segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Orgulho da dignidade

 

Diante da crônica da minha lavra, intitulada “O povo merece”, uma distinta senhora houve por bem se manifestar em contraposição ao meu texto, tendo escrito o seguinte: O primeiro TRICAMPEÃO da história do Brasil!! Parabéns para o Nordeste que foi a força maior de eleger o candidato Lula. Espero que o senhor (deve se referir ao candidato eleito) faça seu trabalho do jeito que falou seu pronunciamento no fantástico e não nos decepcione mais. E viva o Nordeste!! Vivaaaaa. Sou Nordestina com muito orgulho. (...) Política é um jogo, ganha quem tem que ganhar e qdo o povo quer, nem que sofra depois as consequências. Agora vamos rezar que tudo dê certo e aceitar que dói menos”.

Em resposta, eu disse à nobre senhora que é preciso acabar com essa ideia sem fundamento de se querer se amparar no orgulho de ser nordestino, para justificar a decisão de se votar deliberadamente em corrupto, porque ser do Nordeste é algo transcendente, que vem no âmago de cada sertanejo e disso não há a menor dúvida.

É muito importante que as coisas sejam separadas, porque, na verdade, o que está em jogo, e parece que ninguém quer entender, por demonstração de enorme dificuldade, quando tudo isso é tão simples, é que se trata de se votar em candidato que não reúne as condições de moralidade para o exercício do cargo da relevância de presidente da República, conforme a sua condição de envolvimento com processos penais na Justiça.

As pessoas sabem perfeitamente que o candidato eleito tem vinculação com os piores escândalos de irregularidades, ou mais precisamente com os esquemas criminosos jamais acontecidos em governos algum, na história do Brasil, que ficaram conhecidos pelos nomes do mensalão e do petrolão.

Por conta disso, ele foi julgado e condenado à prisão, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro e isso, por si só já seria mais do que suficiente para que o povo não o aceitasse para a ocupação de nenhum cargo público, quanto mais para o principal da República.

Sim, pode-se alegar que as condenações foram anuladas, o que é verdade, mas os atos que deram origem aos crimes pelos quais ele foi condenado à prisão permaneceram com validade, ou seja, ele não se livrou da mácula de ter recebido propina com recursos públicos.

Isso é motivo imperativo para que ele nem pudesse praticar atividades políticas nem exercer cargos públicos eletivos, enquanto ele não provasse a sua inculpabilidade quanto à prática ou o envolvimento nos referidos atos irregulares, porque eles são contrários aos princípios republicano e democrático.

Ou seja, o candidato eleito não atende aos requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública, e isso, por si só, o impede, em termos de moralidade, de participar de atividades públicas, como o exercício do cargo de presidente da República, sem antes ele limpar a ficha dele junto à Justiça e à sociedade, que é e continua suja, porque ele foi incapaz de provar a própria inocência e isso o caracteriza como autêntico oportunista, quando ele se candidata a cargo público, em ter condições de preencher os requisitos essenciais.

Em país nenhum do mundo, nem mesmo nas piores republiquetas, alguém nas condições do candidato eleito seria aceito pelo povo honrado e digno como candidato a cargo algum, sem antes comprovar que não deve nada à Justiça e à sociedade, na forma da legislação aplicável a espécie, quanto à prestação de contas sobre seus atos na vida pública.

Na verdade, o candidato eleito é devedor de explicações e justificativas à Justiça e à sociedade, com relação aos processos penais que estão lá aguardando julgamento, uma vez que assuntos tratados neles dizem com a prática de irregularidade acontecidas ainda no governo dele.

Será que as pessoas inteligentes têm dificuldade para entenderem que se trata de “orgulho de ser nordestino”, mas exclusivamente de questão de moralidade, dignidade e honestidade na gestão pública, que é algo que não foi provada a regularidade sobre contas referentes e ocorridas no governo dele, visto que existem processos na Justiça contra a pessoa dele, que aguardam julgamento e isso é motivo de todo estranhamento por que os brasileiros não se envergonham de votar em pessoa que não reúne as qualidades e os atributos referentes à imaculabilidade na vida pública.

O caso dele pode ser comparado à de um gerente de banco, que é suspeito de se apoderar indevidamente de dinheiro da agência e é preso por isso, mas foi solto por alguma manobra da Justiça, sem provar nada sobre a sua inocência.

O tempo passa e ele volta ao banco para pedir o retorno ao cargo, mostrando arrependimento e jurando ser fiel e zeloso para com o dinheiro da instituição bancária.

Nessas condições, quem acha que o banco o aceita como novo gerente?

É evidente que não e isso aconteceu exatamente o contrário com o candidato eleito, que somente poderia volta ao cargo se ele provasse que é inocente quanto aos casos denunciados de ter se beneficiado irregularmente de dinheiro público, que é algo que ainda pende de julgamento pela Justiça.

Então, não passa de pura ingenuidade essa ideia de se alegar orgulho de quem quer que seja para se ter o direito de eleger pessoa que não se encontra nas condições de regularidade e legitimidade perante a Justiça, enquanto ele não provar a sua inocência, porque não adiante ele falar que é inocente, uma vez que somente a Justiça, nesse caso, tem competência para declarar nesse sentido.

Nesse caso especifico, não tem o menor cabimento a alegação de ser nordestino ou brasileiro de qualquer outra região, com o direito de se votar em candidato que deixou de respeitar a dignidade do Brasil e dos eleitores, porque antes de se candidatar ele deveria ter tido o cuidado de se desvincular dos casos pendentes na Justiça, mas isso ele não fez, acreditando certamente na ingenuidade do povo, como de fato aconteceu, como prova o resultado das urnas.

Não precisa ser nordestino para entender o que é o melhor para o Brasil, que não merece ser governado por quem responde a vários processos penais na Justiça, porque isso só demonstra o amor dos eleitores em geral à corrupção e à impunidade, uma vez que todos sabem perfeitamente sobre os esquemas criminosos do mensalão e do petrolão ocorridos no governo dele, que não teve a humildade de assumi-los, como era do dever de todo verdadeiro homem público.

Enfim, política é sim um jogo que exige que seus participantes apresentem, no bom sentido mesmo, as fichas limpas, porque essa é a principal regra republicana e democrática para todos.

Concluindo, digo que tenho o maior orgulho de ser nordestino, procurando deixar isso muito claro nos meus textos, mas, com toda sinceridade, me sentiria extremamente envergonhado em votar, para presidente do Brasil, em corrupto que não conseguiu provar a sua inocência, tendo conseguido o aval para participar das eleições por obra e graça de arranjo jurídico vindo do Supremo Tribunal Federal, por meio da anulação, sem fundamento legal, das condenações referentes às prisões dele.

Brasília, em 31 de outubro de 2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário