segunda-feira, 15 de maio de 2023

Canonização?

 

Um importante jornalista escreveu texto muito especial, em que ele houve por bem colocar o último ex-presidente do país no altar somente possível para os santos, posto que ele entende no modo canonização para o político, dando a entender que ele teria alcançado o ápice do merecimento para se situar no Olimpo dos grandes políticos da história brasileira, certamente por entender que ele é realmente diferenciado e especial, na certeza de que o governo dele teria sido maravilhoso, conforme se pode perceber na visão só elogiosa do texto a seguir.

"Eu não queria dizer isso. Pode ferir sensibilidades, desmanchar castelos de areia, coisa e tal. Mas, que se dane. O fato, nu e cru, é que Bolsonaro vai sendo canonizado, imortalizado e santificado no altar máximo da glorificação histórica. Nem Churchil, nem Roosevelt, nem Nelson Mandela chegaram perto dessa dimensão. E essa consagração é insuspeita: não há maior Prêmio nem maior Insígnia do que ser perseguido e caçado com este nível de violência pelo aparelhamento judicial e financeiro em uníssono, com o auxílio de toda a imprensa e dos serviços de ‘inteligência’ nacionais e estrangeiros. É o maior reconhecimento de uma vida que teve um sentido maior, léguas de distância do que a maioria de nós poderia sonhar. Nem todos os títulos honoris causa do mundo juntos equivalem a essa deferência: ser perseguido por gente do sistema, por representantes máximos do capital, da normatização social e da covardia intelectual, gente que pertence ao lado comunista da história, o lado negro da Bestialidade Socialista. Não há Prêmio Nobel que possa simbolizar a atuação patriótica de Bolsonaro no mundo, nem todos os títulos que Bolsonaro de fato ganhou ou recusou (a lista é imensa, uma das maiores do mundo). Porque a honraria mesmo que se desenha é esta em curso: ser o alvo máximo do ódio de classe e o alvo máximo do pânico democrático que tem fobia a voto. Habitar 24 horas por dia a mente desértica dos inimigos da pátria e povoar quase a totalidade do noticiário político de um país durante 33 anos, dando significado a toda e qualquer movimentação social na direção de mais direitos e mais soberania, acreditem, não é pouco. Talvez, não haja prêmio maior no mundo porque Bolsonaro é, ele mesmo, o prêmio. É ele que todos querem, para o bem ou para o mal. É o líder-fetiche, a rocha que ninguém quebra, o troféu, a origem, a voz inaugural, que carrega as marcas da história no timbre e na gramática. Há de se agradecer essa grande homenagem histórica que o Brasil vem fazendo com extremo esmero a este cidadão do mundo. Ele poderia ter sido esquecido, como FHC. Mas, não. Caminha para a eternidade, para o Olimpo, não dos mártires, mas dos homens que lutam e fazem valer sua vida em toda a  dimensão espiritual e humana.".

A princípio, é preciso respeitar a livre manifestação de pensamento, no âmbito do sagrado direito ínsito da liberdade de expressão, em que todos estão à vontade para se manifestarem segundo a compreensão sobre os fatos da vida, como no caso do inteligente articulista, que enxerga só bondade no desempenho do ex-presidente brasileiro, mas a inteligência dele já acena para as divergências das pessoas, o que é bastante natural, nas circunstâncias.  

A meu juízo, nem precisa de muita experiência para se perceber o enorme esforço do articulista para escrever longo texto com a tentativa somente de enaltecer a grandeza de político que até pode ter alguma expressão, mas apenas no âmbito dos seus fantásticos seguidores.

O jornalista chega-se ao absurdo da afirmação, sem base alguma, fazendo referência à desarrazoada cogitação de canonização do político, quando isso somente será possível no restrito seio de seus fiéis seguidores, que conseguem enxergar a realização de algo excepcional na vida política e no governo dele, quando se busca o verdadeiro legado dele, como arrimo comparativo, mas, quais obras, quais realizações palpáveis?

É preciso se refutar, com veemência, essa absurda ideia que foi construída sobre político que teria sido “perseguido e caçado com este nível de violência pelo aparelhamento judicial e financeiro em uníssono, com o auxílio de toda a imprensa e dos serviços de ‘inteligência’ nacionais e estrangeiros.”, cujo texto não passa de balela e conversa sem fundamento, diante do mero artificialismo imaginado para transformá-lo em pessoa perseguida e vítima do sistema antagonista ao seu governo, quando não existe absolutamente nada que possa ratificar essa premissa.

Ademais, quem era o presidente do país tinha poderes suficientes para rechaçar todas as artimanhas contra o seu governo, bastando não ter aceitado as provocações, os insultos e as agressões, por meio de atos de contestação à altura deles, com o uso dos mecanismos apropriados, inclusive na via judicial, se necessário, de modo que ele mostrasse a verdade sobre a sua gestão e jamais tivesse caído na tolice de ter ficado trocando insultos e agressões com quem era simplesmente inferior à autoridade atribuída a ele.

Convém frisar que essa esdrúxula história de perseguição ao governo se harmonizava perfeitamente com a conveniência política do ex-presidente, de se envolver propositadamente com quem o criticava, para alegar que ele era alvo de vitimização, fazendo com que muitos fanáticos dele, que ainda são bastantes, acreditassem que ele nem podia governar, o que não existe nada nesse sentido, senão a criação dessa ideia absurda e inadmissível, na tentativa de justificar nítida incompetência administrativa.

Conforme se pode perceber, facilmente, essa ideia imaginária, evidentemente por não haver nada plausível para comprová-la, não passa de armação do interesse do próprio ex-presidente, para transformá-lo em vítima do sistema, bastando apenas ele empregar a inteligência e a competência, que eram atributos inexistentes no governo dele, à vista da criação de ideias sem o menor fundamento, como essa de perseguição política.

