terça-feira, 18 de outubro de 2022

Liberdade do voto?

 

Um empresário que foi presidente do partido Novo declarou seu voto no candidato da esquerda à Presidência da República.

Ele disse que "É uma decisão difícil, pois não concordo com nenhum dos dois. A qualquer um que seja eleito, serei oposição desde o primeiro dia, mas meu direito de oposição tem mais chance de ser preservado com Lula do que Bolsonaro. Bolsonaro tem atentado contra os poderes, cooptou o Legislativo com o orçamento secreto e vem testando essa ideia de aumentar os membros do Supremo para formar maioria. Apesar das discordâncias, serei obrigado a fazer algo que nunca fiz na vida, que é votar no PT”.

A verdade é que o mencionado político foi crítico duro e constante dos governos petistas, tendo disputado a eleição presidencial de 2018, sob a égide do discurso do liberalismo econômico.

O governador de Minas Gerais, que é do mesmo partido do citado político, disse que herdou só “tragédia” do governo petista e que esse foi um dos motivos que o levaram a Brasília para declarar apoio ao candidato à reeleição.

O partido Novo não formalizou apoio a nenhum candidato, apenas tendo deixado claro que é contra o PT e o lulismo e liberado seus filiados e eleitores a votarem de acordo com a “consciência e princípios partidários”.

O presidente do partido Novo se manifestou nas redes sociais, tendo chamado a decisão em apreço de "vergonhosa, constrangedora e incoerente. O PT e o Lula representam tudo o que o nosso partido sempre combateu. Essa é a prova final de que o Novo nunca mudou, quem mudou foi o João".

Por sua vez, o perfil do partido Novo, no Twitter, também postou mensagem em oposição à decisão do citado político, dizendo que "É absolutamente incoerente e lamentável a declaração de voto de João Amoêdo em Lula, que sempre apoiou e financiou ditadores e protagonizou os maiores escândalos de corrupção da história. Seu posicionamento não representa o Partido Novo e vai contra tudo o que sempre defendemos.".

Em resposta, o mencionado político disse que “lamenta que o partido utilize meios oficiais para atacar a liberdade de expressão e política de um filiado. Ao responder o questionamento acerca do meu voto em segundo turno, apenas exerci um direito que me é conferido pela nossa Constituição. Tal direito não apenas dialoga com um dos pilares do NOVO - a liberdade de expressão - como também encontra amparo no seu Estatuto, em Diretriz Partidária vigente e em uma nota recente que textualmente reafirmou a liberdade de seus filiados em votar segundo suas convicções".

A verdade é preciso que seja externada, especificamente nesse caso, em que o mencionado político se junta, por opção de escolha pessoal, no âmbito da liberdade de expressão, que é forma evoluída do exercício da democracia, e em coerência com a liberdade de opção para os integrantes do partido votarem em quem bem entendessem, inclusive, evidentemente, no candidato da esquerda.

Acontece que essa liberdade de expressão precisa ser inteligente e coerente com os princípios defendidos pelo partido, tendo por base a defesa da moralidade e da dignidade nas atividades políticas que tem sido a sua inspiração ao longo da sua história.

Ou seja, a escolha do político de votar no ex-presidiário se harmoniza perfeitamente com a liberalidade de opção do voto em quem ele quisesse, desde que, por óbvio, não fosse no candidato contra o qual tem ideologia antagônica às ideias fundamentais do partido Novo, que sempre manteve o entendimento no sentido de que “O PT e o Lula representam tudo o que o nosso partido sempre combateu” e “lamentável a declaração de voto de João Amoêdo em Lula, que sempre apoiou e financiou ditadores e protagonizou os maiores escândalos de corrupção da história.”.

Embora a decisão do político condiz com a sua opção democrática  de exercer o direito que a Constituição lhe confere, não há qualquer margem de dúvida de ela contraria o primado da decência e da dignidade no exercício das atividades políticas, que têm por essência a defesa dos princípios republicanos da ética, da moralidade, da legalidade, da dignidade, na gestão pública, que são saudáveis condutas simplesmente ignoradas pelo candidato da esquerda, diante do seu envolvimento, em especial, com atos de improbidade administrativa, por causa dos quais já foi condenado à prisão, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.  

Sim, o político exerceu o seu direito constitucional e isso não se discute, mas a gravidade do seu ato se encerra na escolha de candidato da pior índole político-administrativa, à vista do seu mais deprimente histórico de homem na vida pública, ante a implicação dele com a Justiça, diante da existência de várias denúncias sob suspeitas da prática de crimes contra a administração pública, que exigem, antes, de justificativa e prestação de contas à Justiça e à sociedade, ficando evidente a total incoerência do político, que tinha liberdade para escolher seu candidato, desde que não fosse aquele que é símbolo da degradação moral, conforme mostram os fatos.

O certo é que a escolha do político representa frontal ferimento da ética básica de moralidade defendida pela agremiação, que condiz com a  imperiosa necessidade da luta pela dignidade nas atividades políticas.

À vista do exposto, a lição que fica é a de que não basta o partido ter como princípios ideias que orientem para a defesa do aperfeiçoamento dos princípios democráticos da moralidade e da dignidade, quanto às atividades políticas, se seus integrantes têm linha de pensamento diferente, como no caso em comento, em que homem prócer da agremiação se dispôs a contrariar a sua filosofia basilar de princípios, para apoiar candidato que não atende aos requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública.

Por fim, impende se observar que o partido, ao liberar seus integrantes para votarem em quem quisesse, deixou claro que isso seria feito segundo a “consciência e princípios partidários”, princípios estes que foram desrespeitados pelo político, eis que o partido defende, em essência, a moralidade e a dignidade nas atividades político-administrativas.

Apelam-se por que os verdadeiros brasileiros sejam livres para a escolha do seu precioso voto, desde que ele seja usado exclusivamente para a melhor eleição em prol do Brasil, de modo que ele seja presidido somente por quem tiver condição de atender aos requisitos básicos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública.

Brasília, em 18 de outubro de 2022

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