quarta-feira, 3 de agosto de 2022

O império da verdade?

 

Em vídeo que circula nas redes sociais, um entusiasta bolsonarista insinua que o presidente da República poderá tomar medidas severas contra ministro do Supremo Tribunal Federal, uma vez que, recentemente, as relações entre ambos se agravaram bastantes, em razão de notícia de que a corte poderá decretar a prisão de um deputado que foi indultado por ele.

Diante dessa informação, eu disse que estranhava a existência de mentes férteis e desocupadas, porque, se o presidente do país tivesse coragem para alguma coisa, ele já teria feito algo nesse sentido, há muito tempo.

Uma distinta amiga, lendo minha conclusão, disse o seguinte: “Adalmir, isso aconteceria caso o STF derrubasse o Decreto do indulto. Que eu saiba, isso não aconteceu. Eu não apostaria que o Presidente não tem coragem para alguma medida extrema. Só o tempo dirá.”.      

          Em resposta, eu disse que os fatos são pródigos em mostrar que o presidente do país só tem conversa fiada.

Se ele estivesse querendo resolver essa gravíssima questão envolvendo o Supremo, ele já teria colocado ponto final nela e jamais ter ficado esticando a corda, esperando pelo movimento de 7 de setembro, do mesmo modo como aconteceu no ano passado e depois ele deu para traz e se desculpou perante o ministro, pedindo perdão a ele e depois repetiu todas as bobagens de antes, além de endereçar carta a nação, que nem foram cumpridos os seus termos.

Acho que ele é fraco sim, com base nos exemplos e nas conversas moles dele, que até agora não resultaram em nada, senão para agravar ainda as relações entre poderes da República.

Agora, o que ele fará daqui para frente poderá ter muito a ver com o desenrolar do processo eleitoral, porque ele precisa avaliar bastante os reflexos de decisão golpista, se for essa que ele vier a adotar, que eu achei que ele é doído, mas tem juízo, e não vai correr o risco de perder a reeleição por causa de decisão maluca, qualquer que ela seja, porque o impacto nas estruturas da República será apenas abissal, em especial, pelo fato da  proximidade da eleição presidencial.

Não restaria tempo algum para se tentar arrumar os cacos, em caso de decisão desastrosa e golpista, para se buscar os rumos da verdadeira democracia, que teria sido mandada para o espaço sideral por ele.

Diante das circunstâncias, tudo vai ficar nas ameaças de sempre, com o Supremo dando as cartas e o presidente do país permanecendo acuado, sem coragem para agir, como é do seu feitio, embora os seguidores fanáticos dele ainda acreditam que ele é o salvador da pátria, sem nunca ter demonstrado senão atitude firme para criticar e agredir com palavras, porque, para isso, ele já demonstrou que é o rei do  Planalto.

Torço para que as minhas palavras estejam completamente equivocadas, diante da crise que foi criada exclusivamente pelo presidente da República, porque ele permitiu que o Supremo criasse asas e se tornasse verdadeiro dragão em cima dele, que foi permitido, a partir do momento de ele ter aproveitado as ingerências da corte sobre o Executivo, para simplesmente se fazer de vítima e de injustiçado, ao invés de rebater, todas as vezes, por meio de recursos à altura das interferências ao governo, mostrando os abusos de autoridade, não permitindo qualquer tipo de medida fora da Constituição.

Como essa história é longa e não tem fim, paro por aqui.      

A mencionada amiga me retrucou, afirmando o seguinte: “Querido Adalmir, você torce para que suas palavras estejam equivocadas… eu, com todo respeito, tenho certeza de que estão.  Bolsonaro está fazendo de tudo para não comprar briga com ninguém, ele só quer poder governar, como tem feito muito bem até agora. Só o fato de ter um Ministério só com pessoas técnicas e competentes, para mim já basta. Ele nem precisa falar bonito, pode até criticar e agredir verbalmente, como faz por vez ou outra, porque, convenhamos, ninguém é de ferro. Só levar pauladas e mentiras a seu respeito e ficar calado, aí sim que deveríamos ficar preocupados. O importante são as obras que estão fazendo, estradas, pontes, levar água para o nordeste, fazer crescer nossa economia, ter bom relacionamento com os países poderosos… Daí vem o Lula (e a Tebet) e diz que nenhum país está querendo recebê-lo… me poupe… e tem gente que acredita. Mente descaradamente, na maior cara de pau.”.     

Em seguida, respondi à mensagem acima, dizendo que o estadista dela é diferente do meu, posto que o meu estadista jamais precisa discutir com ninguém, apenas com o propósito de se manter em evidência na mídia.

Ele até pode ser agredido, mas a resposta não é em público, mas sim pela via institucional.

Somente nas piores republiquetas o estadista fica em cercado comentando os fatos da República, como forma de animar a plateia entusiástica.

Eu disse que a amiga estava certíssima com as convicções dela e eu jamais ousaria afirmar que ela estava equivocada, porque a verdade dela a leva a pensar exatamente como ela escreveu e ninguém pode tirar isso do íntimo dela.

O mesmo eu digo do que penso, que é a minha verdade e não é justo que ninguém ouse afirmar que eu estou equivocado, porque isso demonstra falta de respeito ao pensamento às pessoas, em afronta à salutar liberdade de expressão.

As pessoas têm todo direito de achar que o presidente do país é o melhor governo do mundo.

Tudo bem, porque isso é o direito delas de pensarem assim e da sua maneira que bem lhe convier.