Tanto essa assertiva tem fundo de verdade que o ex-presidente foi derrotado por pessoa mais desprezível e desqualificada da política brasileira, à vista da vinculação dela com o submundo da criminalidade, assim atestado pela Justiça, o que bem demonstra a insignificância do ex-presidente, em termos políticos.

A verdade é que o texto se torna incrivelmente questionável, em razão de nada mencionar sobre o deplorável relacionamento do ex-presidente com a banda decomposta da política brasileira, o grupo famoso por aderência dele ao arraigado fisiologismo, na vida pública, conhecido pelo nome de Centrão ou simplesmente velha política.

Esse recriminável grupo já havia sido abominado pelo ex-presidente, evidentemente na campanha eleitoral de 2018, quando ele garantia distância dele, por princípios de ética e moralidade, mas a sua terrível queda de desvio de conduta, depois da potencial ameaça de impeachment do cargo, logo no início do governo, o levou para dentro do Palácio do Planalto, a quem deu cargos e emendas parlamentares, inclusive, pasmem, as chaves de orçamentos, especialmente o secreto, que foi criado, no curso do governo do ex-presidente, para a compra da consciência de parlamentares, logo com a precisa cumplicidade de quem merece ser canonizado, segundo o articulista.

Ainda convém assinalar que o nobre jornalista cometeu excepcional lapso de nada ressaltar sobre as terríveis atrapalhadas do ex-presidente, na condução do combate à Covid-19, quando ele teve desempenho apenas lastimável, em que se metia em todos os assuntos, sem ter conhecimento nas áreas da medicina e do sanitarismo, mas ele foi capaz de contrariar as orientações emanadas do próprio governo, tendo participado diretamente na compra das vacinas, cuja imunização da população sofreu atraso de quase um mês, por conta dessa indevida interferência, enquanto morriam milhares de brasileiros, infectados pela Covid.

O certo é que o desastroso desempenho do ex-presidente, no combate à pandemia do coronavírus, foi tão prejudicial à vida dos brasileiros que ele foi cognominado o negacionista, por se opor à própria existência do vírus, além de ter nomeado pessoa sem qualificação apropriada para chefiar o órgão incumbido das políticas de saúde pública do governo.  

Enfim, ao contrário do que diz o texto acima, trata-se de político insensato, insensível, inclusive, aproveitador, sem ideias, sem iniciativas, medroso, pusilânime, falastrão, populista, caudilhesco, que somente pensa no próprio umbigo e nos seus projetos políticos, em detrimento das causas nacionais.

A prova de todos esses atributos negativos ficou patenteado na sua falta de iniciativas e de desempenho nos seus últimos sessenta dias de governo, quando ele elegeu o silêncio sepulcral como blindagem para se esconder de seus eleitores, de forma mais descortês e desrespeitosa imaginável para o verdadeiro homem público, que tem o dever de ser fiel até a morte aos seus apoiadores.

Para piorar a imagem nada santa do homem canonizável, ele não deu nem psiu para a multidão que se expôs em frente dos quartéis do Exército, sob chuvas, sol, intempéries e toda sorte de desconforto, implorando por algo que fosse possível materializar a intervenção militar, que poderia ter salvado o Brasil das garras dos políticos das trevas, que apoderaram do poder, quando os militares poderiam, antes, ter verificado a regularidade das urnas eletrônicas, cujo acesso aos “códigos-fontes” foi negado a eles.   

 O certo é que, nas circunstâncias, era imprescindível a decretação da intervenção militar, pelo presidente da República, mas ele simplesmente se fez de mouco, não ouviu ninguém, não decretou coisa alguma, não justificou sequer minimamente, como era do seu dever de homem público, e ainda teve a insanidade de abandonar o cargo antes do término do mandato dele, tendo fugido para outro país, com medo de ser preso, como fazem os covardes que não assumem os seus atos, na vida pública.

A verdade é que não existe prêmio Nobel para político desqualificado, que se mostrou, no final do seu mandato tudo ao contrário do que foi descrito no texto em tela, que coloca o ex-presidente no Olimpo dos políticos, como se ele tivesse sido um deles, quando ele somente conseguiu, à toda evidência, ser, a um só tempo, omisso, incompetente, despreparado, desrespeitoso, medroso e principalmente antipatriota, por ter ficado calado pelo resto do mandato, quando ele sempre se houve o mais explícito possível, em todos os momentos anteriores às eleições, e deixado de decretar a intervenção militar.

À toda evidência, essa medida excepcional, que tinha amparo constitucional, certamente poderia ter salva o Brasil da desgraça que se encontra no presente momento, quando ele vem sendo governado por grupo político com aderência aos esquemas contrários à honestidade e retidão, na administração pública, conforme mostram os registros da história republicana.

É bastante lamentável que os brasileiros não tenham a necessária consciência para enxergar a realidade dos fatos, de forma verdadeira, preferindo vê-la apenas sob a sua ótica ou por meio de floreios de textos que têm o poder de encantar os seus olhos, mas, infelizmente, eles não condizem com o que realmente mostraram os acontecimentos da história.

Enfim, enquanto a miopia persistir nos brasileiros e estiver a serviço de quem escreve muito bem e diz exatamente o que bem quiser, evidentemente no interesse do próprio ego, tendo os aplausos de outros brasileiros com a mesma mentalidade, nunca haverá mudanças na República tupiniquim, em benefício da verdade e do desenvolvimento socioeconômico.

Brasília, em 15 de maio de 2023

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