quarta-feira, 17 de maio de 2023

Desprezível?

 

Conforme imagem mostrada nas redes sociais, aparecem os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica fazendo continência para o presidente do país, por ocasião das comemorações do Dia do Exército.

Com absoluta certeza, nunca se viu, na história universal, episódio com o mais desprezível e deprimente sentimento imanente da dignidade humana, à vista da clara abdicação dos valores e dos princípios próprios de corporação militar, quando sempre houve distinta dicotomia entre a dignidade e a imoralidade, o respeito às normas da honradez e o menosprezo às regras da desonestidade.

Quem poderia imaginar essa situação de extrema patetice, em que, pasmem, vários oficiais generais se perfilam, em posição de sentido e batem continência para a autoridade do poder em plena decadência moral, diante do seu notório histórico de envolvimento com declarados pela Justiça de esquemas criminosos, no caso específicos dos escândalos do mensalão e do petrolão, ocorridos no governo dele, quando ele chegou a ser condenado à prisão, pela prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, por recebimento de propinas, quando ele foi incapaz de provar a sua inocência.

Sim, pode-se até se alegar que as condenações foram anuladas, mas os atos propriamente delituosos, que caracterizaram os crimes em si, permaneceram intactos, com plena validade para o mundo jurídico.

Esse fato, que é real, tem o condão de mostrar a que ponto oficiais de altíssima patente estrelada se curvam ao extremo desrespeito não apenas à sua dignidade como ser humano, mas ao menosprezo à grandeza e aos valores ínsitos do Exército, que merecia o respeito e a honra sobretudo no que se refere à instituição militar, diante do quanto ele representa como símbolo de ética, moralidade e dignidade como corporação secular.

Os referidos princípios sempre foram preservados e defendidos como razão da própria honra não só do Exército, mas também de todos os militares que fazem parte da instituição que agora tem seus ensinamentos jogados literalmente na lama pútrida da banalidade da imortalidade, quando seus principais representantes se curvam diante de autoridade pública que é autêntico símbolo da desonestidade e da aderência a esquema criminoso, assim atestado pela Justiça brasileira, à vista de muitos de seus julgamentos.

Na verdade, a imagem que esses oficiais generais passam para a sociedade é a pior e a mais degradante possível, em evidente demonstração da total perda da consciência cívica e patriótica deles, quando eles se colocam em condições de inferioridade de quem não teve capacidade sequer para provar a sua inocência quanto às denúncias sobre a prática de atos criminosos contra a administração pública.

Esse fato mostra total desmoralização da instituição chamada Exército, posto que é o mesmo que se afirmar a normal aceitação como sendo legítima a prática da desonestidade na gestão pública, de modo que as continências têm o condão de convalidar a criminalidade havida no passado, como igualmente a natural interpretação de que a posição de sentido confirma a cumplicidade dos militares com os atos de delinquência, porque é exatamente essa a interpretação que se faz no mundo jurídico, diante da passividade como eles estão sendo aceitos.

Enfim, é com muita tristeza patriótica que a instituição antes respeitadíssima por seu caráter de merecidos atributos seculares de honra e altivez seja reduzida à insensibilidade e à insignificância de permitir que seus principais representantes batam continência para autoridade desprezível do poder, em termos de moralidade, à luz da sua condição degradante perante a Justiça brasileira, onde ele responde a processos com finalidades persecutórias criminais e penais.

 

Brasília, em 17 de maio de 2023

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