Agora, o mesmo direito tem outras pessoas para entenderem diferentemente, não que isso queira dizer que aquelas pessoas estejam equivocadas, porque ninguém tem direito de concluir sobre o pensamento de outrem.

Por fim, eu disse que a minha primeira conclusão teve como cerne possível adoção de medida golpista, sem entrar no mérito de outras questões de governo, porque isso são outros quinhentos, principalmente porque ninguém se elege para não realizar o mínimo possível, como, aliás, vem fazendo o atual governo, que tem sido incapaz de promover reformas estruturais e conjunturais do Estado, ficando apenas em pequenas atividades, sem os ansiados impactos desenvolvimentistas.

Não satisfeita com as minhas explanações, o distinta amiga me disse o seguinte: “Adalmir, só ousei em afirmar que você estava equivocado simplesmente porque você disse ‘torço para que minhas palavras estejam completamente equivocadas…’. Jamais tive a intenção de faltar com o respeito ao seu pensamento. Não faz parte da minha índole. Desculpe se o ofendi. Boa noite.”.        

Imediatamente, a respondi, dizendo que torcia, o que isso significa futuro, mas ela disse que tinha certeza de que eu estava equivocado, o que é bem diferente do meu pensamento.

Sim, é verdade que eu a conheço muito bem e sei que a índole dela é realmente de muito respeito às pessoas, mas neste caso eu jamais iria dizer que tinha certeza de que alguém esteja equivocado.

As minhas ilações, até aqui, são com base em fatos já acontecidos no governo.

Se eu disse que torço para meu equívoco, é no sentido de que o presidente convoque o povo, tenha o apoio e faço o que ele achar que é certo e não mais se acovarde como ele fez no ano passado, frustrando o povo que foi enganado, indo em massa para as ruas e ele terminou fazendo aquele papelão de beijar as mãos do ministro desafeto dele, tendo assinado carta mentirosa, dizendo um monte de inverdades, porque o conteúdo dela nunca foi cumprido.

Meu equívoco é quanto ao porvir, porque eu disse, com base em fatos concretos, que o presidente já demonstrou que não tem coragem e dei o exemplo do que houve no setembro passado, porque os fatos estão se repetindo, agora, iguaizinhos, em tudo, como naquele caso.

Enfim, amiga, me desculpe se eu apenas procurei defender a minha verdade, como é do seu direito também de defender a sua verdade e asseguro que me equivoque, ao dizer que o presidente  não tem coragem, porque se ele tivesse mesmo, jamais ele iria esperar por mais um mês, ainda em 7 de setembro, para reunir multidão, para fazer o que é preciso ser sob urgência, quando o circo pega fogo há muito tempo?

Com o meu respeito, amiga.

Na mesma linha da amiga mencionada acima, outra preferencial amiga também houve por bem discordar da minha interpretação sobre a atitude do presidente do  país, ao afirmar que “Não concordo com a sua opinião. Acho que o Presidente tem coragem de sobra, e só espera o momento certo para não significar ‘Golpe.’. Por muito menos já utilizaram o termo ‘gópi’. É o povo em massa nas ruas, e depois aguardar. Confiemos!”.

Em resposta, eu disse que ela tinha total direito de entender como bem quisesse, inclusive de dizer que o presidente tem coragem.

É pena que as pessoas se esqueceram do 7 de setembro do ano passado, quando o presidente do país pediu que o povo fosse às ruas, porque ele faria o que o povo quisesse e o povo disse, muito claro e em bom som, que ele fechasse o Supremo Tribunal Federal.

Pois bem, ele participou dos eventos em Brasília e São Paulo e jurou que não mais cumpriria decisão de um ministro da corte e o mundo inteiro teve conhecimento dessa fantasiosa história.

No dia seguinte, ele pediu arrego ao ministro, ligou para ele, três vezes, disse que tinha se equivocado e jurou, por carta à nação, a agir com correção, dali para a frente, mas logo quebrou o compromisso e voltou aos erros de sempre, por meio de críticas e agressões.

Ou seja, ele disse que faria o que o povo quisesse, só que fez exatamente o contrário, mostrando os verdadeiros atributos de homem corajoso, ao contrário, como pensam seus fiéis seguidores.

O pior de tudo isso é que ele, até hoje, não se dignou a esclarecer as razões pelas quais ele ter frustrado às expectativas do povo, que acreditava no golpe do fechamento do Supremo, porque isso fazia parte do plano: “de fazer o que o povo quisesse”.

Esse é só um exemplo de homem "corajoso", que voltou atrás, naquele 7 de setembro, porque foi ameaçado de impeachment pelo Centrão.

Agora, os mesmos fatos vêm à baila e a pessoa que vai decidir é a mesma,  a depender, evidentemente, da sua bravura de herói nacional.

Espero que eu me equivoque, nas minhas conclusões, que estão alicerçadas em fatos do passado, conforme a descrição feita acima.

Em síntese, os fatos mostram, com muita propriedade, visível desrespeito à opinião das pessoas que têm pensamento contrário a determinada ideologia, cujos seguidores não aceitam opinião divergente, mesmo que os fatos acenem precisamente para a consistência das afirmações.

É preciso que as pessoas respeitem mutuamente as ideias, em especial, no que diz respeito às atividades políticas, porque estas se destinam à serventia do interesse público, com embargo de preferências partidárias, à vista do direito universal da liberdade de expressão, que é assegurado constitucionalmente aos brasileiros, que precisam exercê-lo na sua plenitude, como forma de aperfeiçoamento dos princípios democráticos.    

Brasília, em 3 de agosto de 2022

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