O
presidente da República voltou a convocar seus apoiadores a saírem às ruas, no
dia 7 de setembro, quando se celebram os 200 anos da Independência do Brasil,
com a finalidade de protestarem em defesa das liberdades democráticas.
Em
discurso inflamado, o chefe do Executivo repetiu ataques a governadores e magistrados,
ao dizer que o país tem hoje “uma das gasolinas mais baratas do mundo”,
aproveitando o ensejo para acenar para o eleitorado conservador.
O presidente
do país disse que “Temos algo tão ou mais importante que a própria vida: a
nossa liberdade. E a grande demonstração disso, eu peço a vocês, que seja
explicitada no próximo dia 7 de setembro. Estarei às 10 horas da manhã em
Brasília, num grande desfile militar, e às 16 horas, em Copacabana, no Rio de
Janeiro”.
O chefe
do Executivo vem se esforçando para a maior mobilização possível da sua base de
seguidores, para a realização de atos de protestos no 7 de setembro, a menos de
um mês do primeiro turno das eleições presidenciais.
A grande
polêmica tem sido mesmo por conta da disputa entre o presidente da República e
o prefeito do Rio de Janeiro, em que o mandatário afirmou que o desfile militar
da Independência realizar-se-á em Copacabana, mas o prefeito daquela cidade confirmou
que a parada militar será na Avenida Presidente Vargas, como ocorre
tradicionalmente todos os anos.
Na
tentativa de justificar a convocação para os protestos, o presidente do país
afirmou que “Esse movimento não é político. Esse movimento não é de A, nem
de B, nem de C. É um movimento do povo brasileiro, que não abre mão da sua
liberdade, que defende liberdade, a sua democracia e também de todos aqui no
Brasil”.
Enquanto
o chefe do Executivo convoca o povo para as manifestações nas ruas, outras
autoridades estão preocupadas, tentando acalmar os ânimos da população, que não
pode entrar no clima de tensão alimentado pelo presidente do país.
O
presidente do Senado Federal disse que espera que os atos de 7 de setembro
sejam “ordeiros, pacíficos e respeitosos às instituições”, enquanto o
presidente da Câmara dos Deputados, que é aliado do Chefe do Executivo, declarou
que a celebração em causa tem que ser “festa linda, cívica e tranquila, sem
ameaças.”, ou seja, as autoridades da República estão torcendo para que
tudo transcorra em clima da maior tranquilidade.
Apenas
para relembrar, no 7 de setembro do ano passado, o chefe do Executivo também fez
convocação e foi nas manifestações antidemocráticas, em Brasília e São Paulo, e
chegou a afirmar, em público, que não mais obedeceria a decisões de um ministro
do Supremo Tribunal Federal, tendo contribuído para potencializar a temperatura
da crise institucional entre poderes da República, que logo foi minimizada com a
carta pública de recuo estratégico, divulgada pelo presidente do país e escrita
pelo seu antecessor no cargo, que serviu de interveniente nas negociações para
a paz apenas de momento.
Em país com o mínimo de seriedades política e democrática, não tem o
menor cabimento o presidente da República ficar, de forma permanente, incitando
o povo a participar de movimento de protestos, não importando a sua motivação, por
mais importante que ela seja.
No caso específico, não tem a menor sustentação a alegação do chefe do
Executivo de que “É um movimento do povo brasileiro, que não abre mão
da sua liberdade, que defende liberdade, a sua democracia e também de todos
aqui no Brasil.”, notadamente porque somente tem cabimento se defender
algo que foi perdido ou que esteja seriamente sendo ameaçado de perda.
No caso
específico, não existe nada, absolutamente nada que indique, de maneira comprovada,
nem vestígio de que isso possa ocorrer, salvo os fantasmas criados pelo
mandatário, que abdicou da sua autoridade presidencial para se amedrontar quanto
à atuação de ministros do Supremo, mostrando todas as suas fraqueza e
incompetência gerenciais.
A verdade
é que essa convocação evidencia o estado de ânimo de impotência e de
inabilidade do presidente para lidar com situações adversas, que poderiam ser
conduzidas exclusivamente por meio do diálogo, do entendimento e da convergência,
tendo em conta os interesses maiores do Brasil, conquanto nada disso aconteceu
e o resultado é esse disparate que está aí, em forma de desequilíbrio emocional
e gerencial, contando, de forma melancólica, com a participação do povo, que
serve de massa de manobra, para satisfazer o ego da insensibilidade administrativa.
Isso mostra
a urgente necessidade da conscientização cívico-política sobre o respeito à
realidade democrática, conquanto não existe causa alguma a justificar a convocação
presidencial para o povo sair às ruas, para o simples protesto sobre o nada,
quando todas as formas de liberdades, quer individuais ou democráticas, estão
disponíveis e em plena pujança, salvo para quem tem procurado se indispor, sob
a forma de agressões verbais, com ministros do Supremo, fato este que é considerado
exceção, que não tem o menor cabimento para utilizá-lo em forma de generalização,
porque os fatos não se encaixam.
Além dessa
brutal incoerência de mentalidade política, o presidente do país comete gravíssimo
desvio de civilidade, ao desvirtuar as comemorações do importante evento que significa
a Independência do Brasil, que passa a ser substituído por mobilização de
protestos, movimento este que poderia ser realizado em qualquer outra data, caso
realmente houvesse necessidade disso, justamente para não anuviar a importância
da verdadeira festa secular da pátria amada, Brasil.
Convém
que os brasileiros, no âmbito da sua responsabilidade cívica e patriótica, repudiem,
com rigor, os indevidos atos de convocação de protestos absolutamente
desnecessários, ante a inexistência de motivação plausível para tanto, uma vez
que todas as liberdades estão em plena vigência no Brasil, não justificando tamanha
insensatez.
Brasília, em 8 de agosto de 2022
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