quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Por tratamento isonômico

Um deputado federal pelo PT-RS e um senador pelo PT-RJ entraram com representação no Tribunal Superior Eleitoral contra a TV Globo e dois apresentadores dos programas “Caldeirão” e “Faustão”, dessa emissora, sob a alegação da prática, em tese, de abuso dos meios de comunicação e de poder econômico.
Embora tenha negado que seja candidato à Presidência da República, no fluente ano, o apresentador do “Caldeirão” é alvo do processo por supostamente ter se beneficiado da participação no programa “Domingão do Faustão”.
Na representação, os líderes do PT na Câmara dos Deputados e no Senado Federal solicitam à Corregedoria Geral Eleitoral que seja declarada a caracterização de abuso de poder econômico e dos meios de comunicação, com a aplicação das penalidades de inelegibilidade do apresentador do “Caldeirão” ou da cassação do possível registro da sua candidatura, a par de requerer ainda o pagamento de multa por parte dos três acusados.
Os petistas alegam que, durante o programa, houve “demonização da atual política, dos políticos que a representam, dos pré-candidatos que ostensivamente já se apresentaram para a sociedade como postulantes ao cargo presidencial e, de forma subliminar, a exaltação da pré-candidatura de Luciano Huck”.
Eles ressaltam que boa parte do programa foi destinada à discussão de questão política, colocando um dos apresentares como figura “capaz de mudar a realidade vigente (…), diferente de tudo e de todos que aí se encontram”.
No entendimento dos parlamentares, a emissora promove a pré-candidatura do apresentador, de forma objetiva e direta, o que causa “interferência antecipada na lisura e na igualdade da disputa presidencial”.
Em novembro último, o apresentador do “Caldeirão” afirmou, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, que não participaria das eleições de 2018, como candidato ao Palácio do Planalto, mas, no questionado programa, ele não descartou a possibilidade de se candidatar no futuro.
Durante o programa, o apresentador do “Caldeirão” e a mulher, também apresentadora da mesma emissora, responderam a perguntas do público e, depois, foram questionados sobre política pelo apresentador do “Faustão”, o qual disse que “Minha missão esse ano é tentar motivar as pessoas a que votem com muita consciência e que a gente traga os amigos que estão a fim para ocupar a política, senão não vai ter solução. Eu nunca, jamais, vou ser o salvador da pátria e o que vai acontecer na minha vida eu também não sei. Eu amo o que eu faço, eu amo estar todo sábado na televisão, eu gosto muito de estar com as pessoas, de contar as histórias. Então, o que o destino e o que Deus espera para mim, vou deixar rolar”.
Não obstante, integrantes do Palácio do Planalto interpretaram a participação do apresentador do “Cadeirão” no programa “Domingão do Faustão” como gesto político da Rede Globo.
Conforme a coluna Painel da Folha de S. Paulo, os membros do governo afirmam que “do ponto de vista do marketing, a apresentação dele como agente político ali foi muito melhor do que em qualquer programa partidário”.
Diante da repercussão, a emissora divulgou nota em que diz que proíbe funcionários que participarão das eleições de aparecer na programação e que “A TV Globo reitera que não apoia qualquer candidato e que se limitará a realizar a cobertura jornalística das eleições de 2018, seguindo as regras de seus princípios editoriais”.
Apesar da nota da emissora, governistas avaliam que a entrevista do apresentador repercutirá nas próximas pesquisas de opinião, principalmente com relação às duas frases do apresentador do “Caldeirão”, que têm aparecido com frequência nas redes sociais do Agora!, grupo liderado por ele, nestes termos: “Não existe salvador da pátria na política” e “Construímos muitos muros e poucas pontes”.
Lendo, atentamente, a representação dos parlamentares petistas contra as pessoas e empresa de comunicação nela indicadas, que estariam antecipando a discussão sobre a candidatura à Presidência da República, não tem como não deixar de se reportar às caravanas já promovidas pelo partido deles.
Nessas caravanas, o principal político do país se lança, às claras, em verdadeiro comício antecipado, com palanque, carreata e discursos, sempre atacando os adversários, a imprensa, o Ministério Público e a Justiça Federal, na tentativa de mostrar que ele foi julgado e condenado à prisão mesmo sendo inocente, diante da falta de provas, aproveitando para se apresentar aos seus eleitores como vítima e perseguido para não o deixar ser candidato ao Palácio do Planalto.
          Ocorre que chega a ser risível se imaginar que, se as referidas caravanas petistas fossem realizadas por adversários políticos, qual seria o tamanho da encrenca arranjada por eles, que simplesmente entendem que elas, feitas pelo PT, são absolutamente normais e regulares, em respeito à legislação eleitoral, embora os demais candidatos tenham sido indiscutivelmente prejudicados, por não terem promovido caravanas semelhantes e nem se beneficiaram de programas antecipados.
Na verdade, os adversários não tiveram contato com os eleitores deles, cujo resultado desses encontros pode ter influência nas pesquisas de intenções de voto, onde o pré-candidato petista se desponta entre os demais e mantém a liderança, que é alardeada como troféu até mesmo em contraponto aos julgamentos das ações em tramitação na Justiça, sob a alegação de descaso por parte dela, que não leva em consideração a notória preferência do eleitorado, que quer que ele seja o próximo presidente do país, embora, nas condições atuais, o petista não preenche os requisitos de moralidade, idoneidade e conduta ilibada, compatíveis, em termos de legitimidade e dignidade, com o exercício da relevância do principal cargo da República.
Conviria que a Justiça Eleitoral se esforçasse no sentido da regulamentação sobre o que os homens públicos podem ou não fazerem enquanto a campanha eleitora ainda não tenha sido iniciada, na forma da lei, de modo que eles respeitem fielmente os limites e as condições permitidos antes do pleito, a fim de que possa haver lisura e igualdade de tratamento entre todos, na disputa presidencial, não sendo permitido que haja abuso nem beneficiamento por arte de nenhum dos candidatos. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 11 de janeiro de 2018

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