quarta-feira, 24 de janeiro de 2018

A escravidão ao benefício

O presidente da Câmara dos Deputados disse que o Bolsa Família, muito importante, em termos de distribuição de renda às famílias da classe mais pobre, não é “bom programa social, por não ter mecanismos que permitam a independência de seus beneficiários.”.
O parlamentar fez a aludida afirmação durante discurso no Brazil Institute do Wilson Center, em Washington (DC), tendo complementado com o seguinte pensamento: “Criar um programa para escravizar as pessoas não é um bom programa social. O programa bom é onde você inclui a pessoa e dá condições para que ela volte à sociedade e possa, com suas próprias pernas, conseguir um emprego”.
Em entrevista depois do evento, o presidente da Câmara disse que o programa Bolsa Família apenas gera “dependência”, por não criar uma “porta de saída” para os participantes, porque “Essa dependência atrela as pessoas ao Estado.”.
O deputado fluminense defendeu mudanças no sentido de serem criadas obrigações em relação à saúde, educação e saneamento, que levariam as pessoas a serem “estimuladas a sair do programa”.
Na opinião do parlamentar carioca, a ausência de alguma forma de obrigação para os beneficiários os transforma em “dependentes”, que ficam acomodados, sem iniciativa para sair dessa cruel dependência.
O deputado entende que o Bolsa Família é um programa “liberal” e não de esquerda, tendo criticado a maneira como ele foi implementado pelo PT, ao dizer que “É engraçado que o Brasil cresceu tanto no governo do PT e o número de pessoas dependentes do Bolsa Família aumentou. Tem alguma coisa errada. Se o Brasil está ficando mais rico, por que há mais pessoas pobres dependentes do Bolsa Família? Essa era uma distorção grande.”.
O parlamentar considera que a principal questão, em relação ao programa, é a porta de saída para seus beneficiários, ao citar a seguinte situação: “Como é que você dá condições para o cidadão pobre brasileiro, que depende do Bolsa Família, que o filho dele tenha uma condição de escolaridade, uma condição de saúde, cursos profissionalizantes para que ele possa sair da dependência e possa gerar sua própria renda.”.
Assiste inteira razão ao presidente da Câmara, quando ele afirma que o Bolsa Família escraviza os beneficiários, em especial porque eles podem permanecer no programa, pasmem, até a criança se tornar adulta, aos 17 anos, enquanto os titulares ficam afastados do trabalho, escravizados ao benefício, sem produzirem absolutamente nada nem contribuindo para o desenvolvimento socioeconômico, como se fossem simples pesos mortos dependentes da sociedade que trabalha e produz.
É absolutamente inconcebível que os já sacrificados contribuintes sejam obrigados a sustentar uma multidão, uma legião de mais de cinquenta milhões de pessoas, ou seja, aproximadamente um quarto dos brasileiros como sendo dependentes dessa forma indiscutivelmente irracional de assistência, que é importante, em termos sociais, mas é preciso que o governo encontre alguma maneira racional, que possibilite a distribuição de renda mais efetiva e eficiente, de modo que o programa sirva como mecanismo verdadeiramente de assistência social e não de curral eleitoral, como ele tem sido usado, em clara demonstração de involução da aplicação de recursos públicos.
O Bolsa Família precisa ser redefinido, com o máximo de urgência, nas suas estruturas, de modo que o beneficiário possa entrar nele já sabendo que a sua permanência é transitória, enquanto ele se profissionaliza, se especializa por meio de reciclagem patrocinada pelo governo, que precisa criar estrutura para que ele seja encaminhado ao emprego, criando por meio de convênios firmados com essa finalidade.
Agora, na forma como o Bolsa Família funciona, que se amolda exatamente ao modelo próprio e adequado ao sistema populista de ser, com as características que se ajustam à conveniência da sua criação, com o formato para a constituição de verdadeiros currais eleitorais, para carrear votos aos candidatos de partidos que defendem com unhas e dentes os programas de cunho bem mais assistencialistas, realmente se trata de programa absolutamente distorcido da finalidade social de amparo que precisa funcionar de forma apenas momentânea, passageira, enquanto o beneficiário é preparado para o trabalho e ter condições de poder sustentar sua família, em condições próprias de dignidade e decência, porque é dessa maneira que o Bola Família precisa ser implementado, de modo que o dinheiro público possa atender realmente ao interesse público.
Além da eficiência da execução do Bolsa Família, como forma da obtenção de resultados essencialmente satisfatórios, em termos de se imprimir verdadeiro interesse pela dignificação e honradez às pessoas envolvidas, notadamente com a sua profissionalização e colocação no emprego, para que elas possam se sentir valorizadas, convém que o programa passe por recadastramento geral, como forma de se confirmar que as pessoas beneficiadas atendem realmente aos requisitos de pobreza, na forma preconizada na institucionalização do programa, porque é sabido que muitas pessoas estão recebendo, mesmo não satisfazendo às condições exigidas legalmente.  
É evidente que a transformação dessa mentalidade não vai ser tarefa fácil, principalmente porque os beneficiários não foram preparados para a verdadeira função dessa nova ideia de eficiência e efetividade de assistência social, que certamente já vem sendo aplicada normalmente nos países de mentalidade política bem desenvolvida.
É muito importante que seja implementada, na administração pública, gestão de resultados, com destaque para a efetividade e a economicidade, de modo que nenhum programa social possa conceder amparo financeiro por tanto tempo como o previsto no programa Bolsa Família, em que o beneficiário se torne verdadeiro escravo do Estado, sempre dependente dele, que não consegue criar condições para torná-lo instrumento de verdadeira ação social, além de também não se permitir que as pessoas se valorizem e se dignifiquem com a assunção de emprego, que somente será possível se houver interesse do governo em revolucionar os atuais métodos empíricos de execução do programa em causa. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 24 de janeiro de 2018

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