Em vídeo
que circula nas redes sociais, um cidadão faz veemente apelo ao povo para não
comprar nas lojas Renner, sob a justificativa de que o dono dessa empresa
assinou o manifesto a favor da democracia, que tem por objeto atingir o
presidente da República.
Ou seja,
o objetivo do aludido apelo é uma forma de represália ao empresário, por ele
ter aderido à manifestação conhecida como documento a favor da democracia, que
queira ou não, é forma natural do exercício de cidadania, sob o prisma dos
princípios democráticos com aderência primária nas liberdades de pensamento e
expressão, que tanto os bolsonaristas vêm reclamando que querem tirá-los deles.
No popular, esse é o apelo que pode ser considerado
de dois gumes, em que se pretende a formalização de revide, de autêntica
represália ao proprietário das lojas Renner, por ele ter sido signatário da
carta conhecida como apelo à defesa da democracia, que até parece fazer algum
sentido medida nesse sentido, notadamente em especial por parte dos fiéis
seguidores do presidente da República, como caracterização clara de explícita
desforra, que mostra o perverso sentimento originário das ideologias afloradas
na atualidade, convertidas em agressões mútuas, que não levam a lugar algum, em
termos de civilidade.
Essa
verdade se contrapõe ao princípio democrático das liberdades de pensamento e de
expressão, que os bolsonaristas se insurgem quando isso vem da esquerda, que
tem já se tornou exemplo de apelação contra tudo.
Agora, à
toda evidência, isso, por si só, já é muitíssimo grave, à vista de ir na
contramão da imperiosa necessidade do aperfeiçoamento democrático, porém
trata-se de sentimento mais do que patético, por ser apelo com viés de maior
seriedade, porque ele diz com pretensão que pode levar à drástica diminuição
das vendas da Renner, com possibilidade do surgimento de duas consequências
vitais.
Uma delas
é a ocorrência da necessidade do enxugamento do quadro de pessoal, que pode
afetar o pão nosso de cada dia de muitas famílias, além da normal redução da
arrecadação tributária dos governos, cujo reflexo é direto na prestação dos
serviços da incumbência da União, dos estados e municípios, que dizem
diretamente com a satisfação das necessidades básicas da população.
É preciso
se pensar que seja normal e até justo se querer fazer justiça com as próprias
mãos, como tem sido a diminuta e retrógrada mentalidade ideológica dos últimos
tempos, mas é da maior importância que isso não possa prejudicar direta ou
indiretamente quem não tem nada com a questão em si, como é o caso em comento,
em que é imaginada medida para dar lição de comportamento, para prejudicar
determinada pessoa, que age no seu direito de manifestação cívica, conquanto o
efeito dela pode atingir, também de forma danosa sobre situações, com graves prejuízos
para a sociedade.
É
preferível que o pretendido justiçamento seja feito por meio de medida que
sirva de lição para quem somente possa ser merecedor de desprezo, castigo ou
algo que o valha, segundo o pensamento de seu idealizador, mas também que essa
lição seja extensiva para todos os participantes do manifesto e não somente
para uma pessoa, como no caso do dono das lojas Renner, que não pode pagar
sozinho pelo envolvimento de mais outras pessoas que teriam igualmente assinado
o manifesto.
A propósito,
diga-se de passagem, que o documento em questão se trata de medida absolutamente
válida, no âmbito da democracia, sob o pálio do direito de expressão, no que
diz respeito à liberdade de pensamento e opinião, apenas o seu desiderato pode
ser considerado divergente sob a avaliação
da fiel militância progressista.
Ou seja,
a represália em apreço não faz o menor sentido, por se tratar de medida
absurda, sob o prisma da democracia, e ainda mais que os progressistas também
já se manifestaram, em contraposição à aludida carta, sob a proteção dos mesmos
princípios de opinião e pensamento, no salutar esteio da democracia.
Enfim, apelam-se
no sentido de que prevaleçam, na disputa eleitoral, os melhores sentimentos de bom
senso, sensibilidade e justiça, também por parte dos fiéis seguidores
progressistas, que procurem agir com espírito de racionalidades cívica e humana,
em especial, procurando avaliar precisamente as suas intenções de castigo, quando for realmente o caso, de
modo que isso somente atinja quem realmente mereça, evitando a generalização prejudicial
aos interesse da sociedade.
Brasília, em 6 de agosto de 2022
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