sábado, 6 de agosto de 2022

Por que a represália?

Em vídeo que circula nas redes sociais, um cidadão faz veemente apelo ao povo para não comprar nas lojas Renner, sob a justificativa de que o dono dessa empresa assinou o manifesto a favor da democracia, que tem por objeto atingir o presidente da República.

Ou seja, o objetivo do aludido apelo é uma forma de represália ao empresário, por ele ter aderido à manifestação conhecida como documento a favor da democracia, que queira ou não, é forma natural do exercício de cidadania, sob o prisma dos princípios democráticos com aderência primária nas liberdades de pensamento e expressão, que tanto os bolsonaristas vêm reclamando que querem tirá-los deles.

          No popular, esse é o apelo que pode ser considerado de dois gumes, em que se pretende a formalização de revide, de autêntica represália ao proprietário das lojas Renner, por ele ter sido signatário da carta conhecida como apelo à defesa da democracia, que até parece fazer algum sentido medida nesse sentido, notadamente em especial por parte dos fiéis seguidores do presidente da República, como caracterização clara de explícita desforra, que mostra o perverso sentimento originário das ideologias afloradas na atualidade, convertidas em agressões mútuas, que não levam a lugar algum, em termos de civilidade.

Essa verdade se contrapõe ao princípio democrático das liberdades de pensamento e de expressão, que os bolsonaristas se insurgem quando isso vem da esquerda, que tem já se tornou exemplo de apelação contra tudo.

Agora, à toda evidência, isso, por si só, já é muitíssimo grave, à vista de ir na contramão da imperiosa necessidade do aperfeiçoamento democrático, porém trata-se de sentimento mais do que patético, por ser apelo com viés de maior seriedade, porque ele diz com pretensão que pode levar à drástica diminuição das vendas da Renner, com possibilidade do surgimento de duas consequências vitais.

Uma delas é a ocorrência da necessidade do enxugamento do quadro de pessoal, que pode afetar o pão nosso de cada dia de muitas famílias, além da normal redução da arrecadação tributária dos governos, cujo reflexo é direto na prestação dos serviços da incumbência da União, dos estados e municípios, que dizem diretamente com a satisfação das necessidades básicas da população.

É preciso se pensar que seja normal e até justo se querer fazer justiça com as próprias mãos, como tem sido a diminuta e retrógrada mentalidade ideológica dos últimos tempos, mas é da maior importância que isso não possa prejudicar direta ou indiretamente quem não tem nada com a questão em si, como é o caso em comento, em que é imaginada medida para dar lição de comportamento, para prejudicar determinada pessoa, que age no seu direito de manifestação cívica, conquanto o efeito dela pode atingir, também de forma danosa sobre situações, com graves prejuízos para a sociedade.   

É preferível que o pretendido justiçamento seja feito por meio de medida que sirva de lição para quem somente possa ser merecedor de desprezo, castigo ou algo que o valha, segundo o pensamento de seu idealizador, mas também que essa lição seja extensiva para todos os participantes do manifesto e não somente para uma pessoa, como no caso do dono das lojas Renner, que não pode pagar sozinho pelo envolvimento de mais outras pessoas que teriam igualmente assinado o manifesto.

A propósito, diga-se de passagem, que o documento em questão se trata de medida absolutamente válida, no âmbito da democracia, sob o pálio do direito de expressão, no que diz respeito à liberdade de pensamento e opinião, apenas o seu desiderato pode ser considerado  divergente sob a avaliação da fiel militância progressista.

Ou seja, a represália em apreço não faz o menor sentido, por se tratar de medida absurda, sob o prisma da democracia, e ainda mais que os progressistas também já se manifestaram, em contraposição à aludida carta, sob a proteção dos mesmos princípios de opinião e pensamento, no salutar esteio da democracia.

Enfim, apelam-se no sentido de que prevaleçam, na disputa eleitoral, os melhores sentimentos de bom senso, sensibilidade e justiça, também por parte dos fiéis seguidores progressistas, que procurem agir com espírito de racionalidades cívica e humana, em especial, procurando avaliar precisamente as suas intenções de castigo, quando for realmente o caso, de modo que isso somente atinja quem realmente mereça, evitando a generalização prejudicial aos interesse da sociedade.    

          Brasília, em 6 de agosto de 2022 

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