segunda-feira, 17 de outubro de 2022

A soberania do voto

Em crônica que analisava exclusivamente o momento político, sem se tecer qualquer crítica à decisão dos nordestinos em aderir ao candidato da esquerda, um internauta houve por bem fazer comentário completamente fora de contexto, para me acusar do que eu não fiz, nos seguintes termos: “Um texto tão grande escrito por um nordestino, só pra espreçar sua raiva com o sucesso e a escolha do seu povo. Acho que o senhor deve ficar no puxasaquismo das Biografias fictisse. Sem tirar os valores individuais das pessoas relatadas (sic)”.

Em resposta, eu disse que sou sim nordestino e honro a minha terra natal, tanto isso é verdade que não apoio político corrupto, com a ficha suja devidamente comprovada por meio de investigações policiais e julgamentos judiciais, que não teve capacidade para provar a inocência dele, quanto às ações penais de que ele é acusado.

Não é verdade que eu tenha me expressado de forma raivosa com relação à escolha soberana dos nordestinos, que devem ter seus motivos para votar em quem bem entender.

É preciso ficar muito claro que a minha crônica, referida na mensagem, trata exclusivamente de caso específico, sem adentramento à generalização, na forma como sugerida no texto acima, que demonstra muita maldade, para colocar a minha pessoa contra os nordestinos, porque, na verdade, não existe nada disso, na minha crônica, conforme se pode sentir nos meus textos.  

Convém esclarecer que não nutro inveja alguma de quem pensa diferentemente de mim, porque eu respeito a opinião das pessoas que votam em quem bem quiser, porque essa forma de opção deriva da consciência política, na forma facultada pela liberdade democrática.

As críticas que faço sobre a moralidade do candidato tem origem em sentenças judiciais condenando a prisão do candidato, por decorrência de seu desempenho nada republicano, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, que são atos gravíssimos contra a administração pública, cujas irregularidades têm o condão da mácula incapacitante para o exercício de cargo público eletivo.

Nessas circunstâncias, caso o povo quisesse ter consciência sobre a real importância sobre o império dos princípios republicano e democrático, certamente que não votaria em candidato implicado com a Justiça e que, ao contrário, jamais poderia praticar atividades políticas sem antes provar a sua inculpabilidade com relação aos atos cuja autoria é atribuída à pessoa dele, conquanto isso nada disso vem sendo observado, que seria razoável para o aperfeiçoamento democrático.

Agora, à toda evidência, é sempre motivo de preocupação a votação expressiva em ex-presidiário que não preenche os requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública, uma vez que o envolvimento dele em casos de corrupção já seria mais do que suficiente para que o povo em geral o desqualificasse para o exercício de cargos públicos eletivos, porque esse desvio de comportamento eleitoral permite sim a ilação sobre a necessidade de reavaliação da sociedade eis que ele não preenche as condições legais e de imaculabilidade, mas mesmo assim o povo o quer de volta, com todos os defeitos morais dele.

Que país é este, cujo povo aceita ser presidido por político que tem histórico manchado pela deformidade da mácula na administração pública, a exemplo dos piores esquemas criminosos já conhecidos na história republicana, mesmo se abstraindo a culpa direta da pessoa dele nos casos desvendados de grave corrupção, porque a responsabilidade continua sendo dele, porque os atos e fatos delituosos aconteceram no governo dele e isso já seria motivo de alerta para futuro governo dele, eis que a experiência é tida como desastrosa e prejudicial aos interesses do Brasil e dos brasileiros?

Enfim, é inacreditável o que se passa nas mentes dos brasileiros, que simplesmente preferem ignorar fórmula tão simples, no sentido de que as atividades públicas são movidas pelo senso da responsabilidade sobre o patrimônio da sociedade, em estrita observância aos salutares princípios da ética, da moralidade, da probidade, da dignidade, entre outros próprios da decência na aplicação dos recursos da sociedade.

Não obstante, ao contrário disso, a rigidez da legalidade exigida nessa forma de gestão não foi seguida no governo do candidato, conforme mostram as investigações sobre as organizações criminosas desvendadas nos escândalos de mensalão e do petrolão, fatos estes que todos os eleitores dele preferem fingir e ignorar a cruel realidade, dando crédito a ex-presidiário pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, conforme a clareza do resultado das urnas.

