Conforme notícia veiculada pela mídia, atendendo cobranças
do presidente da Câmara dos Deputados, um dos principais líderes do Centrão, à
vista das primeiras derrotas fragorosas no Congresso Nacional, o governo federal
decidiu autorizar a liberação, pasmem, de R$ 3 bilhões do
Orçamento da União, na área de Saúde.
Segundo o governo, a destinação dos aludidos recursos será
definida em negociação com as bancadas estaduais no Congresso, evidentemente
devidamente em concentração aos propósitos dos parlamentares que venderam seus
votos para a aprovação da PEC da transição.
Os
referidos recursos fazem parte do montante de R$ 9,8 bilhões resultantes do
orçamento secreto de 2022, em que a sua destinação foi decidida entre os presidentes
da Câmara e do Senado Federal, cujos valores foram convertidos em emendas
parlamentares individuais impositivas, de modo que se promova a devida
recompensa aos fiéis parlamentares que acudirem aos projetos do governo.
O
Ministério da Saúde, para ser muito claro, informou que a liberação dos citados
recursos estava prevista na PEC da Transição, que integravam o espólio do
orçamento secreto, que tem funciona como instrumento para a negociação do apoio
dos parlamentares, especialmente do Centrão, que ainda não tem um alinhamento
definido, mas, mesmo assim, é certo que os congressistas mais fiéis ao governo
vão ter acesso aos recursos.
Como
essa situação é tão nebulosa que ainda não está claro se o governo vai dar
transparência completa à destinação dos recursos, ou seja, se haverá
identificação do parlamentar que indicou o destino da verba e quais serão mesmo
as obras e os serviços a serem pagos com eles.
O certo mesmo é que o presidente da Câmara, um dos principais
e influentes integrantes do Centrão, se reuniu, a portas fechadas, no Palácio
do Planalto, com o presidente do país, notável especialista em compra de
parlamentares, à vista do que já aconteceu com o famigerado escândalo do mensalão,
que se queixou da lentidão do governo em liberar o dinheiro das emendas
prometidas para a provação da “PEC da transição”, ou seja, nesse caso, houve o
acerto de que é dando que se recebe, materializando a perfeita ação entre
corruptores e corruptos.
Também
é certo que a demora na liberação desses recursos propiciou a recente insatisfação
dos parlamentares venais, que endureceram contra a votação de projetos de
interesse do governo, que não teve outra alternativa senão a de reunir, em
caráter de emergência, os seus principais ministros e ordenar que o problema
fosse resolvido de forma rápida, conforme os resultados acima, com a liberação
de parcela da propina combinada com os desavergonhados parlamentares.
Outro
problema apontado pelos parlamentares, que ainda se encontra pendente das
negociatas, é a lentidão para a efetivação das nomeações, nos segundo e
terceiro escalões de órgãos públicos, em especial no âmbito dos estados.
Os
auxiliares do governo admitem, evidentemente confirmando as falcatruas e corrupções
envolvendo recursos, enormes dificuldades para o cumprimento de missão complicada
para resolução, diante dos imbróglios em torno das nomeações e da liberação das
emendas, em curto prazo, temendo ser decisivo e crucial para o governo, nas próximas
votações no Congresso, dando a entender que parlamentares somente votam depois
do recebimento das propinas combinadas.
Causa perplexidade a “honestidade” do governo em reconhecer a pouca-vergonha
tanto por parte dele, que tem o disparate de comprar votos no Congresso, como
dos parlamentares, que têm sim todo “direito” de endurecer quanto à aprovação
de projetos do Palácio do Planalto, caso demore o repasse dos recursos
envolvidos nas negociatas.
Nem
se pode dizer que nunca se viu tamanha imundície na vida pública, porque isso
nada mais, nada menos, é a repetição do deplorável esquema do mensalão, instituído
na primeira gestão do atual governo, cujo desonesto exemplo de nada,
absolutamente nada serviu para mostrar a imperiosa necessidade da observância
das normas republicanas da moralidade e da honestidade, na aplicação dos
recursos públicos, uma vez que os fatos se repetem em plena luz do dia.
À toda evidência, não poderia haver nada mais cristalino
no mundo da corrupção do que os fatos consumados entre as negociatas do governo
com o Congresso, por meio da mais puríssima clareza possível, mostrando a falta
de caráter público tanto por parte dele, que paga, por meio de verbas públicas,
constantes do orçamento, tudo devidamente registrado, a compra dos votos necessários
à provação de seus projetos, como dos desavergonhados e impudicos congressistas,
que negociaram a sua consciência política, em somente votar por dinheiro sujo,
conforme registram à luz solar o modus faciendi da absurda e indiscutível
corrupção.
Diante
de fatos estapafúrdios como esses, fica-se a imaginar a que mundo o Brasil
chegou e se encontra, quando há clara consciência sobre o estupro dos salutares
princípios fundamentais da moralidade, da probidade, da dignidade perante a sacrossanta
administração pública, em que as suas entranhas são devassadas às claras, mas
ninguém se apresenta para protegê-la da sanha dos aproveitadores e desonestos homens
públicos?
Enfim,
por andam, no presente momento tão aflitivo da história republicana brasileira,
o Ministério Público, a outra parte do Congresso, em especial a oposição aos
corruptos, a Justiça e os demais órgãos de controle e fiscalização da coisa
pública, que têm importante missão constitucional de zelar pelo patrimônio dos
brasileiros?
Também
é preciso se indagar onde estão os meios de comunicação, tão ciosos no importante
cumprimento do seu dever de informar e cobrar medidas moralizadoras das
autoridades públicas, como forma do oportuno registro, por fazer parte da história,
também os abusos na vida pública?
Por
fim, cadê os verdadeiros brasileiros que sumiram neste momento crucial da vida
político-administrativa do Brasil, quando ninguém aparece para repudiar, com
veemência, a mais vil agressão aos princípios republicanos de uma nação, que
queda indefesa diante da fúria desvairada dos ignóbeis homens públicos, quando
conseguem transformar a nação em terreno poluído de negociatas com dinheiro
público, em completo desrespeito à dignidade dos seus eleitores, pobres e
ignorantes, que nada exigem para o saneamento da podridão que se alastra
impunemente?
Brasília, em 5 de maio de 2023
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