados Unidos como no Brasil, desde a sua estreia.

A película é inspirada na história real de um agente do governo americano, que trabalhou no resgate de crianças da exploração de criminosos bolivianos, cuja história vem suscitando polêmica em todos os países em que ele está sendo exibido.

O estranho é que a imprensa acusa “O som da liberdade” de fazer propaganda de teorias conspiratórias ligadas ao movimento de direita, mas a distribuidora cristã nega essa versão.

Trata-se de enredo que narra a história de agente federal americano, decidido a fazer justiça com as próprias mãos, em terra estrangeira, que não  difere de vários filmes com conteúdo de propaganda militar intervencionista com narrativa de salvador de um povo.

Na verdade, verifica-se muito barulho por parte da imprensa contrária à história do filme, que tem o real interesse em provocar reflexões e debates, tendo atingido os fins colimados, ante a importância do tema, que é relevante, por aforar a questão do tráfico de pessoas, para fins de exploração sexual, de forma comercial envolvendo crianças e adolescentes, em verdadeiro estilo da poderosa máfia, que investiu alto para ser limitada ao máximo a exibição do filme, mundo afora.

A explosão do tráfico de pessoas no mundo vem sendo considerada a epidemia do século XXI, indicativo de que este crime existe e deve ser enfrentado, para além de pressões religiosas ou partidárias, por se tratar de responsabilidade da sociedade civil, como bandeira que não deve ser apropriada por nenhum grupo político, mas sim abraçada pela sensibilização das pessoas, em todos os segmentos da sociedade, em defesa do trabalho contra os exploradores de seres humanos tanto inocentes como indefesos, como crianças e adolescentes.

Conforme levantamentos das Nações Unidas, cerca de 1,2 milhão de crianças são desaparecidas, por ano, sendo que grande parcela tem destino ao tráfico sexual, que transforma esse crime em lucratividade financeira do tráfico de pessoas, que já se equipara ao tráfico de drogas e armas.

O número de pessoas traficadas no planeta atinge a casa dos 2,5 milhões, movimentando 30 milhões de dólares na economia do crime, sendo que uma em cada três vítimas do tráfico de pessoas é criança.

A exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é considerada a pior forma de trabalho escravo, sendo que o tráfico de crianças e adolescentes para fins de trabalho escravo ainda sobrevive, em grande escala, no Brasil e no mundo.

Estudo mostra que a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes é fruto também da ação de criminosos que transformam pessoas em mercadorias de consumo, cuja criminalidade tende a se intensificar, se não houver alerta para esse câncer social, que é, em boa hora denunciado pelo filme em apreço.

Estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontaram a existência de 160 milhões de crianças em situação de trabalho infantil em 2020, representando uma em cada dez crianças em todo o mundo, com quase metade delas (79 milhões) envolvida em trabalhos perigosos, entre eles a exploração sexual comercial.

De acordo com a legislação brasileira, o trabalho infantil se refere às atividades econômicas e/ou de sobrevivência, remuneradas ou não, visando ou não ao lucro, realizadas por crianças e adolescentes com idade inferior a 16 anos.

Essa forma de exploração é indicativa de que há um conjunto de ações em desarmonia, cuja situação exige o aprimoramento e a articulação de políticas públicas para se encontrar solução para o problema, desde a fome, a pobreza, o atendimento de saúde, o acesso à educação, à habitação, dentre outras chagas sociais.

O comércio sexual de crianças e adolescentes é a ponta do iceberg da desigualdade social, a evidenciar uma série de direitos que não foram efetivados para as crianças e os adolescentes carentes ou ainda para a família em situação de vulnerabilidade.

A verdade é que não existe solução mágica para essa terrível situação, conquanto o filme cuide de mostrar a gravidade da criminalidade contra crianças e adolescentes, que pedem socorro das autoridades públicas.

Diante disso, urge que haja esforço conjunto dos governantes e da sociedade, em articulação com os Ministérios Públicos, conselhos tutelares, escolas e entidades de direitos humanos, com vistas à identificação dos problemas envolvendo o comércio de crianças e adolescentes e à propositura de medidas contundentes e efetivas que possam impactar nessa realidade social extremamente perversa.

Compete à sociedade civil se mobilizar, em permanente vigilância, para exigir do Estado a integral proteção das crianças e dos adolescentes, de modo que seja possível a eliminação do comércio com o envolvimento deles.

Brasília, em 24 de outubro de 2023

Nenhum comentário:

Postar um comentário