A verdade precisa ser dita, doa a quem doer, mesmo que isso seja desnecessário, uma vez que, nesse caso, ela fagulha perenemente, porque a sua importância é tanta que ela faz parte da história brasileira e jamais poderia ser desprezada pelos eleitores que têm obrigação de cultuar e defender a integridade dos valores ético-morais não somente os seus, mas, em especial, os do Brasil.          

A acentuada estranheza, nesse caso, cinge-se ao fato de que brasileiros demonstram regozijo em votar em político que representa a indignidade na gestão pública, à luz dos fatos, quando o povo deveria, ao contrário, se envergonhar e nem votar em político nessas condições de decadência moral, que de fato é, conforme mostram as investigações e os julgamentos pertinentes àqueles escândalos.

Ainda no caso da mensagem acima, acredito que esteja havendo equívoco nessa história, porque é sentimento meu que não tenho raiva contra ninguém, muito menos só por alguém ter votado em quem bem entender, de livre opção, porque isso não faz parte da minha índole e todo mundo é livre para decidir o seu voto.

Não obstante, entendo que tenho o direito de cidadania de me expressar de acordo com o livre-arbítrio, em opinar segundo o que penso e acho certo, na mesma forma do direito de todas as pessoas, à vista das liberdades individuais e democráticas, porque isso é inerente de expressão, no âmbito da opinião pública.

Agora, não faz o menor sentido que eu seja acusado inclusive do que eu não me considero, porque dizer o que sinto faz parte dos direitos da liberdade de expressão, próprios dos princípios democráticos, que facultam a liberdade de cidadania.

Quem tiver sentimento diferente do meu, eu procuro respeitar, sob o regramento dos princípios democráticos, mas não posso admitir que se digam que eu tenho raiva de nordestino pelo simples de ele ter votado segundo a sua consciência, porque isso jamais partiria da minha índole.

A verdade é que tenho o direito de não compreender como é que político que não reúne as qualidades políticas e administrativas ideais para o exercício de cargo público, conte com expressivo apoio eleitoral, diante da sua implicação com a Justiça, sobretudo em razão da existência, no seu governo, de dois gigantescos esquemas criminosos de corrupção, consistentes nos mensalão e petrolão, que foram considerados, pela opinião especializada, os maiores escândalos da história político-brasileira, tendo por exclusiva finalidade o desvio de dinheiro público para diversas atividades ilícitas, conforme o resultado de investigações policiais e julgamentos judiciais.

Ou seja, a votação em candidato reconhecidamente em precárias condições de moralidade somente confirma, por parte de eleitores, nenhuma importância quanto ao império dos princípios republicanos, quando a sua rigorosa observância deveria ser exigência obrigatória pelos brasileiros, como fazem normalmente os povos dos países sérios, evoluídos e civilizados, em termos políticos e democráticos.

O certo é que causa enorme perplexidade, mesmo diante das evidências de todas as precariedades ético-morais, o político ainda ser merecedor do apoio de brasileiros, para, pasmem, voltar ao poder, quando o normal, à luz dos princípios do bom senso e da sensatez, seria o caso do expurgo dele da vida pública, por causa do seu histórico nada republicano.

É muito estranho que brasileiros, não importando a sua origem regional, tanto faz ser do Sul, Centro-Oeste, Norte, Leste ou Nordeste, porque a defesa dos princípios morais faz parte das pessoas que realmente amam o Brasil, não permitindo que político que não consegue provar a sua inocência sobre os fatos inquinados de irregulares, cuja autoria é atribuída à pessoa dele, possa presidir o país.

À toda evidência, político nessas condições, não tem a mínima qualificação ético-moral para presidir o Brasil, sem que antes prove a sua inocência sobre os fatos denunciados à Justiça, porque isso representa desprezo aos princípios da moralidade e da dignidade do próprio povo, que é soberano para decidir com o seu voto, inclusive em achar que é normal que o Brasil seja presidido por quem responde a processos penais na Justiça.

Conviria que o povo tivesse coragem para exigir que o candidato primeiro limpasse o seu nome junto à Justiça, para só assim, depois, puder disputar cargo público eletivo, em especial, o principal da República, tendo em conta que não fica bem para os próprios brasileiros que apoiam político que é incapaz de atender aos imprescindíveis requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública, porque isso é o mínimo exigido nos países decentes, que primam pela observância dos princípios de civilidade e cidadania.

         Brasília, em 17 de outubro de 2022 

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