sexta-feira, 19 de maio de 2023

Golpe contra a moralidade?

 

O presidente da Câmara dos Deputados afirmou que a cassação do mandato do deputado federal do Paraná será analisada pela Corregedoria da Casa, procedimento padrão previsto no regimento interno.

O Corregedor Parlamentar afirmou que a entidade analisará “apenas os aspectos formais da decisão” da Justiça Eleitoral, cabendo à Mesa Diretora da Câmara a declaração da perda do mandato.

Aquele órgão declarou que “Toda a instrução processual se dá observando-se rigorosamente os princípios do contraditório, da ampla defesa, do devido processo legal e da imparcialidade”.

Por seu turno, o presidente da Câmara disse que “A Mesa seguirá o que determina esse ato: a Câmara tem que ser citada, a Mesa informará ao corregedor, o corregedor vai dar um prazo ao deputado, o deputado faz sua defesa e sucessivamente”.

De acordo com o presidente da Câmara, o caso do mencionado deputado será observado o disposto no Ato da Mesa 37/2009, que dispõe sobre os procedimentos aplicáveis aos processos relacionados com a perda de mandato.

A Mesa Diretora esclarece que os deputados cassados pela Justiça Eleitoral têm direito à “ampla defesa” na Câmara, na forma assegurada na Constituição Federal, observados os prazos regimentais.

Em que pese a decisão da Justiça Eleitoral, o ex-procurador é obrigado a devolver logo “a carteira funcional, a chave do gabinete, o broche de parlamentar e a assessoria”, dando a entender que não há salvação para o mandato dele, mesmo diante a possibilidade do processo, na forma do aludido ato, que tem finalidade meramente formal, para se confirmar a cassação, em absoluta perda de tempo.

Apesar desse entendimento, a oposição vem se articulando para a inclusão, na Proposta de Emenda à Constituição da anistia aos partidos políticos, de medida pertinente, na tentativa de salvar o mando do ex-procurador.

A ideia de parlamentares é no sentido de adicionar emenda para assegurar que as decisões da Justiça Eleitoral, referentes à perda de mandato parlamentar, tenham que ser aprovadas, obrigatoriamente, pela Câmara e pelo Senado.

Partidos se uniram para aprovar a PEC que isenta legendas e políticos punidos e multados por crimes eleitorais e na prestação regular de contas dos recursos do Fundo Partidário e do fundo especial de campanhas de 2015 a 2022.

A decisão da Justiça Eleitoral, que cassou o mandato do ex-procurador, teve por base a Lei da Ficha Limpa, onde consta dispositivo estabelecendo que são inelegíveis, por oito anos, ex-magistrados e ex-integrantes do Ministério Público que “tenham pedido exoneração ou aposentadoria voluntária na pendência de processo administrativo disciplinar”, que foi o caso do ex-deputado, que respondia a sindicâncias no Conselho Nacional da Magistratura Pública.

O ex-deputado disse, em face da decisão da Justiça Eleitoral, até mesmo como desabafo de sentimentos, que “Perdi o meu mandato porque combati a corrupção. Hoje, é um dia de festa para os corruptos”.

Sob o prisma da moralidade e da dignidade na gestão dos recursos públicos, a cassação do ex-procurador significa enorme prejuízo para os trabalhos do Legislativo, considerando que ele foi eleito justamente em razão do desempenho dele contra os esquemas criminosos de corrupção que foram implantados no Brasil, na certeza de que ele seria um dos grandes defensores da moralização da administração pública.

Por seu turno, o afastamento desse importante brasileiro tem o condão de fragilizar ainda mais o combate à corrupção e à impunidade, tanto que, não à toa, os políticos das trevas, os amantes da corrupção e dos demais esquemas criminosos e de desonestidade contra a administração pública festejaram, com efusividade, a decisão da Justiça Eleitoral, em demonstração do seu regozijo pelo afastamento de quem foi realmente paladino da moralidade na gestão dos recursos públicos.

Os brasileiros estão diante de verdadeiro paradoxo, em que o confronto entre a moralidade e a desonestidade sagrou-se vitoriosa a parte que defende a banalização da corrupção e da impunidade na vida pública, o que bem demonstra a verdadeira consciência política de um povo, que menospreza os comezinhos princípios da honestidade e da dignidade na administração pública, quando ele não tem o menor escrúpulo em votar e eleger políticos que ainda se vangloriam com o afastamento do cargo de deputado federal de quem defende a integridade do patrimônio dos brasileiros.

Não há a menor dúvida de que os brasileiros precisam evoluir, em termos de consciência política, uma vez que a sua aderência, de forma espontânea, como visto nas últimas eleições, à prática da desonestidade e da impunidade mostra nítida involução de civismo e patriotismo, em detrimento dos valores e da grandeza do Brasil.  

A verdade é que, ao dispor do ex-procurador, ainda restam recursos constitucionais junto ao Tribunal Eleitoral, à Câmara dos Deputados e ao Supremo Tribunal Federal, mas as esperanças de sucesso nesses pleitos são bastantes reduzidas, exatamente porque ele se transformou em figura exponencial que combateu, com unhas e dentes, a corrupção e a impunidade, no Brasil.

Esse fato implica nada mais, nada menos, do que ele ter o poder e o sistema dominante contra às suas pretensões, quando ele está sozinho em trincheira absolutamente sob o domínio da banda decomposta dos políticos brasileiros e dos grupos que lhe dão sustentação, sendo que estes são os donos das decisões determinantes.

Enfim, mesmo que surjam algumas vozes na defesa do ex-deputado, em forma de solidariedade, como de fato têm acontecido, elas certamente são totalmente incapazes de reverter a difícil situação dele, uma vez que o poder da classe dominante é muito poderoso, cujo instinto tem sido de muita união em avidez pela vingança, conforme mostram os fatos.

Brasília, em 19 de maio de 2023

Nenhum comentário:

Postar um comentário